Capítulo 5 — "É ela?"

POV Killian

O peso de Beatriz nos meus braços era mínimo, mas cada passo que eu dava pelo corredor parecia carregar o peso da minha irritação. Sabia muito bem que ela não estava machucada, reconheço uma atuação quando vejo uma.

Assim que a porta do meu escritório se fechou, deixei-a cair de propósito, sem nenhuma cerimônia. Ela deu um pequeno grito surpreso, mais por drama do que por dor.

— Killian! Você poderia ter mais cuidado!

Ignorei o olhar reprovador dela enquanto me afastava para trás da minha mesa.

— Poupe-me. Nem você acredita nisso.

Ela se aproximou, fingindo uma claudicação que não existia, os dedos deslizando pela borda da mesa em minha direção.

—Você não sente nada por mim? Eu, Beatriz Argento, sou a sua noiva!

Ri baixinho, sem humor, — O nosso casamento é um contrato. Nada mais. Você cumpre seu papel em público, e eu tolero sua presença, mas não espere que isso vá além de uma aliança no papel.

Seus olhos estreitaram, a máscara de inocência se desfazendo por um segundo.

— Então por que ainda me protege?

— Porque é conveniente.

Conveniente. A palavra saiu fria, mas dentro de mim pesava como uma corrente.

Eu sabia muito bem que aquela união não era apenas um capricho. Foi através do poder da família dela que consegui derrubar o império podre do pai de Amara e abrir meu próprio caminho. Beatriz era a chave que me garantira o trono, e por isso, de certa forma, eu estava condenado a suportar sua influência. Um jogo perigoso: sem interesse, sem afeto, mas com a consciência de que ainda não podia me dar ao luxo de levá-la ao extremo.

Beatriz se aproximou, o olhar provocante tentando penetrar a barreira que eu havia erguido.

— Você não sente desejo por mim? Não há nada que possa nos unir além desse contrato?

Desejo... essa palavra me fez lembrar daquela noite, a última noite com Amara. A pele dela, os cabelos ruivos dela, o olhar dela... Mas, de repente, não sei por quê, a imagem daquela faxineira de agora pouco surgiu na minha mente.

Por que estou pensando assim?

Parece que Beatriz interpretou meu silêncio como rendição. Vi que um sorriso satisfeito curvou seus lábios, como se tivesse acabado de abrir uma brecha em minha armadura.

— Então, há uma chance para nós, não é? Podemos fazer isso funcionar. Vou comprar algumas roupas, você com certeza vai gostar. Aí veremos.

Balancei a cabeça devagar, afastando o pensamento sobre como usá-la como munição no futuro.

— Não se iluda, Beatriz. O que temos é apenas um acordo.

Mas ela não ouviu nada, já tinha saído correndo toda empolgada, esquecendo completamente que há pouco tinha caído gravemente.

Beatriz não é insuportável, mas para mim o casamento sempre foi uma ferramenta. Antes, era a lâmina da vingança; agora, é o degrau para o sucesso... O resto, não é necessário.

Na manhã seguinte, sem perceber muito bem por quê, dei por mim parado diante da porta do setor de limpeza. Como se meus pés tivessem decidido sozinhos.

O supervisor apareceu apressado, quase tropeçando nos próprios sapatos. Assim que me viu, abriu um sorriso bajulador.

— Senhor Navarro! Resolvi o problema de ontem, pode ficar tranquilo. Dei uma boa bronca naquela mulher. Como ousa encostar um dedo na sua esposa? Mostrei a ela o lugar dela. Não apenas isso: mandei embora na mesma hora, para dar o exemplo.

Ele falava rápido, inflando o peito, como se esperasse um tapinha nas costas.

Eu o encarei em silêncio, deixando que as palavras se dissipassem no ar pesado do corredor. A cada segundo, o sorriso dele murchava.

— Está dispensado. Sai daqui.

— S-senhor? — a cor desapareceu do rosto dele. — Mas…

Meu olhar foi suficiente para calá-lo. Ele engoliu em seco, saiu tropeçando, como um animal ferido tentando escapar do predador.

Quando voltei para o escritório, ordenei imediatamente ao meu assistente Leo, — Localize a funcionária do incidente de ontem. Quero que ela volte. Amanhã.

Ele me olhou como se tivesse ouvido errado.

— Tem certeza, senhor?

— Faça. — Minha voz não deixava espaço para perguntas.

Fiquei à janela, observando a chuva riscar o vidro. Sem entender por que aquela mulher ainda me atravessava a mente como uma sombra que eu não conseguia afastar. Ainda não sabia por quê, mas precisava vê-la outra vez.

***

POV Amara

Quando entrei na empresa, os olhares curiosos dos colegas queimavam minha nuca… Ontem eu ainda era uma faxineira demitida, e hoje estava sendo recebida com tanto respeito pelo assistente do CEO.

Ontem, quando Leo me ligou dizendo para eu voltar ao trabalho, eu também fiquei confusa. Eu pretendia abrir mão daquele trabalho para ficar bem longe de Killian, mas mesmo que eu voltasse, não iria encontrá-lo novamente, pois nunca estaríamos no mesmo andar.

Segui Leo até o elevador, mas percebi que não havia botões de andares. Depois de um tempo, notei que estávamos parando no último andar do prédio, o andar executivo.

— Senhor, este não é o andar em que trabalho…

— Antes de começar, o nosso CEO precisa falar com a senhora.

Meus olhos se arregalaram e meus dedos tremeram levemente.

— Por que ele quer me ver? — perguntei, a voz saindo mais rouca do que eu esperava.

— Isso a senhora terá que perguntar ao próprio senhor Navarro.

Coloquei apressada a máscara de limpeza, torcendo para que aquele pedaço de tecido pudesse me esconder completamente.

Leo bateu na pesada porta de madeira. De dentro, veio uma voz grave e familiar:

— Entre.

E então, lá estava ele.

De costas para a porta, sua silhueta imponente cortando a luz dos janelões. Quando se virou, seus olhos escuros perfuraram-me com uma intensidade que fez meu estômago embrulhar.

— Você...

Uma só palavra. Dois meses de segredos, medo e um bebê crescendo em meu ventre se precipitaram naquele instante. Apertei os punhos, preparada para correr, lutar ou desabar.

Seus olhos baixaram por um segundo, rápido demais para ser intencional, em direção à minha barriga ainda discreta.

— Kamala.

O escritório ficou pequeno quando Killian pronunciou meu nome falso com aquela voz grave que fazia meu corpo trair minha mente.

Ele estudava cada detalhe meu, da posição defensiva dos ombros até a forma como minhas mãos tremiam contra a parede.

Três passos. Foi o que ele precisou para me encurralar. Seu braço esquerdo formou uma barreira de terno negro ao lado da minha cabeça, o tecido caro tocando meu cabelo. O calor do corpo dele me envolvia, uma contradição com a parede gelada que me comprimia.

Pela primeira vez, senti a cicatriz latejar sob o olhar alheio.

A mão direita se elevou lentamente, seus dedos longos pairando no ar antes de se aproximarem da máscara que escondia meu rosto.

Ele não sabe, tentei me convencer, mas meu corpo sabia a verdade. Desde o primeiro dia, em que me tocou pela primeira vez, Killian nunca esqueceria como meu pulso acelerava sob seus toques.

A sala sumiu no meu campo de visão. Tudo se reduziu à mão dele, aos poucos centímetros entre segredo e verdade, entre "Kamala" e Amara.

No final, a mão dele tocou minha máscara. 

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