O relógio marcava a hora exata em que o morro inteiro começava a pulsar. O baile na Rocinha não era só uma festa, era o meu baile. Meu nome já ecoava pelas vielas antes mesmo de eu pisar na rua. Quem sabia, sabia. Quem não sabia, aprendia na marra.
No espelho, ajeitei o visual como quem afia uma lâmina antes da guerra.
Conjunto da Lacoste, branco como o veneno que corria nas veias da favela, jaqueta justa, logo verde bordado no peito, a marca do crime vestido com classe. A calça no corte reto caía perfeita, firme, deixando claro que eu era o dono da porra toda.
Corrente de ouro grossa no pescoço, outra mais fina no pulso.
Nada exagerado.
Quem é de verdade não precisa berrar ostentação. Só de passar, o brilho já dizia, respeita, porra.
Nos pés, uma Kenner preta, básica e mortal.
Sandália de quem conhece o chão que pisa. De quem sabe que a rua é território, e quem manda nela sou eu.
E a proteção? Sempre comigo.
A Glock 17 encaixada na cintura, invisível para otário, fatal para quem