Vozes Guardadas
Clara ajeitou o microfone pequeno sobre a mesa de madeira clara do escritório, testando o ganho com toques leves.
O aparelho piscava uma luz verde constante, perfumado pelo leve cheiro de cedro que vinha da caixa onde fora guardado.
O gravador digital, comprado naquela manhã, descansava ao lado de um bule de chá de camomila e mel que espalhava vapor doce pelo ambiente.
A janela estava aberta, deixando entrar o som abafado do estábulo e o aroma da terra molhada pela chuva curta que havia caído mais cedo.
Josué entrou devagar, apoiado na bengala de madeira escura que Artur mandara fazer sob medida.
As mãos tremiam um pouco, mas o passo era firme. Ele vestia um suéter de lã azul-marinho, o mesmo que Maria lhe dera num aniversário distante.
Ao vê-lo, Clara sentiu o peito apertar e sorriu com doçura.
— Pronto? Perguntou ela, indicando a cadeira acolchoada diante do microfone.
— Sempre pronto para contar história. Respondeu Josué, tentando imprimir leveza