THIAGO
Minha empresa de transporte aéreo internacional vai de vento em popa. Dinheiro entrando, contratos fechados, e meu nome cada vez mais presente nas listas dos homens mais bem-sucedidos do país. Não posso reclamar, estou no auge. Muitos dizem que a melhor fase da vida é aos vinte e poucos anos. Besteira. Estou com 53 e nunca me senti tão no controle. Talvez porque nunca me casei, nunca tive filhos, e minha liberdade continua intacta. Para mim, o auge é agora. Acordo tarde, quando quero. Viajo para onde bem entender, sem satisfações. Se tenho vontade de beber até de manhã e dormir até a tarde, faço isso sem pensar duas vezes. Mulheres? Nunca faltam. Às vezes uma, às vezes duas… ou mais. Meu nome já esteve estampado em algumas manchetes sensacionalistas, mas isso nunca me preocupou. No fim das contas, sou um empresário de sucesso, e quem se importa se eu aproveito a vida? E falando em aproveitar… --- A música eletrônica pulsava pelas paredes do meu apartamento de cobertura, misturando-se aos gemidos e risadas que se espalhavam pelo ambiente. Garrafas de champanhe abertas, taças esquecidas nos móveis, e corpos nus se movendo entre os sofás e a piscina interna. Uma festa privada no melhor estilo Thiago Abdalla. Sentado em uma poltrona de couro, com um charuto em uma mão e um copo de uísque na outra, eu observava o cenário diante de mim como um rei satisfeito com seu império. Uma loira de curvas generosas e pele dourada se aproximou, completamente nua, sentando-se no meu colo sem cerimônia. — Você sumiu, Thi… — ela sussurrou, mordiscando meu pescoço. Dei um gole no uísque, sentindo o calor da bebida descer queimando. — Tava apreciando a vista. — Sorri de canto, deslizando a mão por sua coxa. Ela riu, rebolando de leve, provocando. Mas eu não tinha pressa. Gostava de saborear cada instante. Meu prazer não estava apenas no sexo, mas na sensação de controle absoluto sobre tudo ao meu redor. Aqui, ninguém me dizia o que fazer. Nenhuma regra se aplicava a mim. Enquanto isso, na mesa de pôquer, algumas joias e relógios de ouro eram jogados como fichas de apostas, junto com maços de dinheiro dobrados. Na varanda de vidro, um casal se perdia em beijos intensos, enquanto outra mulher assistia, mordendo os lábios, hesitando entre se juntar ou apenas observar. O mundo lá fora podia criticar. Mas aqui dentro, eu era livre. E liberdade… era a única coisa que eu jamais abriria mão. Do outro lado da sala, duas mulheres trocavam beijos apaixonados. Na piscina, outras tantas se exibiam, sem pudor, enquanto um deles jogava champanhe nelas como se fossem troféus. Era o tipo de cena que qualquer um sonharia, mas poucos teriam coragem de viver. E eu vivia. Sem regras, sem limites, sem arrependimentos. --- A luz do sol atravessava as enormes janelas de vidro, castigando meus olhos fechados. Minha cabeça latejava como se um martelo estivesse golpeando meu crânio, e minha boca estava seca, um gosto amargo de uísque e cigarro impregnado na língua. Abri os olhos devagar, piscando contra a claridade que inundava minha cobertura. O cheiro de álcool, perfume e sexo ainda pairava no ar. O chão estava coberto por garrafas vazias, roupas espalhadas e corpos seminus dormindo nos sofás, nos tapetes e até na varanda. A festa havia terminado, mas os resquícios dela estavam por toda parte. Respirei fundo, me esforçando para me sentar. O relógio digital na parede marcava sete e meia da manhã. Inferno. Eu tinha uma reunião importante às nove. Passei as mãos no rosto, tentando afastar o peso da ressaca, e me levantei devagar. Laura ainda dormia na minha cama, os cabelos loiros espalhados sobre os lençóis bagunçados. Caminhei até o banheiro, liguei o chuveiro e deixei a água gelada escorrer pelo meu corpo, me trazendo de volta à realidade. Não havia tempo para moleza. Meu império não se sustentava sozinho. Vinte minutos depois, eu já estava de terno e óculos escuros, pronto para encarar o dia. Desci pelo elevador privativo e entrei no meu carro, um Bentley preto reluzente, onde meu motorista já me aguardava. — Café forte, chefe? — Ele perguntou ao me ver afivelando o cinto. — Duplo. — Respondi, encostando a cabeça no banco de couro. No caminho até a sede da minha empresa, revisei mentalmente os tópicos da reunião. Negociações com investidores estrangeiros, uma fusão em andamento e a abertura de novas rotas comerciais. Era um dia crucial para os negócios, e eu precisava estar no controle, por mais que meu cérebro ainda estivesse tentando se recuperar da farra da noite anterior. Quando cheguei ao prédio de vidro espelhado que levava meu nome, tirei os óculos escuros e ajustei a gravata antes de sair do carro. Funcionários me cumprimentavam pelo caminho, enquanto eu mantinha a expressão séria. A sala de reuniões já estava lotada quando entrei. Homens engravatados, acionistas, advogados e diretores me encaravam, esperando que eu desse as direções do dia. — Senhores… — Dei um sorriso de canto, colocando minha pasta sobre a mesa. — Vamos ao que interessa. A festa havia acabado, mas o jogo continuava. --- A reunião correu como esperado. Meus acionistas estavam satisfeitos, os investidores estrangeiros encantados com os números da empresa, e a fusão caminhava para ser finalizada. Mesmo com a ressaca pulsando em minha cabeça, eu havia conduzido tudo com a maestria de um homem que sabe exatamente onde pisa. Quando a reunião terminou, apertei algumas mãos, troquei promessas vazias de almoços futuros e caminhei até minha sala particular. Assim que a porta se fechou atrás de mim, soltei um suspiro longo, afrouxando a gravata. — Quer um café, senhor Abdalla? A voz melodiosa veio da porta entreaberta. Virei o olhar e encontrei Marcela, minha secretária pessoal, parada ali, me observando com aquele sorriso discreto e olhos cheios de intenções que ela fingia não ter. Marcela era a definição do desejo em forma de mulher. Morena, cabelos negros sempre presos em um coque impecável, óculos de armação fina que a deixavam com um ar sério e, ao mesmo tempo, absurdamente provocante. Seu conjunto de saia lápis e camisa de seda sempre marcava suas curvas nos lugares certos. Inclinei-me na cadeira de couro, olhando-a de cima a baixo sem pressa. — Você já conhece a resposta, Marcela. Ela sorriu, entendendo o jogo. Entrou na sala, fechou a porta atrás de si e caminhou até minha mesa. O som de seus saltos ecoou pelo ambiente silencioso. — Duplo, forte, sem açúcar. — Ela disse, colocando a xícara à minha frente. — Assim como eu gosto… — murmurei, pegando a xícara, mas sem tirar os olhos dela. Marcela não recuou. Ela nunca recuava. Se existia alguém que sabia brincar no limite da provocação, era ela. — A reunião foi um sucesso? — perguntou, apoiando as mãos delicadas na mesa. — Como sempre. — Levei a xícara aos lábios, deixando o café quente deslizar pela garganta. — Mas preciso confessar… estou entediado. Ela ergueu uma sobrancelha, fingindo surpresa. — Um homem como você… entediado? Coloquei a xícara no pires devagar e me inclinei para frente, reduzindo a distância entre nós. O perfume dela me atingiu em cheio, um misto de baunilha e algo mais picante, viciante. — Um homem como eu sempre quer mais, Marcela. — Minha voz saiu baixa, carregada de significado. Ela não se mexeu, mas vi sua respiração vacilar por um segundo. Um instante minúsculo, mas suficiente para eu perceber que o jogo ainda era meu. — E o que mais o senhor quer? Sorri de canto. Ela sabia exatamente o que estava fazendo. E eu adorava isso. — Ainda estou decidindo… — deslizei um dedo pelo braço dela, subindo devagar. — Mas uma coisa é certa… você nunca deixa de me entreter. Marcela respirou fundo, recompondo-se, e recuou um passo. — Fico feliz em manter meu chefe satisfeito. Ela se virou e caminhou até a porta, mas antes de sair, parou e lançou um último olhar sobre o ombro. — Se precisar de algo mais, estou à disposição. E então, sumiu pelo corredor. Eu ri baixinho, balançando a cabeça. Aquele dia tinha começado como um inferno de ressaca, mas, como sempre, eu sabia como torná-lo interessante.