A volta da herdeira bilionária
A volta da herdeira bilionária
Por: Maddu Nascimento
Capítulo 1

— Talvez eu morra essa noite, Zélia. – Sussurro. – É uma linda noite para morrer, você não acha?

A mulher apenas nega com a cabeça, provavelmente cansada de todos os meus comentários mórbidos, mas daquela vez era diferente.

Sinto o ar queimando enquanto entra em meus pulmões. Ainda que sinta frio em meu corpo todo, o suor atravessa os lençóis da cama a qual estou deitada. É noite e a brisa noturna balança as cortinas da janela e eu tento me concentrar naquele movimento na esperança de parar de sentir a dor que ameaça parar o meu coração. E apesar de me sentir assim, existe algo no mais profundo do meu coração que me dá esperança. Sei que preciso lutar, porque a vida ainda me reservava coisas incríveis, mesmo no meio de tanta dor.

O som da televisão chama a minha atenção e eu sigo o seu olhar para a tela, apenas para sentir meu sangue gelar.

— As indústrias LeBlanc realiza hoje a festa anual de fundação de 50 anos da empresa. — Um jornalista informa em frente a enorme mansão que aparece iluminadas com luzes fluorescentes demais. — Atualmente a família LeBlanc é responsável pelo alto crescimento econômico da história do país...

Fecho os olhos enquanto ainda escuto aquelas palavras rodando em minha cabeça, me forçando a não me deixar ser invadida pelas memórias, mas eu já não tinha tanta força assim para resistir a qualquer coisa. Dias definhando em uma cama não me fortaleceram. Ouvir relatos da minha família daquele modo era impessoal demais, como se eu já não tivesse vivido as mais lindas memórias ao lado deles.

— A senhora sente falta? — a voz da minha empregada chega aos meus ouvidos.

— Nem um pouco. — Murmuro, a voz fraca. — Uma família de verdade não te banirá e te tratará como se você não existisse só porque você não fez algo que eles não queriam que fizesse.

— Mas a senhora perdeu tudo. Não se arrepende? — ela insiste.

— Às vezes vale a pena perder tudo por amor. — Eu sussurro e tento sorrir, mas isso não dura.

No mesmo instante sou acometida por uma forte crise de tosse, mais uma. Zélia me estica um lenço branco e levo aos lábios, abafando aquela tosse. Quando finalmente afasto aquele tecido, estou arfando ao observá-lo completamente rubro.

Levanto meu olhar para Zélia, e vejo o medo cintilar em seus olhos. O arrepio em minha espinha retorna, e era como se pudesse sentir a morte a minha espreita.

— Por favor, chame o meu marido. — Peço em um sussurro coberto de amargura.

— Sim, senhorita LeBlanc. — No mesmo instante ela sai correndo.

O modo que ela diz o meu nome me faz jogar a cabeça no travesseiro e repensar como foi a minha vida. Como cresci em um lar feliz e rico de modo colossal, porque eu era a única herdeira das indústrias LeBlanc, mas aquele título me foi tirado quando me apaixonei de maneira irreversível por Curtis. Um homem pobre.

Ainda estou com os olhos fechados, porque mesmo que o quarto esteja a meia luz, a claridade ainda arde em minhas retinas. Ouço um barulho na porta e passos pesados no assoalho do quarto.

— Curtis, é você? — pergunto e tento sentar em minha cama.

Pela penumbra só consigo visualizar uma silhueta e rapidamente me dou conta de que não é o meu marido.

— Quem está aí? — pergunto, ficando em alerta.

A figura em minha frente finalmente se revela e vejo que se trata de uma mulher. Era alta, os cabelos escuros como uma noite sem luar, a pele pálida, os lábios pintados de vermelho que sorriam largamente para mim, me encarando de cima enquanto estou deitada naquela cama.

— A grande Dandara LeBlanc! — ela finalmente fala e se senta na cadeira onde minha empregada estava minutos antes, cruza as pernas e vejo o seu salto alto.

— Quem é você? O que faz aqui? — pergunto, e odeio a fraqueza em minha voz.

Estou desnorteada. Sinto o peito pegar fogo, o gosto amargo me invadindo pela cólera de ter uma estranha em meu quarto.

Ela apenas sorri e j**a os longos cabelos longos para trás, e nesse mesmo instante os meus olhos pararam nos brincos em suas orelhas. Os diamantes que cintilavam, os diamantes que me pertenciam.

— Onde está o meu marido? — indago e olho para os lados, buscando qualquer coisa com a qual pudesse me defender.

Ela apenas sorri outra vez.

— Soube que você perdeu a criança. — Ela comenta, cruel e friamente.

As lágrimas tentam descer dos meus olhos, uma dor que estilhaça a minha alma. Sentia o vazio doloroso em meu ventre, uma escuridão eterna em meu ser, um buraco no meu coração no lugar que deveria ter sido ocupado pelo meu bebê. Isso era um adeus que eu me recusava a dar.

— Como sabe que... — minha voz sai como um sussurro.

Apenas eu e Curtis sabíamos da minha gravidez a não ser que...

E então, como peças de um dominó tudo começa a encaixar em minha cabeça, e eu simplesmente não queria aceitar aquela verdade. Os brincos que estavam em suas orelhas eu havia oferecido a Curtis para que ele pudesse os manter em um lugar seguro porque aquilo iria nos garantir ao menos dois anos sem precisar se preocupar com dinheiro.

— Vejo que mesmo moribunda você ainda consegue ser inteligente. — A voz da mulher encheu o quarto.

Eu não podia acreditar no que tudo aquilo significava. Curtis me traía, me enganara enquanto eu definhava em uma cama por meses a fio.

— Quero que saia daqui. — Tento gritar e me levantar.

Ela fica em pé no mesmo instante, me impedindo e está sorrindo quando tira um pequeno frasco do bolso do seu vestido. Ela abre lentamente e o cheiro me invade as narinas. Sinto meu estômago se revolver. O mesmo cheiro do chá que Curtis fez para mim duas semanas antes, duas semanas antes de sofrer um aborto espontâneo.

— Vocês armaram tudo. — Sussurro quando a clareza me abraça com mais força. — Você... O Curtis... — pisco e minhas lágrimas descem, a raiva e decepção me embriagam.

— Finalmente você entendeu tudo. — Ela pisca os olhos escuros para mim. — Agora você precisa continuar tomando o seu chá...

Ela imediatamente tenta forçar aquele frasco sobre os meus lábios, a revelação anterior e a minha doença me deixam ainda mais fraca que não tenho força para lutar contra o líquido que cai em meus lábios. Grito quando ela se afasta, de dor, raiva e medo.

— Eu estou fazendo um favor a você. — Ela diz gentilmente. — Ninguém jamais amará você, apenas o seu dinheiro. Estou te libertando desse fardo.

Ouço a sua gargalhada cortando a noite e bem assim, ela sai desfilando do meu quarto. Tentei levantar, sair da cama e segui-la, mas tudo que consegui foi cair no chão gelado daquele quarto, enquanto sentia o meu pulmão queimando, a fraqueza querendo me vencer e a dor da decepção e traição rasgar o meu peito.

Outra crise de tosse me atinge, e dessa vez, eu sabia que era o fim. Me sinto sufocada com o meu próprio sangue enquanto sinto e posso ver a minha vida se esvair sobre mim. Sangue jorra dos meus lábios e como um mal presságio o vento forte consegue abrir as minhas janelas, e uma tempestade começa a cair, encharcando a minha camisola branca enquanto agonizo naquele chão. Os trovões explodem em meu ouvido, o frio me enforca, grito alto, mas ninguém escuta.

Quando olho em frente vejo a tv ligada, assisto a imagem da minha antiga casa, dos meus pais e de toda a vida que renunciei por um amor que jamais existiu. Sinto a culpa me engolindo bem ali, a sensação letal de ódio me tomando por completa porque acabei de perceber que a minha família iria perder tudo por minha causa. Sinto a raiva envenenando cada átomo do meu corpo, me enforcando.

E bem ali, antes que o meu último suspiro fosse arrancado de mim, eu prometi, com a força dos relâmpagos e da chuva que caía lá fora e me atingia:

— Eu voltarei e me vingarei. Vocês irão passar o resto da vida se arrependendo de terem cruzado o meu caminho. Isso não é uma promessa; é uma maldição.

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