"Me peça para ir embora. — Paco diz. — Me peça para ir e eu vou. Dandara engoliu em seco, e levantando a cabeça, os seus olhos encontraram com o dele. — Você quer ir embora? — sussurra. — Diga-me o que quer. Paco não foi racional quando suas mãos agarraram a cintura de Dandara com firmeza, a puxando contra o seu peito rijo, onde o seu coração acelerado parecia ferver. — Paco... — murmurou, mas suas mãos seguiram em direção até os bíceps dos braços fortes que a seguravam. — Não podemos... — Você diz que não, mas por que os seus lábios estão entreabertos, a respiração ofegante implorando pelo meu beijo? — sussurra, os dedos lentamente deslizando pelo desenho da sua boca. — Eu sei o que eu quero, Dandara. E eu quero te beijar até esquecer o meu próprio nome. E eu quero estar dentro de você, até não conseguir distinguir onde você começa e onde eu termino." Para se casar por amor com Curtis, um homem pobre, Dandara abandonou sua vida de riqueza e o casamento arranjado com o misterioso e sedutor Paco Benrouissi. Cinco anos depois, Dandara está doente, à beira da morte, e descobre que Curtis era um traidor, que a envenenava com ajuda de sua amante. Em seu último suspiro, Dandara deseja poder fazer tudo diferente e acorda no dia em que decidiu partir, cinco anos antes. Agora, após sofrer até a morte nas mãos de Curtis, Dandara aceita o casamento arranjado. Ela só não contava que poderia se apaixonar de verdade pelo homem com quem deveria ter casado desde o início. Mas poderia confiar nele? Paco é autoritário, possessivo e parece esconder um terrível segredo. Como Dandara poderia dominar seu coração para não cair novamente nas mãos de um homem?
Ler mais— Talvez eu morra essa noite, Zélia. – Sussurro. – É uma linda noite para morrer, você não acha?
A mulher apenas nega com a cabeça, provavelmente cansada de todos os meus comentários mórbidos, mas daquela vez era diferente.Sinto o ar queimando enquanto entra em meus pulmões. Ainda que sinta frio em meu corpo todo, o suor atravessa os lençóis da cama a qual estou deitada. É noite e a brisa noturna balança as cortinas da janela e eu tento me concentrar naquele movimento na esperança de parar de sentir a dor que ameaça parar o meu coração. E apesar de me sentir assim, existe algo no mais profundo do meu coração que me dá esperança. Sei que preciso lutar, porque a vida ainda me reservava coisas incríveis, mesmo no meio de tanta dor.O som da televisão chama a minha atenção e eu sigo o seu olhar para a tela, apenas para sentir meu sangue gelar.— As indústrias LeBlanc realiza hoje a festa anual de fundação de 50 anos da empresa. — Um jornalista informa em frente a enorme mansão que aparece iluminadas com luzes fluorescentes demais. — Atualmente a família LeBlanc é responsável pelo alto crescimento econômico da história do país...Fecho os olhos enquanto ainda escuto aquelas palavras rodando em minha cabeça, me forçando a não me deixar ser invadida pelas memórias, mas eu já não tinha tanta força assim para resistir a qualquer coisa. Dias definhando em uma cama não me fortaleceram. Ouvir relatos da minha família daquele modo era impessoal demais, como se eu já não tivesse vivido as mais lindas memórias ao lado deles.— A senhora sente falta? — a voz da minha empregada chega aos meus ouvidos.— Nem um pouco. — Murmuro, a voz fraca. — Uma família de verdade não te banirá e te tratará como se você não existisse só porque você não fez algo que eles não queriam que fizesse.— Mas a senhora perdeu tudo. Não se arrepende? — ela insiste.— Às vezes vale a pena perder tudo por amor. — Eu sussurro e tento sorrir, mas isso não dura.No mesmo instante sou acometida por uma forte crise de tosse, mais uma. Zélia me estica um lenço branco e levo aos lábios, abafando aquela tosse. Quando finalmente afasto aquele tecido, estou arfando ao observá-lo completamente rubro.Levanto meu olhar para Zélia, e vejo o medo cintilar em seus olhos. O arrepio em minha espinha retorna, e era como se pudesse sentir a morte a minha espreita.— Por favor, chame o meu marido. — Peço em um sussurro coberto de amargura.— Sim, senhorita LeBlanc. — No mesmo instante ela sai correndo.O modo que ela diz o meu nome me faz jogar a cabeça no travesseiro e repensar como foi a minha vida. Como cresci em um lar feliz e rico de modo colossal, porque eu era a única herdeira das indústrias LeBlanc, mas aquele título me foi tirado quando me apaixonei de maneira irreversível por Curtis. Um homem pobre.Ainda estou com os olhos fechados, porque mesmo que o quarto esteja a meia luz, a claridade ainda arde em minhas retinas. Ouço um barulho na porta e passos pesados no assoalho do quarto.— Curtis, é você? — pergunto e tento sentar em minha cama.Pela penumbra só consigo visualizar uma silhueta e rapidamente me dou conta de que não é o meu marido.— Quem está aí? — pergunto, ficando em alerta.A figura em minha frente finalmente se revela e vejo que se trata de uma mulher. Era alta, os cabelos escuros como uma noite sem luar, a pele pálida, os lábios pintados de vermelho que sorriam largamente para mim, me encarando de cima enquanto estou deitada naquela cama.— A grande Dandara LeBlanc! — ela finalmente fala e se senta na cadeira onde minha empregada estava minutos antes, cruza as pernas e vejo o seu salto alto.— Quem é você? O que faz aqui? — pergunto, e odeio a fraqueza em minha voz.Estou desnorteada. Sinto o peito pegar fogo, o gosto amargo me invadindo pela cólera de ter uma estranha em meu quarto.Ela apenas sorri e j**a os longos cabelos longos para trás, e nesse mesmo instante os meus olhos pararam nos brincos em suas orelhas. Os diamantes que cintilavam, os diamantes que me pertenciam.— Onde está o meu marido? — indago e olho para os lados, buscando qualquer coisa com a qual pudesse me defender.Ela apenas sorri outra vez.— Soube que você perdeu a criança. — Ela comenta, cruel e friamente.As lágrimas tentam descer dos meus olhos, uma dor que estilhaça a minha alma. Sentia o vazio doloroso em meu ventre, uma escuridão eterna em meu ser, um buraco no meu coração no lugar que deveria ter sido ocupado pelo meu bebê. Isso era um adeus que eu me recusava a dar.— Como sabe que... — minha voz sai como um sussurro.Apenas eu e Curtis sabíamos da minha gravidez a não ser que...E então, como peças de um dominó tudo começa a encaixar em minha cabeça, e eu simplesmente não queria aceitar aquela verdade. Os brincos que estavam em suas orelhas eu havia oferecido a Curtis para que ele pudesse os manter em um lugar seguro porque aquilo iria nos garantir ao menos dois anos sem precisar se preocupar com dinheiro.— Vejo que mesmo moribunda você ainda consegue ser inteligente. — A voz da mulher encheu o quarto.Eu não podia acreditar no que tudo aquilo significava. Curtis me traía, me enganara enquanto eu definhava em uma cama por meses a fio.— Quero que saia daqui. — Tento gritar e me levantar.Ela fica em pé no mesmo instante, me impedindo e está sorrindo quando tira um pequeno frasco do bolso do seu vestido. Ela abre lentamente e o cheiro me invade as narinas. Sinto meu estômago se revolver. O mesmo cheiro do chá que Curtis fez para mim duas semanas antes, duas semanas antes de sofrer um aborto espontâneo.— Vocês armaram tudo. — Sussurro quando a clareza me abraça com mais força. — Você... O Curtis... — pisco e minhas lágrimas descem, a raiva e decepção me embriagam.— Finalmente você entendeu tudo. — Ela pisca os olhos escuros para mim. — Agora você precisa continuar tomando o seu chá...Ela imediatamente tenta forçar aquele frasco sobre os meus lábios, a revelação anterior e a minha doença me deixam ainda mais fraca que não tenho força para lutar contra o líquido que cai em meus lábios. Grito quando ela se afasta, de dor, raiva e medo.— Eu estou fazendo um favor a você. — Ela diz gentilmente. — Ninguém jamais amará você, apenas o seu dinheiro. Estou te libertando desse fardo.Ouço a sua gargalhada cortando a noite e bem assim, ela sai desfilando do meu quarto. Tentei levantar, sair da cama e segui-la, mas tudo que consegui foi cair no chão gelado daquele quarto, enquanto sentia o meu pulmão queimando, a fraqueza querendo me vencer e a dor da decepção e traição rasgar o meu peito.Outra crise de tosse me atinge, e dessa vez, eu sabia que era o fim. Me sinto sufocada com o meu próprio sangue enquanto sinto e posso ver a minha vida se esvair sobre mim. Sangue jorra dos meus lábios e como um mal presságio o vento forte consegue abrir as minhas janelas, e uma tempestade começa a cair, encharcando a minha camisola branca enquanto agonizo naquele chão. Os trovões explodem em meu ouvido, o frio me enforca, grito alto, mas ninguém escuta.Quando olho em frente vejo a tv ligada, assisto a imagem da minha antiga casa, dos meus pais e de toda a vida que renunciei por um amor que jamais existiu. Sinto a culpa me engolindo bem ali, a sensação letal de ódio me tomando por completa porque acabei de perceber que a minha família iria perder tudo por minha causa. Sinto a raiva envenenando cada átomo do meu corpo, me enforcando.E bem ali, antes que o meu último suspiro fosse arrancado de mim, eu prometi, com a força dos relâmpagos e da chuva que caía lá fora e me atingia:— Eu voltarei e me vingarei. Vocês irão passar o resto da vida se arrependendo de terem cruzado o meu caminho. Isso não é uma promessa; é uma maldição.Capítulo 88 A mansão estava envolta em um silêncio profundo, um silêncio que parecia ser o prenúncio do fim. O sol mal havia começado a despontar no horizonte, trazendo uma leve luz dourada que tocava as paredes imponentes da casa, mas para Dandara e Paco, parecia que a escuridão estava os envolvendo ainda mais. Após todas as revelações — as palavras de Jack, a dor de Gael, os segredos que haviam vindo à tona —, eles estavam tentando juntar as peças do quebra-cabeça, tentando entender como suas vidas tinham se entrelaçado não apenas nessa linha do tempo, mas ao longo das várias existências que viveram e morreram. A conexão que existia entre eles era muito mais do que o que viam na superfície; era algo mais profundo, imensurável, e ainda assim, tão fragilizado pelas circunstâncias. Na manhã seguinte, Dandara encontrou-se de frente para o espelho no quarto. Ela não sabia o que esperar da vida dali em diante. As visões, os sentimentos, tudo parecia girar, tudo tão confuso ainda, co
Capítulo 87 A mansão estava envolta em um silêncio estranho quando o carro parou na entrada principal. O retorno foi lento, cada um mergulhado em seus próprios pensamentos. Paco estacionou o veículo e saiu primeiro, lançando um olhar para Dandara e Gael. Ambos estavam visivelmente desgastados, mas era Gael quem parecia carregar o maior peso.Sem dizer nada, os três caminharam até a porta principal, onde Diane, curiosamente ausente de seus comentários usuais, observava da escadaria com uma taça de vinho. Ela os encarou, a expressão intrigada, mas não disse uma palavra.Foi então que Jack apareceu, emergindo do escritório com passos deliberados e a postura tão imponente quanto sempre.— Finalmente — disse ele, com sua voz rouca e cheia de autoridade. — Estava esperando por vocês.Os três pararam, trocando olhares cautelosos. Havia algo no tom de Jack que os deixava alerta.— Tem algo a dizer, Jack? — Paco começou, cruzando os braços, seu tom carregado de impaciência.Jack sorriu de can
Capítulo 86 Gael voltou ao quarto de Solène com passos mais lentos e mente pesada. Ele fechou a porta atrás de si, inclinando-se contra ela por um momento antes de se aproximar da cama. Já tinha sua decisão.— É isso, então? — murmurou, olhando para ela. — Todos dizem que chegou a hora. Que eu preciso deixá-la ir. Mas o que significa realmente deixar você ir, Solène?Ele puxou uma cadeira para perto da cama e sentou-se, segurando a mão dela. Era fria, como sempre, mas ainda era um contato. Ainda era algo que ele podia segurar enquanto sentia que estava caindo.— Por tanto tempo, eu esperei por uma resposta — continuou ele, a voz baixa. — Por um sinal de que você me perdoaria, ou de que isso faria sentido. E agora... mesmo depois de tudo, eu ainda não sei.Seus olhos encheram-se de lágrimas, mas ele não deixou nenhuma cair. Respirou fundo, os dedos apertando levemente a mão dela.De repente, houve uma batida suave na porta. Gael se levantou de imediato, o corpo rígido como uma mola.
Capítulo 85O silêncio no quarto de hospital era quebrado apenas pelo leve som do monitor cardíaco, marcando o ritmo constante e frágil de Solène. Gael estava sentado ao lado da cama, suas mãos apertadas em punhos sobre o colo. Ele ainda não conseguia tirar os olhos dela. A mulher que amara profundamente, cuja vida estava suspensa em um fio tênue por sua causa."Você está presa aqui porque eu errei, porque eu era um idiota egoísta e te arrastei comigo..."Esses pensamentos o assombravam constantemente, e agora, mais do que nunca, ele sentia o peso de sua indecisão. Era ele quem tinha a chave para libertá-la desse tormento ou deixá-la nesse limbo permanente.Os minutos passavam lentamente enquanto Gael permanecia imóvel, o rosto marcado pela tensão.Finalmente, ele se levantou, aproximando-se da cama. Ele olhou para ela por um longo momento, como se tentasse memorizar cada detalhe de seu rosto — os traços que ele amava, as curvas suaves de suas feições que agora pareciam fantasmagórica
Capítulo 83Gael continuava de pé ao lado da cama, os olhos fixos em Solène. O conflito interno era evidente em sua postura tensa, no aperto das mãos. Ele respirou fundo antes de se virar para Dandara e Paco, que ainda permaneciam no quarto.— Eu preciso ficar sozinho com ela — disse, a voz baixa, mas carregada de um peso quase insuportável. — Isso é algo que só eu posso decidir.Dandara e Paco trocaram um olhar antes de acenarem, respeitando o pedido. Sem dizer mais nada, ambos deixaram o quarto, o silêncio os acompanhando pelo corredor até a saída do hospital.Lá fora, a noite estava fria, e a chuva havia diminuído para uma garoa fina. Paco colocou as mãos nos bolsos, sua expressão ainda carregada pela tensão acumulada no hospital. Dandara permaneceu em silêncio ao seu lado, lutando para processar tudo o que tinha acontecido naquela noite.Finalmente, Paco parou de andar e virou-se para ela, quebrando o silêncio.— Você viu o que está acontecendo com Gael? — ele começou, a voz rouca
Capítulo 82O ar no quarto parecia mais denso, como se o tempo estivesse suspenso. Gael olhou para Solène, imóvel na cama, com os aparelhos monitorando a única vida que ainda restava nela. O monitor cardíaco emitia seus bipes lentos e constantes, mas o som que sempre o consolava agora parecia zombar de sua incapacidade de tomar uma decisão.Dandara permanecia em silêncio, sentindo a opressão daquela atmosfera. Ainda havia o desconforto de encarar a mulher diante dela, que era tão parecida consigo. Essa semelhança a perturbava mais do que queria admitir.— Ela está aqui há quanto tempo? — Dandara perguntou, a voz baixa, quebrando o silêncio.Gael não desviou os olhos de Solène.— Quatro anos.Dandara engoliu em seco, assimilando aquela revelação. O olhar de Gael estava perdido, mas sua mandíbula estava tensa, denunciando a luta interna que travava.— É para cá que você sempre vem quando diz que tem suas viagens? — ela questionou.Gael assentiu lentamente.— Todas as semanas. Não import
Último capítulo