O salão de eventos do luxuoso Hotel Del Mare, em pleno centro financeiro da cidade, estava lotado. O coquetel era chique, o tipo de ambiente com champanhe francês, executivos engravatados e sorrisos milimetricamente falsos. Mas para Ethan e Helen Carter, aquilo era mais do que uma noite de networking.Era o cenário perfeito para realizar uma fantasia.Ela usava um vestido preto de cetim, justo, com um decote nas costas que provocava arrepios. Nada vulgar, tudo insinuante. Cada passo dela era um convite. O batom vermelho escuro, o olhar malicioso. E o mais importante: sob o vestido, nenhuma calcinha.Ethan sabia. Ela fez questão de sussurrar em seu ouvido no carro:— Estou obedecendo ao seu comando. Estou completamente exposta… e toda sua.Ele havia engolido em seco, os dedos apertaram o volante com força. Agora, caminhava ao lado dela pelo salão, cumprimentando sócios e diretores, mas com o pensamento em chamas. Helen era a própria perdição em salto alto.— Você está me torturando. —
Ethan Carter não era um homem fácil de surpreender.Ele controlava tudo. O tempo, os números, as pessoas. Estava acostumado a estar à frente, prever, planejar. Mas naquela noite… ele não tinha ideia do que Helen havia preparado.Tudo começou com um simples envelope deixado sobre a mesa do escritório em casa, onde ele revisava documentos com a concentração de um cirurgião em operação.Ao abrir, encontrou um bilhete escrito à mão:“Hoje você não vai controlar nada. Vista-se como se fosse me encontrar para jantar. Mas venha sozinho. Sala 408. Às 20h. E não se atrase.”Nenhuma assinatura, nenhum emoji. Nada além da caligrafia perfeita de Helen.Ethan sentiu a espinha arrepiar.Ele olhou para o relógio. 19h32, fechou o notebook e correu subindo as escadas. Em questão de minutos estava debaixo do chuveiro, sentindo o coração acelerado, como se estivesse prestes a cometer um crime. Um sorriso apareceu em seu rosto. Ela estava tramando algo, e ele mal podia esperar para ser a vítima.Às 19h58
Era uma sexta-feira à noite e tudo o que Helen queria era uma coisa: um cinema, um balde de pipoca maior que o bom senso e a companhia do homem mais teimoso, sarcástico e delicioso que já havia cruzado seu caminho: seu marido.— Vai se arrumar, chatinha — ele tinha dito mais cedo, com aquele sorrisinho torto. — Hoje você é minha namoradinha.Ela fingiu surpresa, jogando o cabelo para o lado com ar dramático.— Nossa, que honra! Mas você vai me levar pra onde? Um rodízio de pizza ou no drive-thru da esquina?— Cinema. Pipoca amanteigada e refrigerante que faz arrotar. Tudo incluso.— Meu Deus. Tá tentando me conquistar?— Helen… Eu te conquisto toda vez que respiro.Helen estava usando um vestido simples, porém justo, daqueles que Ethan sempre fingia odiar, mas que não conseguia desgrudar os olhos. Ele, por sua vez, usava jeans e uma camiseta preta, básica, mas o maldito conseguia fazer aquilo parecer desfile de passarela.Chegaram ao shopping de mãos dadas. O cinema estava cheio, mas
Cinco meses.Cinco malditos meses desde que Ethan Carter ousou me apagar da vida dele como se eu fosse um erro de digitação.“Acabou Miranda.”Foi a mensagem que recebi, a única, há cento e cinquenta e dois dias. Desde então, o silêncio.E eu não sou uma mulher feita para o silêncio.Estou parada na calçada, minhas mãos fechadas dentro do casaco de couro como se, com força suficiente, eu pudesse esmagar a raiva que pulsa dentro de mim. O frio da noite de outono morde a pele, mas é o calor do ódio que me mantém de pé.Acho que fui estúpida demais. Estúpida por pensar que poderia desaparecer por um tempo e, quando voltasse, ele ainda estaria lá, como sempre esteve. Ethan me desejava, disso eu nunca tive dúvidas. Eu via nos olhos dele. Via na forma como me olhava, como seu corpo reagia ao meu. Ele me desejava como se eu fosse a última mulher do mundo.Mas o desejo é frágil.E homens fracos, como Ethan se revelou ser, se agarram à primeira ilusão de paz que encontram. E é exatamente isso
Helen sentiu o peito se contrair no instante em que seus olhos pousaram sobre a fotografia. O mundo ao seu redor silenciou, como se o próprio tempo a suspendesse naquele exato momento de agonia. O sorriso de Ethan na imagem, sua expressão relaxada ao lado de Miranda, a maneira como seus corpos pareciam confortáveis um com o outro… cada detalhe perfurava sua alma como estilhaços de vidro.Seu coração martelava dentro do peito, não de surpresa, mas de uma dor sufocante, excruciante. Porque, no fundo, ela sempre soube. Sempre soube que Ethan nunca a quis. Sempre soube que, se pudesse escolher, ele estaria ao lado de Miranda, vivendo o sonho dourado que nunca pôde ter. E agora, ele estava ali, mostrando ao mundo, sem qualquer pudor, que ainda a desejava.O contrato entre eles nunca envolveu amor, mas Helen o amava. Amava Ethan de uma forma que a destruía pouco a pouco, que sugava sua alma a cada dia. Nunca quis esse casamento, mas quando foi obrigada a aceitar, agarrou-se à esperança de q
O telefone de Helen tocou logo pela manhã, interrompendo o silêncio tranquilo de seu apartamento. Sua voz suave atendeu o chamado, mas o tom firme e urgente de seu pai do outro lado da linha a deixou em alerta.— Helen, preciso que venha à empresa agora. É urgente.Ela conhecia bem aquela voz fria e autoritária, mas o que a diferenciava de todos os outros era sua capacidade de enfrentar o pai sem abaixar a cabeça. Sempre o fez com elegância e gentileza, porque essa era a sua essência: uma mulher doce, generosa, mas forte.Vestiu-se com um conjunto elegante, mas simples, composto por uma blusa creme delicada e uma saia lápis que moldava seu corpo de maneira sutil. Os cabelos dourados e ondulados caíam livremente sobre os ombros, e os olhos azuis brilhavam com uma mistura de apreensão e determinação. Helen era a mulher que sempre sorria para os outros, sempre buscava o melhor nas pessoas, mesmo quando o mundo parecia desmoronar ao seu redor.Enquanto caminhava para o prédio de vidro imp
O elevador desceu lentamente, cada segundo fazendo o peito de Helen apertar mais. Mas ela se recusava a demonstrar fragilidade. Sempre foi uma mulher determinada, forte, disposta a enfrentar qualquer coisa para alcançar seus objetivos. E agora, não seria diferente.Helen repetia para si mesma: É só um contrato, só negócios. Mas, no fundo, aquilo era muito mais. Era sua chance de provar que Ethan estava errado. Que ela não era apenas uma mulher frágil apaixonada por ele. Que ela era muito mais do que a garota previsível que ele sempre viu.O amor que sentia por Ethan era algo que ela havia aceitado muito tempo atrás. Uma chama persistente que não se apagava, mesmo diante da frieza dele. Mas Helen jamais imploraria por afeto. Ela não se humilharia por um homem, por mais que o amasse.Quando as portas do elevador se abriram, ela inspirou fundo e caminhou com passos firmes até a sala de reuniões. Ethan já estava lá, sentado, com a expressão carrancuda, o olhar glacial e os ombros rígidos
A igreja estava impecável, um verdadeiro cenário de sonho. Lustres imponentes lançavam sua luz dourada sobre o altar, onde flores brancas decoravam cada canto, simbolizando pureza e renascimento. O som delicado dos violinos preenchia o ambiente, criando a atmosfera perfeita para um casamento digno de contos de fadas.Mas para Helen, aquilo era um teste. Um desafio que ela estava disposta a enfrentar. Não fugiria, não se lamentaria. Iria provar para Ethan que ele estava errado.Cada passo pelo tapete vermelho era dado com firmeza. Não era medo que a movia, era convicção. Convicção de que estava ali por escolha própria, de que amava Ethan e não se deixaria intimidar pela frieza dele.O braço firme do pai a conduzia em direção ao altar. Ela o segurava com força, não para se apoiar, mas para manter o controle absoluto sobre si mesma.E então, lá estava ele: Ethan Carter.Impecável. Inalcançável. Indiferente.O terno preto de corte perfeito moldava seu corpo com uma elegância quase cruel.