CAMILA

O fim da tarde chegou sem aviso.

Eu só percebi quando a luz começou a mudar dentro da casa, ficando mais dourada, mais baixa, como se o dia estivesse tentando se despedir com cuidado. Estava sentada no quarto que começava a ganhar o nome de quarto do bebê, mesmo que ninguém tivesse dito isso em voz alta.

As roupinhas estavam dobradas sobre a cômoda.

Pequenas.

Silenciosas.

Cheias de uma presença que ainda não existia e, ao mesmo tempo, já ocupava tudo.

Passei os dedos por um body de algodão amarelo claro, sentindo uma pontada estranha no estômago. Não era dor. Era algo mais difuso, um misto de cansaço e sensibilidade que vinha me acompanhando há dias.

Levantei devagar.

O espelho refletiu uma mulher que parecia a mesma de sempre… mas não era. Havia algo diferente no meu olhar. Uma suavidade estranha. Uma vulnerabilidade nova.

Respirei fundo.

— Deve ser só o dia longo — murmurei para mim mesma.

Mas eu sabia que não era só isso.

Desci para a sala de estar pouco antes do horário em