Adrian sentia o gosto amargo da raiva em sua boca enquanto observava os covardes de sua alcateia fugirem por suas vidas. Seu lobo ainda estava à flor da pele, exigindo punição, exigindo sangue. Mas naquele instante, seu olhar caiu sobre Eyla, e tudo dentro dele mudou.Ela não estava olhando para ele com alívio. Não estava sequer agradecida por sua chegada. Seus olhos estavam arregalados, cheios de terror. Então, do fundo de sua garganta, saiu um grito agudo, tão alto que quase deixou Adrian e Tor surdos, ressoando pelas paredes do beco como uma sirene de desespero. Era o som estridente e longo, do pânico que transbordava. E, antes que ele pudesse processar, ela se virou com um grunhido de desgosto e satisfação, como se aquela fuga fosse a libertação. Então, saiu correndo. Correu com a coragem, com os passos trôpegos, mas decididos de alguém que se recusava a ser presa novamente.Adrian piscou, confuso. Correu? Para longe dele?Tor se aproximou em sua forma humana, ainda arfando da cor
Eyla sentia o coração martelar contra o peito, cada batida ecoando como um tambor de guerra dentro dela. Sua mente se recusava a aceitar o que via. Aquele brilho translúcido ao redor deles, aquele ar que parecia vibrar com uma energia desconhecida... aquilo não era normal. Nada daquilo era normal.— O que está acontecendo? — sua voz saiu entrecortada, quase um sussurro de desespero.Adrian a observava atentamente. Sua expressão era sombria, mas havia um resquício de algo mais profundo em seus olhos dourados. Algo que a fazia tremer não só de medo, mas de algo que ela não queria admitir.— Vou te contar a verdade — ele disse, sua voz grave cortando o silêncio e cautelosa. — Mas você precisa se acalmar.— Me acalmar? — Eyla riu, um som curto e amargo. — Tem alguma coisa errada comigo? Porque estou vendo coisas, Adrian! Eu vi... Você me deu alguma coisa ou algo assim?Ela parou, sua mente tropeçando nas palavras. Não eram coisas. Eram lobos. Lobos gigantes. Olhos brilhantes. Presas afiad
O ar ao redor deles parecia vibrar, carregado com a intensidade do que havia sido dito. O coração de Eyla ainda martelava no peito, e seus pensamentos corriam desenfreados, tentando encontrar uma saída lógica para aquilo tudo. Mas não havia lógica. Aquela era verdades impossíveis.Ela apertou os braços ao redor do próprio corpo, como se pudesse se proteger das palavras de Adrian.— Reivindicar? O que isso significa? — sua voz saiu trêmula, mas firme.Adrian a olhou com um peso nos olhos verdes e brilhando em dourados, algo que fazia sua pele formigar. Ele estava tenso, o maxilar travado, e parecia escolher bem as palavras antes de respondê-la.— Significa que, se eu marcar você, se o vínculo entre nós se completar, nossas almas vão se completar e unir... o véu cairá. O mundo mudará para sempre.Eyla piscou, tentando processar a gravidade daquilo. Sentiu o peso do destino ser depositado em seus ombros, sem que ela tivesse escolha. Seu peito subia e descia rapidamente, a respiração desc
Eyla sentiu seu corpo enrijecer ao ouvir as palavras de Adrian. Sua ida para a alcateia dele. Deixar sua vida para trás. Num lugar rodeada por lobos humanos. Por um mundo que, até poucos dias atrás, ela sequer sabia que existia.Seu coração disparou.— O quê? — Sua voz saiu esganiçada, o olhar arregalado preso ao dele. — Eu mal estou lidando com essa história de lobisomens e profecias e agora você quer que eu me mude? Para viver cercada por lobos?Ela deu um passo para trás, tentando processar a avalanche de informação. O pensamento de acordar todos os dias em um lugar dominado por seres sobrenaturais a deixava atordoada. Que outras criaturas existiam por aí? Vampiros? Demônios? Bruxas?Ela prendeu a respiração.— Meu Deus… O que mais existe nesse mundo? Vou abrir uma porta e dar de cara com um vampiro tomando um drink de sangue? — Ela passou as mãos pelos cabelos, rindo sem humor. — Eu não posso simplesmente largar tudo assim!Adrian permaneceu em silêncio por um instante, observando
O quarto estava mergulhado em uma penumbra confortável. O calor dos corpos ainda pairava no ar, e o som da respiração de Eyla, tranquila e ritmada, fazia um contraste com o turbilhão de pensamentos na mente de Adrian. Ele a observava, a pele macia iluminada pela luz fraca da lua que se infiltrava pela janela.Ele passou a mão pelos cabelos, exalando um suspiro contido. Ela estava ali, vulnerável, entregue, e tudo dentro dele gritava para protegê-la. Seu lobo interior rugia em inquietação, dividindo-se entre o instinto de envolvê-la com o corpo e alma, e o receio de que não soubesse protegê-la do que viria.— Como vamos mantê-la segura? — perguntou-se em silêncio, não esperando resposta, mas ouvindo o eco de seu lobo pulsando no fundo de sua mente.— "Ela é nossa", seu lobo respondeu, seu tom uma mistura de reverência e desejo. — "Agora que a temos, jamais deixaremos que a toquem."Adrian assentiu, sentindo uma satisfação primal percorrer seu corpo. Ter Eyla ao seu lado completava algo
A sala do conselho da alcateia estava mergulhada em tensão. Os anciões estavam sentados em meia-lua, observando Vark com olhos críticos.O ancião astuto, havia conseguido uma audiência oficial, algo raro, com a alegação de ter informações cruciais.— O Alfa está fora de controle — disse Vark, andando de um lado ao outro. — Desde sua visita ao mundo humano, naquela conferência de energia sustentável, seu comportamento mudou. Ele está... enfeitiçado.Um murmúrio percorreu os mais velhos.— E o que sugere? — indagou um dos anciões, a voz pausada, porém grave.— Que reavaliemos sua posição como líder. Ele se envolveu com uma humana. Quebrou nossas leis. E agora, pelas minhas fontes eles estão a caminho daqui! Em nossa terra, sob nosso teto!Tor, que até então permanecia em silêncio ao fundo da sala, deu um passo à frente, a postura imponente.— Adrian é nosso Alfa. Ele conquistou esse posto com força, lealdade e honra. E tudo que faz agora é por proteção à alcateia. Os lobos traidores que
A viagem até a alcateia foi silenciosa. Eyla olhava pela janela, observando a paisagem mudar à medida que se aproximavam do que agora seria seu novo lar. As árvores densas, a estrada sinuosa e o ar fresco e carregado de umidade davam ao lugar uma atmosfera selvagem, quase intocada.Adrian dirigia com uma expressão sombria. Desde que recebera a ligação de seu beta, sua postura havia mudado. Ele estava mais tenso, os máximos sinais de sua preocupação refletidos nos dedos que apertavam o volante com força desnecessária.— Ainda acho que isso é uma péssima ideia, Adrian — Eyla quebrou o silêncio, abraçando os próprios joelhos no banco do passageiro. — Eu não conheço essas pessoas. Elas sequer querem que eu esteja aqui.Adrian soltou um suspiro pesado, mantendo os olhos na estrada.— Você está mais segura comigo. E eu não me importo com o que eles querem. Você é minha e ponto final.As palavras eram firmes, mas Eyla sabia que a realidade era mais complicada do que isso. Ela já havia entend
Adrian e Eyla seguiram em silêncio pelo corredor de pedras que conduzia ao grande salão. Cada passo ecoava pelas paredes como um lembrete da tensão no ar. Ao cruzarem o limiar do salão, seus olhos foram imediatamente atraídos pelos membros do conselho, já reunidos, suas expressões tensas e cheias de julgamento. Adrian se posicionou ao lado de Eyla, a mão discretamente em sua cintura, como um aviso silencioso de que ela não estava sozinha.Estavam prestes a se apresentar ao conselho quando a porta do grande salão foi aberta abruptamente, silenciando os murmúrios. O ar se tornou mais denso, como se uma força antiga tivesse acabado de atravessar o espaço. Uma figura envolta em vestes escuras entrou, sibilando no ar como se estivesse em comunhão com algo além do que os olhos podiam ver. Era Valesa, a anciã xamã, uma criatura mística que estudava a profecia desde os primórdios. Seus olhos brilhavam em um tom opalescente enquanto avançava pelo salão, um bastão adornado com símbolos arcano