O outono se anunciava como quem pede licença, mas já começava a tirar as coisas do lugar. Não era uma estação de chegada ruidosa. Era feita de pequenos sinais, como um convidado que vai empurrando os objetos devagar, rearranjando o ambiente sem que se perceba de imediato.
O sol era mais pálido, a luz mais curta, o ar mais fino. A roupa demorava a secar no varal, e a água da bacia onde Melody e Ida lavavam fronhas já não permanecia morna por muito tempo. Havia um frio miúdo que não dava calafrio, mas fazia a pele desejar manga comprida. Ida havia dito, dias atrás, com a certeza de quem prevê o tempo como quem lê uma receita:
— Logo o frio chega sem bater.
Naquela manhã, as duas estavam lado a lado, torcendo lençóis e estendendo peças no varal. As mãos se moviam com sincronia, o silêncio sendo preenchido apenas pelo estalar úmido dos tecidos. Rose dormia no carrinho improvisado na sombra da varanda, enrolada em uma manta que ainda guardava o cheiro do armário. Tudo parecia no lugar, com