Capítulo 49 Isaac Aubinngétorix O salão ainda pulsava com música, risos contidos e taças tilintando em mãos que não sabiam do que era feito o silêncio. Mas o meu mundo... havia emudecido. Ela se foi. Maeve desapareceu entre as sombras douradas das colunas e os sorrisos educadamente falsos dos convidados, como se nunca tivesse estado ali. Como um fantasma ferido. E eu fiquei, estático, prisioneiro do meu próprio corpo, sentindo o eco de cada passo dela se distanciar como uma acusação. Minha mãe falava com Arlene ao fundo, num tom calmo demais, domesticado demais, como se nada tivesse acontecido. Como se não tivesse acabado de jogar uma bomba sobre tudo o que eu e Maeve havíamos construído — ou, ao menos, tentado construir. Minha mão foi até o anel. A aliança que ela havia me dado. Simples. De prata escurecida. Gravada por dentro com uma frase que só nós dois conhecíamos. Uma promessa silenciosa. E ali estava ela. No meu dedo. Oculta pela formalidade do traje, escondida por trá
Capítulo 50Maeve Jhosef A cidade ainda estava acordada quando saí do carro, mas eu não. Dentro de mim, tudo parecia suspenso — como se algo tivesse quebrado, e eu tentasse colar os cacos com a ponta dos dedos.Não fui para casa. Não quis olhar para aquele sofá onde dividimos risos depois de longas reuniões, nem para o lençol que ainda guardava os vestígios do amor que fizemos na manhã anterior. A dor pulsava muito perto da superfície e, pela primeira vez em muito tempo, minha alma clamava por colo.Pelo colo da minha mãe.— Maeve?A voz dela soou surpresa quando abri a porta da antiga casa. Era tarde, eu sabia. Mas minha mãe sempre teve o sono leve — como se, mesmo dormindo, estivesse pronta para me acolher.— Mãe... — murmurei, a garganta apertada.Ela não perguntou nada. Apenas abriu os braços. E eu desabei.Me aninhei contra seu peito, como fazia quando era criança, e chorei. Chorei sem explicar, sem justificar. E ela apenas me segurou, acariciando meus cabelos com aquela calma s
Capítulo 51 Maeve Jhosef As luzes frias da sala de reuniões pareciam refletir o que eu tentava esconder: um desconforto que me escorria pelas veias feito chumbo derretido. Estávamos todos reunidos para revisar os relatórios do primeiro trimestre e discutir os rumos do novo projeto de expansão — rostos alinhados, frases precisas, e números voando pela mesa como lâminas.Mas nada — nada — conseguiu prender minha atenção quando ele entrou.Isaac.Impecável em sua camisa branca dobrada até os cotovelos, o blazer pendurado despreocupadamente no antebraço, o olhar firme e calculado que tantos admiravam e temiam. Mas o que capturou a sala inteira — inclusive a minha respiração — foi o brilho discreto, porém inegável, em sua mão esquerda.A aliança.A aliança que eu comprei. Que eu escondi como um segredo precioso, como um sussurro eterno entre nós dois.E ele a usava agora, sob as luzes duras do conselho, diante de todos.Os cochichos começaram antes mesmo que ele se sentasse.— “É uma ali
Capítulo 52 Isaac Aubinngétorix A noite caiu com lentidão sobre Washington, mas dentro de mim, tudo parecia urgência.Aquela conversa entre Maeve e minha mãe - ainda que ela não tivesse me contado os detalhes - pairava entre nós como uma nuvem carregada prestes a desabar. Eu sentia. Pelos olhos dela. Pelo silêncio que vinha desde a reunião. Pela ausência de suas perguntas, que antes chegavam como flechas precisas e agora me evitavam com uma diplomacia que doía mais do que confronto direto.Decidi que não podia deixar aquilo apodrecer.Mandei uma mensagem curta."Cabana. Hoje. 20h. Só nós dois. Precisamos conversar."Ela demorou a responder, o que me fez andar em círculos pelo apartamento como se estivesse novamente em campo, prestes a entrar numa missão sem mapa. Quando finalmente apareceu um "ok", meu corpo relaxou só o suficiente para que a ansiedade fosse substituída por uma tensão diferente: a de saber que, naquela noite, eu não podia mais me esconder.A cabana estava silenciosa
Capítulo 53 – Maeve Jhosef Fazia um mês desde a noite em que Isaac me amou com delicadeza pela primeira vez.Um mês desde que, no sussurro de um "ainda não", ele me prometeu um "um dia".Desde então, o mundo seguiu girando com sua violência sutil, mas Isaac…Isaac não tirou a aliança do dedo.Por mais que tentasse agir como se nada houvesse mudado, o anel que eu dei a ele parecia cravado em sua pele como um segredo sagrado. E era estranho — deliciosamente estranho — ver como o homem mais reservado que já conheci se recusava a escondê-la.Ele não a tocava. Não a ajeitava. Não a exibia.Mas ela estava ali, firme, visível, constante.E todo mundo começou a notar.Inclusive Arlene.Ela apareceu na empresa duas vezes naquela semana.Na terceira, foi barrada pela segurança.Isaac não autorizava mais que ela subisse. E embora não dissesse isso abertamente, todos os corredores da Jhosef Industries começaram a ecoar com a novidade: Isaac Aubinngétorix não estava mais disponível.— Você não e
Capítulo 54 – Isaac Aubinngétorix Um mês. Trinta dias inteiros em que eu precisei reaprender a respirar entre silêncios, entre toques guardados e palavras que só ganham voz entre paredes que sabem demais. Não deixei de usar a aliança nem por um instante. Nem quando minha mãe me encarou como se tivesse testemunhado uma traição, nem quando Arlene apareceu pela terceira vez no meu escritório com o mesmo vestido vermelho e a mesma pretensão arrogante. Aquela aliança me lembra quem eu sou — e quem eu escolhi ser. Maeve não é apenas minha promessa. Ela é minha revolução silenciosa. Meu lar. Meus pais acham que estão perdendo um filho. A verdade é que, pela primeira vez, eles estão vendo quem eu realmente sou. Longe do controle emocional que eles sempre tiveram sobre mim, assim como quando eu escolhi ir para o exército contra os protestos de minha mãe. — Você está mesmo disposto a jogar fora seu futuro por uma mulher que você mal conhece? — minha mãe me disse há dois dias. — V
Capítulo 55 – Isaac Aubinngétorix Foi como correr em direção ao desconhecido com o coração preso na garganta. A porta do banheiro feminino estava entreaberta. Havia algo de errado em tudo — no silêncio repentino que substituíra o som dos saltos de Maeve, no modo como ela levou a mão à boca, no branco que se instalou no rosto onde, até então, havia rubor e firmeza. — Maeve? — chamei, mesmo sabendo que era uma imprudência estar ali. Nenhuma resposta. Empurrei a porta devagar. O som da torneira aberta e um leve soluço abafado me guiaram até o fundo. Ela estava ajoelhada, apoiada na cerâmica fria, com os cabelos caindo pelos ombros como véus escuros de fragilidade. As mãos apertavam as bordas do sanitário com força, e seus olhos, quando me encontraram, estavam marejados — não de dor, mas de um susto maior que ambos queríamos admitir. — Estou bem — ela disse, a voz fraca, quase infantil. — Foi só... um enjoo. Me ajoelhei ao lado dela, ignorando o chão, o terno amassado, o mundo. —
Capítulo 56 Maeve Jhosef Acordei com a sensação de ser observada. Mas não com medo. Com ternura. Com aquele tipo de silêncio que pesa no ar quando há algo que ainda não foi dito, mas já se faz presente entre dois corpos debaixo do mesmo lençol. Isaac estava ali. Sentado à beira da cama, os cotovelos apoiados nos joelhos, o rosto voltado para mim — olhos tão claros quanto vazios de sono. Como se a madrugada tivesse se recusado a lhe emprestar descanso. Por um segundo, fiquei imóvel. Fingindo dormir. Fingindo não sentir a gravidade daquele momento. Mas então ele falou. — Está se sentindo melhor? Sua voz era baixa, mas carregava o peso de alguém que havia pensado demais. Engolido demais. Temido demais. Assenti vagamente, tentando me erguer sobre o travesseiro, mas o enjoo me lembrou que ainda não havia ido embora. Isaac esticou a mão, me oferecendo apoio, e seus dedos envolveram os meus com cuidado demais. Como se estivesse com medo de me tocar. — É só enjoo matinal... — mur