A empresa sempre foi um lugar previsível para mim.
Vidro, aço, silêncio controlado, pessoas que sabiam exatamente o que esperar de mim — e o que eu esperava delas. Era um ambiente onde eu funcionava no automático, onde decisões difíceis não exigiam emoção, apenas lógica.
Mas naquele dia… nada se encaixava.
Entrei no prédio cumprimentando funcionários, subi no elevador privativo, atravessei o andar inteiro até o escritório sem registrar quase nada do caminho. Minha mente estava longe dali, presa numa casa silenciosa demais, numa mulher que fingia estar bem e em um problema que eu ainda não conseguia enxergar por completo.
Fechei a porta do escritório e larguei o paletó sobre a cadeira. O reflexo no vidro me mostrou um homem que parecia exatamente o mesmo de sempre: postura firme, expressão controlada, nada fora do lugar. Mas por dentro, tudo estava desalinhado.
A primeira reunião passou sem que eu absorvesse metade do que foi dito. Assinei documentos, fiz observações pontuais, encerrei