Raila Salim
Estava na cozinha do sítio, o cheiro de comida caseira misturado com a terra molhada do lado de fora. A tia Marta mexia as panelas com cuidado, como sempre fazia, com aquele ritmo tranquilo de quem já tinha vivido muito e sabia como o tempo funcionava. Eu estava ali, ajudando sem muito ânimo, minha mente distante, tentando não pensar nas coisas que estavam me consumindo por dentro.
— Raila, você tem andado tão distante, tão quieta. O que tem acontecido? — a voz dela era suave, mas havia uma preocupação ali, que eu não conseguia ignorar.
Fiquei quieta por um momento, observando a panela na frente de mim. Aquelas palavras me atingiram de um jeito que eu não esperava. A tia Marta era como uma segunda mãe para mim, mas algo dentro de mim me dizia para não confiar nela. Eu a amava, mas a dúvida estava plantada em meu peito, e eu não sabia como arrancá-la.
— Não é nada, tia. Acho que você está enganada. — a mentira saiu fácil, como se fosse uma defesa natural, um escudo para enc