Alejandro Albeniz Ir à delegacia não me trouxe nenhuma surpresa, agora eles levariam a sério a investigação do meu pai. O exame toxicológico mostrou uma alta dose de estricnina no sangue do senhor Albeniz. Um veneno biológico, altamente tóxico, que faz parecer que a pessoa morreu de taquicardia.Por mais que eu entendesse lá no Can Roca que meu pai foi assassinado, ter certeza me deu uma sensação de raiva e impotência. Aquele sentimento de que eu poderia ter evitado e, se eu o fizesse, meu pai agora estaria aqui.Eu fiquei um tanto incomodado com a postura do delegado em alguns aspectos, ele parecia banalizar tudo o que falei do Pavel e, principalmente, o fato de que alguém matou um cão e mandou a cabeça para Ximena dentro de uma caixa. Ele não ligou os fatos, ao menos foi essa sensação que me trouxe.O homem barbudo, aparentando ter uns 50 anos, ainda pediu que eu tivesse calma e não mandasse o Pavel embora. Tentando me convencer, ele até citou um ditado: “mantenha seus amigos por p
Ximena Valverde A água caía quente e relaxante do chuveiro, enquanto eu ensaboava as costas de Alejandro, ele me contava sobre a ida à delegacia e a leitura do testamento. Eu entendi o que ele estava tentando me dizer, em partes, eu concordava com sua revolta e até comungava desse mesmo sentimento. Alejandro praticamente foi roubado pelo pai ou o roubo foi praticado por Mercês usando algum método escuso. Deixa ele pôr para fora, desabafar era bom. Toda a sua mágoa tinha que ser expelida em forma de palavras, por isso eu estava sendo uma boa ouvinte. No entanto, quando ele insistiu em saber a minha opinião, eu fui o mais sincera que pude. — Entendo você querer justiça pelo seu pai, pelo Lito… Agora esse assunto se trata de dinheiro, você vai saber bem mais como lidar com essa situação do que eu. Realmente não me importo se você ficar pobre, aliás, acho que a sua desvinculação dessa gente seria algo bem positivo. — eu continuava ensaboando suas costas e fazendo uma breve massagem, t
Alejandro Albeniz Ximena estava estranha. Com a luz da casa toda apagada, somente a luz da TV iluminava o ambiente, o que não era da sua rotina. Minhas suspeitas de que algo não estava bem aumentaram quando ela veio com o assunto estranho. — Vou pedir demissão. — falou repentinamente. — Porque? Aconteceu alguma coisa? — Com uma ruga de confusão na testa, perguntei. — Não. Você me contou as coisas que aconteceram lá na leitura de testamento, agora sua madrasta é dona de tudo, ela não gosta de mim, e também assim sobra mais tempo para eu cuidar do nosso casamento e cuidar de você e da nossa casa. — ela sorriu ao dizer a última parte, mas por alguma razão, ainda a sentia estranha. — Olha, não me apaixonei por uma Maria, mas não vou me importar de ter uma só pra mim. Mesmo assim, estou achando estranho, você está estranha. É melhor falar o que está se passando. Sabe que pode me falar qualquer coisa. — Não está se passando nada. — ela insistiu. Levantei do sofá e fui acender a luz,
Ximena ValverdeQuando minha mãe insistiu que eu fizesse meu casamento na Basília de San Juan Dios, eu achei um exagero fora do tom. Eu queria uma igreja simples e pequena, não essa exuberante, já na fachada decorada com obras de arte barroca e um monumental de entrada flanqueada por colunas salomônicas. Mas a verdade é que agora me sentia uma princesa, que iria encontrar seu príncipe, que a aguardava ansioso no altar.O motorista trajado como tal, abriu a porta e meu pai e eu descemos da limousine alugada. Meu vestido era o mais simples que consegui convencer a minha mãe a comprar, na verdade, mandamos fazer. Não queria anáguas, ficar parecendo um cupcake, mas da extensa grinalda não consegui fugir. Enquanto puxava metros de pano de dentro do veículo, vi meu irmão e minha mãe descerem as escadas à frente da basílica, eles chamaram meu pai em um canto e cochicharam algo não audível para mim.Já com a grinalda enrolada no braço, me aproximei, querendo saber o que eles falavam. — Volta
ALGUNS DIAS ANTES Alejandro Albeniz Assumir a empresa aérea foi algo que sempre almejei. As exigências do meu pai é que tardaram minha volta à Espanha, mais precisamente à Granada. O senhor Albeniz, como quase todas as pessoas desse país, tinha valores arcaicos, acreditavam fielmente que um homem de sucesso e sério tinha que ter consigo, bem ao seu lado, uma “primeira dama”. Apesar de amar o lugar onde nasci, eu estudei na América e passei boa parte da minha vida por lá, me preparando para assumir o Império Albeniz. Não que aqui eu não conseguiria o preparo necessário para administrar Granafly, o problema é que não queria apenas entender da burocracia, fui atrás das especializações e evolução necessária do nosso produto e serviço, por isso fiz todos os cursos que achei necessário, na Boeing. Na reta final da minha preparação, vim para a Europa, mas não para a Espanha, meu destino foi a França e lá também me dediquei às especializações oferecidas pela poderosa Airbus. E foi na Fr
Ximena Valverde Minha mãe e suas ideias, por mim eu preferia ir em lojas de alugueis de roupa, encontrar o vestido do meu gosto. Ela e suas crenças de que a roupa que eu alugasse poderia ter estigmas ruins de outras pessoas e meu casamento desandar. O bom de fazer com uma costureira, é que tudo saiu como eu queria, até os tecidos pude escolher. Estava na última prova, ao me olhar no espelho, me vi linda. Meu casamento seria um sonho. Daqui a dois dias seria a mulher mais feliz do mundo, ia casar com o homem da minha vida.— Filha, tá parecendo uma princesa! — minha mãe falou com lágrimas nos olhos.— Mãe, para de chorar e pega um pouquinho desse café pra mim. — apontei para a garrafa em cima do bufê na sala de costura.Sem demora, minha mãe pegou o copinho descartável e pôs a dose do líquido fumegante para mim.A costureira, que voltava de outro cômodo, tentou prevenir um acidente, mas o efeito foi o contrário.— Não faça isso, não dê café a ela usando o vestido branco! — Ela gritou.
Alejandro Albeniz O que estava se passando comigo? Acabei de praticamente jogar praga no casamento da mulher mais linda que eu já vi na minha vida. A sorte é que ela não me levou a sério, eu mesmo não estava me entendendo. Fiquei entorpecido pela eletricidade passando por todo o meu corpo, fazendo o meu coração disparar. Ele batia tão rápido, que parecia que daria um salto do meu peito. Sempre quando ficava louco por uma mulher, era uma outra parte do meu corpo que latejava, nunca o peito. Quando a vi seguir com a mãe, tive vontade de ir atrás dela, de falar novamente para ela não se casar. Como se ela devesse se casar comigo, como tivesse sido feita para mim. Eu com certeza não estava bem e olha que pelo café da manhã foi apenas um suco de laranja, não foi um hi-fi. Pensando no estresse desnecessário que o senhor Albeniz tentou me causar essa manhã, seria até aceitável eu batizar o suco, mas não fiz. Meu corpo estava sóbrio, mas minha mente ficou inebriada de um sentimento
Carlos AlcarazEra o dia mais importante da minha vida. Iria me casar com a mulher que sempre amei. A mais linda, decidida, cheirosa, gostosa… Ximena e eu seríamos muito felizes. Terminava de me arrumar, quando ouvi batidas na porta. Permiti que minha mãe entrasse, sabia que era ela.— Nossa, como é lindo meu filho! — ela babou sua cria. — Tem vaga no carro para você.— Estava pensando em ir de moto, mãe.— E sujar essa farda branca? Nem pensar! — Ela bradou.— Está certo. — assenti.Vestir a farda de gala do bombeiro para me casar, foi ideia da minha noiva. Eu já usava tanto farda, que confesso que gostaria de colocar algo diferente, mas os desejos de Ximena para mim eram ordens.Quando saí do quarto, as mulheres da minha vida me abraçaram; minha mãe, avó, irmã e prima.— Chegou a hora que vamos nos livrar de você — minha irmã disse sorrindo, me fazendo rir.E todos pareciam muito felizes, menos Betina, minha prima. Ela criou algumas expectativas da épocas em que éramos pré-adolesce