O vestido azul-escuro desceu pelo corpo de Melody com a leveza de um segredo. Pela primeira vez, ela o vestia para ser vista.
Penteou os cabelos com cuidado, optando por fazer uma trança simples. Se olhou no espelho mal reconhecendo o próprio reflexo, embora não tivesse se surpreendido. Já sabia o suficiente: estava diferente. Não por vaidade — por posição. Como se aquela noite exigisse uma versão dela que ainda estava se formando. O pano tocava sua pele como se pedisse silêncio. Como se cada dobra sussurrasse: "não desapareça".
Na sala, os talheres tilintavam contra a louça. Ida ajustava a mesa com o cuidado de quem entende que as coisas simples carregam o que há de mais sagrado. Três lugares. Uma vela acesa. Um vaso com flores do jardim, margaridas amarelas que acrescentavam cor a mesa. E o bolo, no centro, esperando a hora certa. O ar cheirava a pão, vinho e coisa antiga — como se a casa também segurasse o fôlego.
Melody parou à porta e respirou fundo antes de entrar. O som da resp