O peso da marcha

A madrugada chegara como uma lâmina fina, cortando pele, pulmão e pensamento. O frio não dava trégua. Enregelava até o silêncio, que se espalhava entre os homens como um pacto não falado. A brancura da geada cobria tudo com uma camada traiçoeira de beleza. Um cenário morto tentando parecer limpo.

O café foi servido pela última vez antes da partida. Uma medida calculada: a última água fervida, o último gesto de rotina. Depois daquilo, só os cantis individuais — e mesmo eles já começavam a pesar nos bolsos mais como amuleto do que provisão. Havia uma reverência silenciosa diante daquela bebida. Ninguém se apressou. Ninguém pediu mais.

Bill, envolto em sua jaqueta de lona, cuidou do preparo com a calma de quem entende a função de cada movimento. A colher batia devagar na borda da chaleira. O vapor subia ralo, preguiçoso, como se o próprio calor estivesse cansado. Ele não falou nada. Só passou as canecas de mão em mão, com o olhar baixo, como se estivesse distribuindo adeus. A bebida era
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