NARRADORADalila caminhava seguida por Raven e Cedrick rumo ao seu salão privado — ou melhor, ao santuário de suas poções de bruxa, ervas frescas e coisas estranhas de experimentação espalhadas por todos os lados.— Estava me procurando? — Dalila perguntou ao moreno enorme que esperava no corredor em frente à sua porta.— Sim, sim, bati e, como vi que não estava, já ia embora... — Vincent ficou um pouco confuso ao ver a comitiva atrás da Sacerdotisa.— Era algo muito urgente? — Dalila abriu a porta e entrou direto.— Não, posso voltar depois...— Vincent, entra com a gente. É sobre a Raven — Cedrick o atualizou e os três então ocuparam o santuário de Dalila.Ela logo desenhou seu círculo de runas mágicas, com o cenho franzido e preocupação evidente.Todos estavam tensos, até mesmo Vincent, que já tinha sido informado por Cedrick do problema.— Amor, Cedrick… minha mão está doendo — Raven tocou suavemente o antebraço dele, pedindo que a soltasse um pouco.Cedrick a segurava como uma ân
NARRADORARaven estendeu a mão e acariciou a pequena chama, sorrindo com ternura.Ela se avivou, se enroscando entre seus dedos como se respondesse aos carinhos.Os dedos de Cedrick coçavam para tocá-la, mas quando levantou o braço, os pelos começaram a chamuscar.Então forçou sua pouca magia de gelo e, de imediato, um calorzinho acolhedor lhe aqueceu a alma — brincando em sua palma, como uma menininha reconhecendo o pai.O sorriso de bobo apaixonado daquele Alfa tão grande era até cômico de se ver.— Por que eu não consegui sentir o cheiro dela na barriga da Raven? — perguntou a Dalila, com os olhos brilhando para sua filhote de fogo.— Porque a parte humana ainda está se formando. As Centúrias desenvolvem mais rápido a chama primordial dos seus lobos — respondeu Dalila, suspirando.— Suas duas gravidezes me deram mais cabelos brancos em minutos do que em séculos.— Por que você se comporta assim? Não seria mais fácil me contar a verdade? — Raven brigava com seu lobo de fogo, que só
VINCENT— Raven! — ouço Cedrick chamando a rainha com pânico, mas agora tenho um enorme Alfa de fogo vindo direto para cima de mim e, pior ainda, todos os meus sentidos estão focados em não deixar aquela chama linda se apagar por minha culpa.O que aconteceu? Como tudo mudou com um simples toque?— Chega, Olaf, se acalma! — a Sacerdotisa se coloca na minha frente com uma agilidade impressionante.Um poder vermelho e chamas mágicas giram em torno de seu corpo, fazendo seus cabelos avermelhados se erguerem, enquanto ela enfrenta o lobo Alfa e impede o ataque que, com certeza, teria sido mortal.Ela usa aquele cajado estranho que o Alfa morde com fúria, mas ele não se quebra, e ela o controla.O calor escaldante queima minha pele, mas abaixo o olhar, angustiado, para ver a pequena chama no chão.Meu coração aperta de medo que ela se apague para sempre.Me agacho para ver se está tudo bem, mas, de repente, olho com terror para meu braço, onde veias negras se espalham como raízes podres at
HAKONCaminhamos com tochas pelas margens de uma lagoa estagnada e de águas turvas nesta pequena ilha. Diante dos meus olhos, a enorme e estreita gruta que leva à caverna subterrânea.— Fiquem aqui fora como sempre. Qualquer coisa, fiquem prontos e alertas — ordeno aos vinte guerreiros, que assentem e formam uma linha de defesa voltada para a caverna.Aqui, não se trata de se proteger do que pode entrar, mas do que pode sair.Apenas Carlisse e eu nos aventuramos naquele lugar escuro, úmido e sufocante.O ar é pesado e difícil de respirar.Nos movemos em silêncio e com pressa até chegar a uma galeria mais ampla, que se divide em duas cavernas escuras como bocas de lobo.Sigo para a direita sem hesitar e, um pouco mais adiante, eu a vejo.Uma enorme parede de gelo espesso no fundo da gruta, um escudo que nos protege do que está além.— Carlisse, porra... isso está pior do que nunca. Por que demorou tanto pra me avisar? — olho preocupado para as rachaduras profundas no gelo, que está se
RAVENNão sei quanto tempo dormi, acho que pelo menos uma hora, mas meu corpo ainda se sente completamente sem energia.O peso no meu ventre continua, onde meu poder se concentra e se fortalece, mas há outra sensação… doce e pegajosa, que desliza pela minha pele.Desço a mão com carinho e toco os longos cabelos platinados do meu homem.Abro os olhos, me acostumando à luz suave que entra pelas cortinas, e o vejo acariciando e beijando minha barriga, sussurrando palavras de encorajamento que aquecem meu coração.— O que está fazendo, meu amado Alfa? — pergunto com a voz sonolenta.— Raven, eu já consigo sentir o cheiro dela! — ele se levanta, os olhos azuis brilhando de emoção.— Me concentrei muito e agora que sei que ela existe, pude sentir o cheiro da nossa filhote… cheira a talquinho!Quase caio na gargalhada com a cara de bobo encantado dele, e olha que nossa filha ainda está só começando a se formar.Mas então, uma tontura me faz franzir a testa.— Está se sentindo mal? Vem, amor,
NARRADORA— O que eu faço? A Rainha e o Rei estão recolhidos em seus aposentos e pediram para não serem incomodados. A Beta não está se sentindo bem, e a Sacerdotisa também está trancada no Santuário fazendo magia — uma guerreira Centuria dizia à outra, com a testa franzida.— O que está acontecendo? — de repente, a voz firme de Anastasia as fez se virar surpresas.— Be…Beta, achamos que você ainda estaria se recuperando...— Já estou bem. Me diga o que está acontecendo — e Anastasia ouviu o relato de que havia quase uma rebelião se formando na saída dos portões do castelo.Eram as matilhas dos homens prisioneiros. Os reféns que sobreviveram à barbárie da bruxa sombria.Agora, vinham implorar clemência por seus familiares, dizendo que foram forçados, que só fizeram o que fizeram para protegê-los, que não era justo serem executados.— Levem todos para a praça central do castelo. Não os maltratem, aconteça o que acontecer. Mas também não permitam que façam nada errado — ordenou, e as Ce
NARRADORARaven anunciou, e o coração dos presentes se apertou em um só punho.— Ajudar a reparar os danos causados pela batalha nos arredores do castelo e um imposto especial de alimentos ao palácio por seis meses.Toda a cena ficou em silêncio.Será que tinham ouvido direito? Eles… não seriam executados? Apenas esse castigo tão benevolente?O primeiro grito que rasgou os céus deu lugar ao segundo, ao terceiro e depois a centenas.O cerco das Centurias se abriu, e o reencontro entre lágrimas e abraços foi inevitável.— Cedrick, você acha mesmo que eles vão nos aceitar em seus corações? — Raven perguntou olhando para suas guerreiras, com sua Beta à frente.— Esse é o primeiro passo. Eu sei que vão. Vocês, Centurias, são maravilhosas. Um tesouro da nossa raça. Só precisam de uma chance pra recomeçar — Cedrick apertou a mão dela.Estava decidido a restaurar a glória de seu reino — desta vez, da forma certa e ao lado da Rainha que sempre quis para si.— Voltem às suas matilhas, chorem se
NARRADORA«Chamas vermelhas devastando a terra, fogo e destruição por onde passam, correntes que prendem a magia fria e consomem o inverno.”“Um grupo, com cerca de cinquenta homens, corre desesperado pela névoa e na noite, caçados e perseguidos como animais selvagens, adentrando um território mortal e perigoso.”“…Jonás, se agarra no galho! Não se desespera ou vai afundar mais rápido!… Não soltem ele!… Aahhh!… O Druida também caiu no pântano!… Deusa, até quando esse martírio? Tem piedade de nós!”“Homens fortes e selvagens surgiram das trevas do pântano e os ajudaram a sobreviver.”“…só posso protegê-lo por um tempo, não quero problemas com as Centurias, me desculpe…”“No entanto, uma noite, enquanto todos dormiam, um rugido vindo de outro mundo fez os corações deles tremerem de medo.”“Acordem rápido! Vamos defender a matilha!”“Sangue e luta. Massacre dos mais fracos.”“Os corpos mutilados de mulheres e filhotes afundando no pântano… Conseguiram conter as criaturas, mas o custo foi