Mike Silva:
O ambiente é familiar. As paredes brancas e frias da delegacia de Salvador não mudaram muito desde a última vez que estive aqui –quando tinha dezesseis anos, denunciado por minha própria mãe–. O som abafado de vozes e passos ecoa pelos corredores para dentro dessa sala, e a luz fluorescente sobre mim projeta sombras alongadas, criando um cenário austero e opressivo, trazendo à tona memórias das quais eu preferia esquecer. Estou com as mãos algemadas pousadas sob meu colo, sentindo o metal frio e apertado nos meus pulsos, sentado em uma cadeira dura de madeira, de frente para o delegado Correia.
O delegado Correia, agora com sessenta e pouco anos, parece não ter mudado muito desde aquela época. Seus cabelos estão mais grisalhos, mas o olhar firme e o ar de autoridade permanecem. Ele foi o responsável por investigar meu caso anos atrás e, me deu seu contato, oferecendo sua ajuda sempre que eu viesse a precisar. O que nunca aconteceu, até o dia de hoje.
— Mike Silva — Começa,