Saio do quarto sem olhar para trás. Não é falta de sentimento, é instinto de sobrevivência. Mostrar fraqueza nesse mundo é pedir para ser engolido vivo. E Isabela... ela quer uma porra de explicação que eu não posso dar. Não agora. Talvez nunca.
A noite está quente, abafada, o ar carregado de tensão e cheiro de merda. O morro está prestes a explodir. Eu sinto isso na pele. Os becos estão mais silenciosos do que o normal, e silêncio no morro nunca é bom sinal.
Acendo um cigarro enquanto desço os degraus esburacados da laje. O gosto de pólvora se mistura ao fumo barato. Tenho sangue seco na camisa. Hoje o dia foi feio. Amanhã pode ser pior.
— Playboy! — Pardal me chama, encostado na moto, os olhos cortando a rua como faca afiada.
Dou a última tragada e jogo o cigarro no chão, esmagando com o chinelo.
— Bora. — subo na garupa e o ronco do motor engole a madrugada.
Descemos o morro no ritmo da quebrada, cortando vielas, passando por olhares desconfiados. Criança dorme com som de tir