Quando Karina abriu a porta e viu Ademir, ficou paralisada por um momento.Era ele.Que coincidência, ele veio por conta própria hoje.— Karina.Ademir não se apressou em entregar a marmita, e com os olhos profundos, olhou para ela com seriedade.Era como se um gato tivesse avistado um peixe...— A neve está muito forte hoje.— Sim. — Karina respondeu um pouco devagar, assentindo. — Daqui a pouco, quando sair, dirija com cuidado...— Tá bom.Ademir ainda não havia entregado a ela a marmita, mas deu a volta nela, caminhando diretamente para dentro.Parou diante do armário de sapatos, ficou ali por um segundo.Então, perguntou:— Meus chinelos ainda estão aqui?Karina não sabia como responder, na verdade, os chinelos dele já não estavam mais ali.— Entendi. — Ademir deu um sorriso de canto e, tirando os sapatos, foi caminhando com as meias para dentro. — Estão pesados, vou colocar tudo no lugar e já vou embora.— Ah, obrigada.Karina o seguiu para dentro, observando ele tirar todos os pr
Dizendo isso, ela já havia pegado um pedaço de carne, pronta para colocá-lo em seu prato. Mas, para sua surpresa, Ademir abriu a boca para ela. O significado era claro: ele queria que Karina o alimentasse diretamente. Karina hesitou. Ela tinha algo a pedir a ele e queria agradá-lo. Mas alimentá-lo assim era um pouco... — Vamos, logo. — Ademir apressou ela, sem perceber o desconforto da mulher. — Minha boca já está cansada. Você realmente quer que eu coma ou não?Karina então colocou a carne em sua boca. Ademir fechou os olhos em satisfação, com os cantos dos olhos e as sobrancelhas sorrindo. — Está delicioso.Karina sorriu sem entusiasmo, querendo falar sobre Paulo, mas não conseguia encontrar as palavras.Logo, a refeição estava quase no fim. Ademir largou o prato e disse:— Estou cheio...Ele ia embora? Mas ela ainda não tinha falado nada.— Beba uma tigela de sopa. — Karina pegou seu prato e serviu-lhe uma sopa. — A sopa que Wanessa fez é deliciosa.— Sim. — Ademir sorriu. — W
Ao ver Karina tão chateada, Ademir suspirou profundamente. Ele não havia feito nada, mas parecia que tinha acabado de prejudicá-la.— Você já entendeu, não é? — Ademir suspirou novamente, claramente frustrado. — Você, Karina, ainda não entendeu nada.Karina de repente ergueu a cabeça, confusa. O que isso significava?— Karina, eu vou ajudar. — Ademir, sem paciência, interrompeu seus pensamentos. Seu tom era de uma rendição resignada. — Eu só preciso que você entenda uma coisa: embora pareça que para mim seja fácil, na verdade, a energia que foi necessária para fazer isso não foi nada pouca. Eu não estou fazendo isso por ele, Karina. Se não fosse por você, eu não teria nem me envolvido. Entendeu?Ele disse tudo de maneira tão direta que, se ela ainda não entendesse, seria tolice.Karina concordou com a cabeça, agradecida.— Eu sei, me desculpe por te dar tanto trabalho, mas eu...Ela não podia simplesmente ignorar a situação.Se Paulo fosse preso por causa disso, como Patrícia ficaria?
O quê? Filipe não acreditava: — Como assim, é impossível! — O que tem de impossível nisso? — Patrícia olhou ele com um olhar penetrante. — Será que na Cidade J só você, Sr. Pinto, é a pessoa capaz? Não estou pedindo a sua ajuda, eu tenho quem me ajude! Quem poderia ajudá-la, claro, era Karina. — Não vá embora! — Filipe agarrou com força o pulso de Patrícia, demonstrando raiva. — Quem? Quem é essa pessoa capaz? O Simão? Impossível que seja ele! A família Nogueira, no círculo de nobres da Cidade J, não estava entre as mais influentes. Além disso, ele havia dado instruções claras ao irmão de que Paulo deveria ouvir a opinião de Filipe sobre o assunto! O irmão de Filipe sempre foi muito bom com ele, nunca falaria uma coisa e faria outra. — Como não seria possível? — Patrícia, já irritada com a atitude arrogante dele, continuou: — O que tem o Simão? Por que você o despreza tanto? Ele é bonito, inteligente, tem boa família! Em tudo ele é melhor que você! Após essas palavr
Dois sons aos ouvidos. Um era de Patrícia, o outro de Ademir. “Já chegaram? O dia amanheceu?”Karina franziu a testa, abriu os olhos cansada, o sono ainda não havia se dissipado, e sua consciência estava confusa quando disse, com dificuldade: — Patrícia, você chegou, por que não acendeu a luz? Acenda a luz, está muito escuro, não dá para ver nada. Ao ouvir isso, Ademir e Patrícia ficaram surpresos. Patrícia levantou os olhos e olhou para Ademir, espantada, sem saber o que dizer. O que estava acontecendo com Karina? A luz não estava acesa? Além disso, a luz da neve lá fora iluminava tudo, estava tão claro. E ela estava dizendo que estava escuro... E Ademir estava ainda mais assustado, seu semblante mudou, mas ele se esforçou para manter a calma e se abaixou na frente de Karina. Levantou a mão e agitou diante dos olhos dela: — Karina? O que aconteceu com ela? Não pode estar assustando Ademir assim. Karina inicialmente achou que estava tudo escuro à sua frente e se
Karina, raramente, não retrucou.Ela parecia um pouco frustrada:— Eu sei que está errado, mas não consigo controlar. Eu tenho medo...Medo de que algo aconteça com o Catarino. Até a menor das cirurgias tem seus riscos!Se realmente acontecer algo, e o Catarino se machucar, ela nunca vai se perdoar por isso, por toda a vida!À medida que falava, seus olhos se encheram de lágrimas.Ademir sentiu uma dor imensa no coração por ela.Ele se conteve, mas não conseguiu evitar. Se curvou e a abraçou fortemente.— Não tenha medo, a responsável pela cirurgia não é a colega do Dr. Felipe, uma médica famosa da cirurgia hepática e biliar?— Sim. — Karina, do ponto de vista técnico, confiava totalmente.Mas, do ponto de vista de uma irmã, ela não conseguia ser completamente racional.— Veja bem, o hospital tem tecnologia, nós temos dinheiro. — Ademir tentou acalmá-la, brincando um pouco. — O que mais teríamos que temer?Finalmente, Karina sorriu.— Fico feliz em ver você sorrindo, não fique tão tens
Na sala de hemoterapia, o médico entrou com a bandeja de tratamento para coletar o sangue. A tipagem já tinha sido feita de urgência, e os resultados eram compatíveis.Ademir arregaçou a manga e deixou que o médico escolhesse a veia, passando o desinfetante.— Sr. Ademir, Sra. Barbosa, qual a quantidade de sangue que pretendem retirar?— Quanto é geralmente retirado?O médico olhou rapidamente para Karina:— Pergunte à Sra. Barbosa, ela é quem mais entende disso.— Karina?Karina mordeu levemente os lábios e explicou:— Teoricamente, é entre 200 e 400 mililitros, mas geralmente retiramos 200 mililitros. A não ser que a pessoa tenha uma saúde excepcional.— Entendi. — Ademir não deu muita importância ao assunto e fez o pedido ao médico. — Então, retire 400 mililitros.— Isso... — O médico hesitou. — Sr. Ademir, geralmente aceitamos retirar 400 mililitros de pessoas com um peso mais elevado ou com saúde excepcional.Karina pensou o mesmo e comentou:— 400 mililitros é demais.— Não é de
— Não pense bobagem, Sr. Ademir não disse nada errado. Salvar vidas não tem certo ou errado. — Patrícia a consolou. — Catarino vai ficar bem. Ele tem uma irmã que o ama, ele vai superar isso.— Eu espero que sim. Uma hora depois, a porta da sala de cirurgia se abriu novamente. Era a mesma enfermeira de antes.— Dra. Costa.— E então? — Karina sentia seu coração bater forte, quase saindo do peito.— A artéria principal já foi suturada. Pode ficar tranquila. — O tom da enfermeira parecia bem mais leve do que antes. — A cirurgia de Catarino foi concluída, ele está saindo agora. Ao ouvir essas palavras, Karina finalmente relaxou. A tensão que a dominava foi, enfim, aliviada.— Muito obrigada, por ter vindo pessoalmente. — Não há de quê, somos do mesmo hospital. Na verdade, a enfermeira não tinha obrigação de vir até ali apenas para confortar os familiares. Isso só aconteceu porque Karina era funcionária do hospital. Não teve nada a ver com a posição de Ademir.— Dra. Costa, vou deixar