A casa ainda tinha aquele cheiro forte de cigarro misturado com comida velha. Era o tipo de coisa que grudava na pele, na alma. Eu tentava colocar ordem no caos, empilhando roupas, ajeitando móveis, fingindo que aquilo podia virar um lar.
O toque da campainha cortou o ar. Secco. Frio.
Congelada, espiei pela janela. Nada.
Fui até a porta, com o coração socando meu peito, e quando abri, encontrei Gabriela ali. Duas malas jogadas aos pés dela. E aquele sorriso triste que dizia tudo antes mesmo dela abrir a boca.
— Sua tia mandou suas coisas. — ela disse. A voz carregada de pena me deu enjoo. — Não pôde vir... estava ocupada com outras coisas.
Outras coisas. Como se eu fosse menos que isso. Menos que nada.
O golpe veio sem aviso. Minha garganta fechou. Peguei as malas com mãos trêmulas, tentando manter alguma dignidade, mas as lágrimas desceram sem pedir permissão. Tentei virar o rosto, esconder, mas Gabriela já tinha visto.
Ela me puxou para um abraço apertado, silencioso. Era a ú