DOMINIC
A presença de Helena e da pequena Ana no meu castelo trouxe uma estranha, mas bem-vinda, calmaria. Eu, o Rei Lycan Dominic, acostumado à solidão dos meus séculos de existência e ao peso constante da coroa, encontrava um refúgio inesperado na quietude de seus dias. Observava Helena, a forma como ela cuidava da criança, a delicadeza de seus movimentos, a força silenciosa em seus olhos. Ana, um bebê alheio à sua própria história de dor, dormia tranquilamente nos braços da mãe, e eu sentia uma pontada de algo novo em meu peito ao vê-las seguras sob meu teto. A atração por Helena crescia a cada dia, como uma chama que se acendia em meu coração há muito tempo adormecido. Nossas conversas se tornaram mais profundas, mais frequentes, estendendo-se pela noite, enquanto compartilhávamos histórias e risadas. Eu me via cada vez mais cativado por sua beleza, sua inteligência e a resiliência que ela demonstrava. Meus olhos, acostumados a ver a força e a fraqueza dos lobos, reconheciam nela uma alma rara. Foi durante uma dessas noites, sob o manto estrelado, que Helena, com a voz embargada pela dor e pela vergonha, revelou a mim a história de seu passado. Ela contou sobre o ex-marido, o pai de Ana, um homem que a havia submetido a anos de abuso e tormento. Descreveu a fuga desesperada, a constante ameaça que pairava sobre ela e a criança. Cada palavra dela era uma facada em meu peito, acendendo uma fúria primordial em meu ser Lycan. A ideia de alguém ter ousado tocar Helena, de ter ameaçado a pequena Ana, era insuportável. "Ele é um monstro", Helena sussurrou, as lágrimas escorrendo por seu rosto, e eu senti o tremor em seu corpo ao puxá-la para um abraço. "Eu fugi, mas ele nunca vai parar de nos procurar. Ele quer Ana de volta. Ele vai nos encontrar." Aquelas palavras selaram o destino do homem. O pai de Ana. Ele era uma ameaça. Uma ameaça que precisava ser erradicada, de forma brutal e definitiva. A decisão foi tomada naquele instante, uma convicção fria e implacável que se enraizou em minha alma. Eu o eliminaria para proteger Helena e a criança. A segurança de minha nova família, aquela que eu sentia que me era destinada, era minha prioridade máxima. Não haveria outra forma. A oportunidade não demorou a surgir. Dias depois, um burburinho percorreu o castelo. Meus batedores, lobos experientes e com sentidos aguçados, relataram a presença de um lobo estranho nas terras próximas. Um lobo que se movia com uma agressividade incomum, farejando e rosnando na direção do castelo. Eu soube imediatamente. Era ele. O pai de Ana. Sua audácia era impressionante, sua determinação em encontrar Helena e a criança era palpável, mas também sua arrogância. Ordenei que ele fosse capturado e trazido ao castelo. Eu não queria que ele causasse mais problemas nas fronteiras, nem que sua presença perturbasse a paz que Helena e Ana estavam começando a encontrar. Desci ao pátio principal, minha armadura de batalha reluzindo sob a luz do dia, sentindo o peso do dever e a promessa que eu havia feito. Helena, com Ana apertada contra si, estava ao meu lado, seus olhos cheios de medo, mas também de uma confiança inabalável em mim. Meus guardas estavam em formação, suas armas em punho, prontos para o que viesse. O ar estava pesado com a tensão. Em poucos minutos, a grande porta do castelo se abriu. Meus guardas, com expressões sérias, arrastaram um homem alto e musculoso para o pátio. Ele estava amarrado, mas seus olhos injetados de fúria e um cheiro nauseante de raiva e possessividade emanavam dele. Era ele. O pai de Ana. Seus olhos varreram o local, fixando-se em Helena e Ana com uma intensidade doentia, como um predador faminto. "Helena! Minha filha! Vocês são minhas!", ele gritou, sua voz áspera e cheia de ameaça, debatendo-se contra as amarras, tentando avançar em direção a elas. Eu me coloquei à frente de Helena, uma muralha de músculos e fúria contida. Minha paciência havia se esgotado. "Você não vai tocar nelas", minha voz era um rosnado baixo, mas carregado de uma autoridade que fez o pátio tremer e os lobos próximos recuarem. O homem parou de se debater, seus olhos fixos em mim, um brilho de desafio em seu olhar. Ele era um lobisomem, sim, mas sua arrogância o cegava para o poder que estava diante dele. "Quem é você para me impedir? Ela é minha esposa! A criança é minha!" Eu não perdi tempo com palavras. Não havia mais nada a dizer. Em um piscar de olhos, minha forma humana se contorceu, meus ossos estalando, meus músculos se expandindo com uma velocidade e força que fariam qualquer lobo comum tremer. Em segundos, o Meu Lycan estava ali, um Lycan colossal de pelagem negra com reflexos dourados, meus olhos ardendo com uma fúria selvagem. Eu era a personificação da morte e da proteção. O pai de Ana empalideceu, seus olhos arregalados de terror. Ele tentou se transformar, mas o medo o paralisou, sua forma humana tremendo. Eu não lhe dei tempo. Com um rugido que fez o próprio castelo vibrar, me lancei sobre ele. Minhas patas maciças o atingiram com uma força brutal, arremessando-o contra a parede de pedra do castelo. O som de ossos quebrando ecoou pelo pátio, um som satisfatório para meus ouvidos. Ele caiu no chão, gemendo, seu corpo contorcido de dor, uma mancha escura se espalhando sob ele. Ele tentou se arrastar, implorando com os olhos, mas eu estava sobre ele em um instante, meus dentes à mostra, pingando saliva. O meu Lycan não hesitou. Com um movimento rápido e brutal, cravou meus dentes em sua garganta. Um grito abafado, um borbulhar de sangue, e o corpo do pai de Ana se contorceu uma última vez antes de ficar inerte, os olhos vazios fixos no céu. O silêncio caiu sobre o pátio, que agora estava manchado de sangue. Helena, com Ana apertada contra si, observava a cena, seus olhos cheios de choque, mas também de um alívio avassalador . Eu havia cumprido minha promessa. Eu as havia protegido. Voltei à minha forma humana, minha pele suada, mas meus olhos fixos em Helena. Eu a puxei para um abraço apertado, e ela se aninhou contra mim, as lágrimas escorrendo por seu rosto, mas seu corpo relaxando em meus braços. Aquele ato brutal, mas necessário, havia selado o destino deles. Aquele dia, o pai de Ana havia sido eliminado, e o amor e a paixão entre mim e Helena se consolidaram, forjados no fogo da proteção e do sacrifício. O vazio deixado pelo passado de Helena foi preenchido pela segurança e pelo amor avassalador do Rei Lycan.