O dia nasceu como os outros. Mas Melody não.
Acordou cedo, como sempre. Vestiu-se devagar, prendeu o cabelo como se cada gesto exigisse mais tempo. Lavou o rosto. Olhou no espelho — e não reconheceu a mulher que olhava de volta com tanta nitidez. O reflexo parecia mais sólido, como se houvesse ganhado peso e forma durante a noite. A nitidez dos traços era a mesma, mas o olhar carregava uma pergunta nova. E uma resposta que ainda não sabia nomear.
A casa parecia igual. Mas ela via diferente.
Atravessou o corredor e encontrou Ida já na cozinha, mexendo o mingau de Rose com a colher de pau. A luz da manhã entrava pelas frestas da janela com um dourado tímido, tingindo a parede com um calor que não alcançava os ossos. Havia cheiro de leite morno no ar, e o rangido ocasional da madeira soava mais alto do que de costume.
— Dormiu bem? — perguntou a governanta, sem tirar os olhos da panela.
Melody assentiu. Foi até a pia. Lavou as mãos. Pegou a tigela com frutas e começou a cortá-las em silê