Maeve Jhosef Quando decidimos passar o resto da vida ao lado de alguém, não imaginamos que o “para sempre” venha carregado de reticências, silêncios e medos. Ainda mais quando essa escolha acontece depois da dor. Depois da morte. Eu e Isaac somos dois sobreviventes — do luto, da culpa, daquilo que nunca dissemos. Mas, de alguma forma, entre as ruínas de tudo o que perdemos, encontramos algo novo. Algo pequeno… que agora cresce dentro de mim. Olho meu reflexo no espelho. Minha mão repousa sobre a curva sutil que desponta em meu ventre. Ainda não é visível aos olhos apressados, mas eu a vejo. Eu o sinto. É nosso filho. O primeiro traço visível do amor que resistiu ao caos. Hoje será a primeira vez que o veremos. O som do seu coração, suas pequenas pernas talvez chutando de leve, sua existência pulsando em preto e branco na tela de um consultório. Um grão de esperança que já virou universo inteiro dentro de mim. Respiro fundo. Tento conter a emoção, mas ela me transborda mesmo quand
Capítulo 63 – Isaac Aubinngétorix “Alguns amores não fazem barulho. Eles apenas acontecem — como a respiração, como o tempo, como um milagre que ninguém ousa nomear.” Dois meses se passaram. Rápidos, intensos e suaves ao mesmo tempo. Como se a vida, cansada de tanto nos testar, estivesse finalmente nos concedendo trégua. Maeve agora caminhava com as mãos quase sempre sobre a barriga — um gesto instintivo, como se estivesse sempre protegendo o mundo inteiro. E talvez estivesse. Ali, dentro dela, pulsava uma nova vida. Nosso filho. Nosso começo. Havia um tipo de poesia em vê-la assim, todos os dias um pouco mais redonda, mais delicada, mais forte. Como se estivesse se transformando diante dos meus olhos, e ao mesmo tempo permanecesse ela mesma: selvagem, silenciosa, intensa. ** Decidimos nos casar no jardim dos pais dela. Nada grandioso. Sem listas de convidados intermináveis. Sem fotógrafos escondidos atrás de árvores. Apenas flores. Apenas o essencial. Apenas o que
Capítulo 64 – Maeve Jhosef "O amor verdadeiro não grita. Ele sussurra entre as dores, floresce no meio da ruína e permanece mesmo quando tudo o mais se vai." O dia amanheceu com um silêncio raro. O tipo de silêncio que não fere, mas embala. Que não pesa, mas acolhe. O vento dançava entre as folhas do jardim dos meus pais como uma bênção antiga, e as flores - ah, as flores... - pareciam mais vivas do que nunca. Talvez soubessem que estavam testemunhando algo que vai muito além de um simples "sim". Eu ainda me lembrava de tudo que perdemos. Ainda carregava os fantasmas. Mas, naquele dia, vesti meu vestido leve como quem veste uma nova pele. A pele da mulher que sobreviveu. Que amou e foi amada. Que caiu e levantou, mais de uma vez. Zola ajeitou meu cabelo com lágrimas nos olhos. Amanda não parava de sorrir. Minha mãe, ao me ver pronta, levou as mãos à boca e chorou como se me visse nascer de novo. E talvez visse. Quando caminhei pelo jardim, meus olhos só encontraram os
Epílogo – Anos depoisMaeve JhosefA vida acontece nas frestas.Não nos grandes gestos, nem nas palavras épicas que esperávamos dizer quando tudo passasse. A vida se esconde entre o vapor do café subindo pela manhã e o som leve da respiração de quem dorme ao nosso lado. Ela existe quando ninguém mais está olhando — quando o mundo desacelera o suficiente para que possamos ouvir o que está por trás do ruído.A vida acontece quando estamos distraídos.Quando as mãos se tocam sob a mesa da cozinha e o riso escapa sem que percebamos.Quando o medo já não dita o ritmo dos passos, e o amor, mesmo sem alarde, encontra lugar.Hoje, a casa cheira a lavanda e pão recém-assado.Noah Ezra corre pelo jardim com os pés descalços e o cabelo rebelde como os sonhos que cultiva. O avião de madeira — aquele que Isaac esculpiu numa madrugada silenciosa, entre o passado e a insônia — voa entre suas mãos como se tivesse vida própria.Ele ri.Um riso cheio, claro, que explode no ar como uma promessa quebrada
"Antes do Silêncio" — um romance que corta como a dor e cura como o amor.Em um mundo onde o luto pesa mais do que as palavras podem suportar, Maeve tenta sobreviver à ausência do homem que amou. Mas o destino, impiedoso e inesperado, a coloca frente a frente com Isaac — o irmão do seu amor perdido, o homem que carrega nos olhos segredos que queimam e silêncios que doem.Antes do Silêncio é uma história sobre perdas irreparáveis, promessas não cumpridas e um amor proibido que resiste mesmo quando tudo parece desabar. É sobre se reconstruir entre os escombros, redescobrir a vida entre cicatrizes e permitir-se amar quando o coração ainda sangra.Com uma narrativa poética, densa e visceral, Marjorye Sandalo entrega um romance intenso e inesquecível — daqueles que deixam marcas, que fazem chorar, que não se esquece ao fechar o livro.Se você acredita que até o silêncio pode contar uma história de amor, esse livro é para você. Sinopse Antes do silêncio, havia dor. Havia desejo. Havia e
Capítulo 1 “Às vezes, tenho a perturbadora sensação de estar sendo observada. Outras vezes, a estranha certeza de estar sozinha. Mas, em raros momentos… sinto que sou a própria escuridão.” — Marjorye Sandalo Maeve Jhosef O suor escorre pela minha testa enquanto dou os últimos toques no quadro. Cada pincelada parece arrancar algo de dentro de mim — como se a alma se dissolvesse junto às tintas. Dessa vez, a obra era diferente. Livre. Intensa. Uma libertação silenciosa em forma de flores e asas. — Querida, essa pintura está magnífica! — elogia minha mãe, com aquele sorriso que sempre me devolve o fôlego. — Talvez seja a mais delicada que já pintei — respondo, encarando os traços suaves nas pétalas e borboletas. Deixo os pincéis de lado e sorrio ao ver o lanche que ela trouxe. Penso, por um instante, como seria minha vida sem eles… e a resposta me assusta. — Você já tem uma coleção inteira, filha. Quando vai mostrar ao mundo? — Ela insiste com ternura. Sempre insiste. Sorrio d
Capítulo 2 A noite não é uma criança mimada sem sono; a noite é um lembrete de que mais um dia se findou sem a alegria de antes. Assim é o luto. — Marjorye Sandalo Maeve Jhosef Dois dias arrastaram-se sob o peso do silêncio, como se o tempo tivesse perdido a pressa de passar. E agora, novamente, era 04 de março — o dia em que a primavera floresce em cores intensas, como se o universo insistisse em contrapor-se à morte com sua explosão de vida. As borboletas dançavam no jardim como em todos os anos. E, como em todos os anos, uma lágrima solitária escorreu pela minha face assim que o sol tocou o horizonte. — Se um dia eu me casar, quero que seja na primavera, ao ar livre, para que possa ver as borboletas rodopiarem pelo ar enquanto eu digo um belo “sim” para a pessoa que será o amor da minha vida... — seu sorriso era uma aurora dentro de mim. Num impulso, deixei o coração falar. — Então case-se comigo... Vamos fazer como em A Princesa e o Sapo: nos casar no jardim da fazenda. Te
Capítulo 3 O desconhecido pode ser ainda mais assustador do que aquilo que mostra sua verdadeira face desde o início. — Marjorye Sandalo Maeve Jhosef A vida nunca foi um banquete gentil — e, mesmo quando se senta à mesa, nem sempre a fome é de comida. Ainda assim, surpreendi-me com o quão agradável foi reencontrar pessoas, ouvir vozes que um dia preencheram os corredores da juventude e, por instantes breves, fingir que o tempo não nos devorou. O que me surpreendeu mais, no entanto, foi ver o quanto todos haviam seguido em frente. Sorrisos leves, planos sólidos, amores novos e feridas que já não sangravam. Eu, entre eles, era a peça que ainda rangia — a estátua de sal tentando acompanhar o fluxo do mundo. Havia expectativa em seus olhos, embora ninguém ousasse dizê-lo em voz alta. Esperavam que eu amasse de novo. Que algum alguém me puxasse para fora do lodo onde me escondi por anos. Mas o fundo do poço tem camadas, e, ao que me parece, já escalei algumas delas: voltei a pintar,