Capítulo 2

Dois anos depois...

CHARLOTTE BROOKS

Dois anos tinham se esvaído desde a partida silenciosa de Roman, dois anos que transformaram Charlotte em uma versão mais resiliente de si mesma. A casa, antes preenchida pela sombra do abandono, agora respirava o esforço e a dedicação de uma vida reconstruída.

Era manhã. A luz de outono entrava suavemente pelo quarto principal, iluminando a bagunça organizada do cotidiano. Charlotte, agora com vinte e sete anos, vestia seu impecável uniforme de cuidadora: uma calça e camisa azuis-marinho recém-passados que contrastavam com seu cabelo loiro cacheado, preso em um coque alto e profissional. Ela estava em frente ao espelho, concentrada em delinear os lábios com um batom cor de pêssego, um toque de cor para enfrentar o longo turno no asilo próximo.

Sentada na beirada da cama, com as pernas balançando ritmicamente, estava Milli. Aos oito anos, a menina já exibia uma seriedade e uma empatia surpreendentes para sua idade, características que Charlotte reconhecia como a armadura precoce que a vida lhe impôs. Seus longos cachos loiros, quase idênticos aos da mãe, caíam em cascatas sobre o pijama. Seus olhos azuis, curiosos e profundos, estavam fixos na tela de um notebook apoiado em seu colo, vibrantes com a imaginação de uma viagem.

Charlotte terminou o batom, fazendo um leve bico para conferir a simetria, quando a voz de Milli a trouxe de volta.

"Mamãe?"

"Sim, meu amor?" Charlotte se virou, pegando o crachá de identificação que estava sobre a cômoda.

Milli girou o notebook para a mãe. "A Sra. Elena está quase chegando, e eu estava pensando... já que suas férias estão marcadas para logo, a gente precisa decidir para onde vamos! Olha só, estou no site da agência 'Sonhos e Viagens'."

Charlotte sorriu, um sorriso genuíno que raramente vinha fácil nos primeiros meses após a separação. Ela caminhou até a cama e se sentou ao lado da filha, olhando para o rosto esperançoso da menina.

"Hmm, que ótima, minha pequena planejadora de viagens," ela disse, beijando a testa de Milli. "O asilo tem exigido muito tempo, você sabe. Cuidar dos nossos idosos toma bastante energia. O que você achou de interessante aí na tela?"

Milli abriu um sorriso radiante. "Eu acho que deveríamos ir para a praia! De verdade, mamãe. Não aquela que a gente foi ano passado que era fria. Uma que tenha sol e areia bem branquinha."

"A praia, é? Parece um plano excelente, considerando que você está cansada desse frio de dezembro," Charlotte respondeu, passando a mão pelos cachos da filha.

Milli se animou, apontando para uma imagem no site. A tela mostrava um bangalô rústico, de telhado de palha, em frente a um mar turquesa.

"Olha só, mamãe! Eu achei esse lugar. É um bangalô! Eles têm uma varanda que dá para a areia e você pode ver os golfinhos de manhã! É o 'Refúgio do Mar'. Não é lindo?"

Charlotte olhou para a imagem. O lugar era de tirar o fôlego, certamente fora do orçamento que ela tinha em mente, mas a alegria nos olhos de Milli era contagiante.

"É realmente muito bonito, meu amor. Você tem um ótimo gosto, Miss Milli," ela disse.

"Eu vi que tem café da manhã com vista para o mar e até uma piscina pequena!" Milli respondeu, implorando com o olhar. "A gente pode passar um mês lá! Você vai descansar de cuidar de todos aqueles vovôs e vovós, e eu vou descansar de estudar sobre frações chatas."

Charlotte riu, o som leve e melodioso. O entusiasmo de Milli era a âncora que a mantinha flutuando.

"Dez dias na praia, longe dos chás de camomila e das frações. Parece uma troca justa," ela refletiu, beijando a testa da filha. "Tudo bem. Eu prometo que, assim que eu sair do turno hoje, nós vamos pessoalmente à agência de viagens. Podemos conversar com a vendedora, ver mais fotos e detalhes, e descobrir se o 'Refúgio do Mar' cabe no nosso bolso. O que você acha?"

Milli jogou os braços em volta do pescoço da mãe, num abraço apertado e cheio de gratidão. "Você é a melhor, mamãe! Vamos conseguir o bangalô!"

O som da campainha ecoou pela casa.

"A Sra. Elena chegou," Charlotte disse, levantando-se e ajeitando a gola do uniforme. "Agora, lembre-se: nada de brigar com a lição de casa. Eu ligo na hora do meu almoço, mas se prepare para a nossa aventura na agência mais tarde!"

"Combinado!" Milli prometeu, fechando o notebook.

Charlotte lhe deu mais um beijo rápido e seguiu para a porta, levando consigo a imagem de sua filha planejando avidamente o futuro.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App