Os dias da semana vão passando, e logo o domingo b**e à porta novamente. Dessa vez, quando os seminaristas chegarem, preciso dar um jeito de me encontrar com o jovenzinho de cabelos negros. Infelizmente, minha escala de limpeza do pátio caiu no sábado. Isso quer dizer que não terei pretexto para ir observá-los do lado de fora do salão. Levanto-me, espreguiçando-me lentamente. Sinto todos os músculos e ossos do meu corpo trabalhando devagar. Hoje é o dia! Organizo minha cama, coloco meu hábito e continuo minhas tarefas rotineiras: orações, estudos e blá, blá, blá. As primeiras horas da manhã passam rápido. Logo eles chegarão. Hoje estou na limpeza do salão principal e, por sorte, eles precisarão passar por aqui para irem em direção à capela.
Estou encerando os bancos e mesas quando eles chegam. Levanto meu olhar e logo o vejo. Ele está bem atrás do padre, que é um senhor de idade. Seguindo-o, estão mais dois jovens. Encurto meus passos e vou chegando mais para a ponta dos bancos que, em conjunto com os móveis do outro lado, formam um corredor central. Aguardo o momento certo de agir. Assim que o padre passa na minha frente, olho bem fundo nos olhos do rapaz de cabelos escuros e caio.
— Por favor, me ajude — peço com a voz falha, enquanto fecho lentamente os olhos.
Desmaio em seus braços e logo ouço a gritaria.
— Ajudem! Ela desmaiou! Rápido, onde é a enfermaria? — pergunta o rapaz.
— Joseph, vá chamar a madre superiora — pede o padre em tom austero.
— Rapaz, a enfermaria fica no quarto corredor à esquerda e, depois, vire à direita. Leve-a para lá que a madre superiora já está a caminho — ouço uma das freiras dizer.
Permaneço o mais imóvel possível enquanto ele me carrega em seus braços de forma apressada. Vamos passando por corredores e portas até que chegamos à enfermaria. Estamos a sós. Ele me deita em uma das camas e abre as cortinas da janela. Posso dizer que foi isso que ele fez porque sinto a luz do sol tocar minha pele. Escuto o barulho de uma cadeira se arrastando e o ouço sentar.
Abro lentamente os olhos.
— Obrigada — sussurro.
— Ah, meu Deus! Você acordou! Como está se sentindo? Está bem?
— Acho que sim. Me sinto um pouco fraca.
— Você vai ficar bem. As freiras já foram chamar a madre superiora.
Meus olhos se enchem de lágrimas e escondo o rosto com as mãos.
— O que foi? Você está sentindo dor? Por que está chorando? — ele pergunta, preocupado.
— Não, não é nada... É que... é a madre superiora. Ela é tão rígida comigo, que eu... — balbucio, enquanto tento enxugar minhas lágrimas com as mãos trêmulas.
— Você o quê?
— Eu tenho medo — respondo, olhando para baixo.
— Medo? Ela faz alguma coisa com você?
Ouço alguns passos se aproximando e vozes ecoando. Eles estão vindo. Preciso fisgar esse peixinho logo.
— Eles estão chegando, não posso falar mais. Aqui, tome este papel — entrego um bilhete rapidamente em suas mãos e as seguro. — Meu nome é Allegra. Não se esqueça de mim — solto suas mãos um segundo antes de eles entrarem no quarto e virem em minha direção.
Ele olha para mim, um pouco confuso, e põe o bilhete ligeiro dentro do bolso.
— Menina, o que aconteceu? O que você está sentindo? — pergunta a madre superiora. — A enfermeira está presente, ela vai tirar sua pressão.
— Eu senti uma leve tontura, madre. Mas agora que deitei estou um pouco melhor. Desculpe preocupar vocês.
A enfermeira se aproxima e toca minha testa. Sua mão está fria. Ela pega meu braço e passa o aparelho de pressão em volta.
— Sua pressão está boa — ela afirma. — Deve ter sido apenas um mal-estar. Fique aqui por mais alguns minutos e depois estará liberada para ir.
Agradeço. Conforme a sala vai se esvaziando, lanço um último olhar para meu salvador. Ele me olha de volta e sai. Apenas uma pessoa fica na sala: a madre.
— Então, você teve um mal-estar. Isso não é mais uma de suas peripécias, não é, irmã Allegra? — ela me lança um olhar firme e direto.
Eu sustento seu olhar, enquanto balanço a cabeça de forma negativa.
— Claro que não, madre. Eu realmente me senti mal. Não tenho por que mentir. Juro perante Nosso Senhor! — rebato de forma convicta.
— Hunf! Então está bem. Mas saiba que estou de olhos bem abertos com a senhorita! Espero que todo aquele estresse que tivemos por anos não venha a se repetir. Seu pai não iria gostar nem um pouco de saber que a senhorita anda aprontando novamente.
— Eu sei.
— Então, estamos conversadas — ela vira as costas e vai embora.
Bruxa velha! Continuo deitada por mais alguns minutos, enquanto arquiteto o resto do meu plano. Eu esqueci de perguntar o nome do seminarista! Tanto faz. Quando eu estiver conhecendo o seu corpo, a última coisa que me importarei em saber é seu nome.
Não é, lindo peixinho? Logo, logo você vai ser meu!