Norah Narrado
O sol batia gostoso naquela manhã, aquecendo o ar frio que vinha do campo. Eu ajeitei o colchonete sob a sombra parcial de uma árvore e pedi para o enfermeiro me ajudar a deitar Alexander com cuidado. Ele resmungou, como sempre, mas colaborou talvez por preguiça de discutir logo cedo.
— Respira fundo, senhor William — pedi, posicionando minhas mãos sobre o abdômen dele.
— Eu tô respirando — respondeu de mau humor.
— Não, está prendendo o ar, e isso só piora a tensão. Vamos de novo — insisti, mantendo o tom calmo. — Inspira… segura… e solta devagar.
Ele obedeceu, mas de forma impaciente. Os ombros dele subiram e desceram de maneira forçada, como se cada respiração fosse uma guerra entre o corpo e o orgulho.
— Isso é ridículo, Norah — resmungou. — Ficar aqui deitado, parecendo um boneco.
Sorri de leve.
— Um boneco muito teimoso, mas ainda assim um boneco que pode se reerguer.
Ele virou o rosto, tentando esconder um quase sorriso. Aproveitei esse momento raro de silêncio