Capítulo 2

A primeira coisa que sinto é a forte pressão em meu peito. O mundo que havia se escurecido ao meu redor foi se iluminando até que vi o rosto familiar de Zélia. E é quando percebo que estou de volta a vida.

 — Graças a Deus! — é a voz de Zélia, e quando abro os olhos, a vejo tirando as mãos do meu coração. — Você estava morta... — murmura ela. Sua voz está estrangulada, seus olhos me encaram arregalados, enquanto eu me sento com as mãos no meu coração.

As palavras que saem da boca de Zélia me deixam desnorteada, porque nada daquilo fazia sentido. Me vejo tentando resolver os enigmas por trás daquela informação, mas tudo que consigo é ficar ainda mais confusa. 

O que ela diz segue rodando em minha cabeça, e antes que eu possa reagir, percebo que toda a minha dificuldade para respirar havia ido embora, como se nunca tivesse existido. Levantei-me daquela cama, mas sem a fraqueza que me dominava antes.

Ciente do olhar de Zélia sobre mim enquanto eu caminho até a janela, vejo a tempestade que rugia no céu. Assim acontecia em meu coração: algo rugia fortemente dentro de mim. Olho para minhas mãos, não estão mais trêmulas ou frágeis. 

Aquilo não poderia ser possível, não é? Não existia a menor possibilidade de eu ter morrido e depois ter acordado assim, como se tivesse tido apenas um sono profundo. Me vejo amedrontada, questionando o que aquilo poderia significar. Se eu morri, mesmo que fosse por alguns instantes, significava que todos os meus sonhos também morreram? Que eu era uma nova pessoa? Me vejo completamente perdida em meio aos meus receios. 

Sou interrompida das minhas indagações quando um bip no meu notebook ao lado, chama minha atenção. Deslizei os meus olhos até a tela e li aquelas palavras:

´´Você é a minha filha, e apenas por isso estarei te dando uma segunda oportunidade: Sua prima se casará amanhã e essa festa irá te ajudar a escolher um noivo ideal. Pense bem, é a sua última chance de voltar a família. ´´

Minha cabeça começa a fervilhar, as peças se juntando perfeitamente em minha mente.

O que tudo aquilo significava? Eu me sentia completamente renovada, como se tivesse... Renascido!

Me dou de conta então, de que não importava como aquilo aconteceu ou se era realmente possível, porque a verdade era apenas essa... Eu morri, e agora estava de volta ao início, com a possibilidade de refazer todas as minhas escolhas e jamais cometer os mesmos erros. 

Sinto o meu coração implodir de alegria, a euforia me invade ao perceber a sorte que bateu em minha porta, depois de tanto tempo. 

Refaço todos os últimos acontecimentos em minha mente, releio a mensagem da minha mãe, sinto a vida correndo em minhas veias... Eu realmente estava de volta. E dessa vez agarraria todas as minhas chances. 

— Zélia — chamei por minha empregada e com um largo sorriso no rosto, informei: — Pegue suas coisas. Iremos voltar para mansão.

***

No dia seguinte, o sol brilhava fortemente no mesmo instante em que coloquei os meus pés para fora do carro. A primeira imagem que veem de mim são os saltos altos, o longo vestido vermelho de cetim o segue. Assim que chego no meio daquele jardim, todos os olhares pousam sobre mim. Perplexos, como se estivessem vendo um fantasma, mas eu jamais estive tão viva. Eu estava de volta a minha elite, a tudo que era meu por direito, o lugar de onde jamais deveria ter saído. 

Me sinto reluzente, a sensação de que ainda conseguia fazer qualquer espaço em que entro cintilar. Me pergunto como e o porquê passei tanto tempo sendo uma garota boa demais, e esqueci de como o mundo era imenso em demasia para que eu escondesse todo o meu brilho.

— Você decidiu. — Ouço uma voz feminina parando ao meu lado.

Me viro e vejo minha mãe me entregando um singelo sorriso, ela vestia um brilhante vestido rosa e os cabelos loiros estavam presos para trás.

— Era a minha última chance, não era? — comentei, sorrindo.

Gostaria de dizer que havia sentido sua falta, que passei os últimos meses perdida, mas agora finalmente havia me encontrado. 

— Por que mudou de ideia? — ela perguntou, curiosa. — Você parecia bastante decidida em abandonar toda a sua vida por um amor imaturo e ingênuo. 

Dou um risinho baixo, porque pela primeira vez minha mãe havia sido sensata. Apesar que se alguém tivesse me dito, meses antes, as palavras que saíram da sua boca provavelmente eu me levantaria e brigaria com essa pessoa, mas a verdade era que minha mãe tinha razão. E eu deveria ter ouvido os seus conselhos bem antes e ter fugido de um amor dissimulado enquanto tinha tempo.

— A senhora já ouviu a expressão: ´´Há claridade na morte? ´´ — comecei e ela me encarou, confusa. — Foi assim que mudei de ideia.

Minha mãe me encarava como se eu dissesse apenas palavras sem nexo, mas eu sabia perfeitamente bem o que aquilo significava. 

— Isso é uma piada, Dandara? — sua voz levanta algumas oitavas, mudando de expressão e humor rapidamente.

A encarei confusa, mas os seus olhos estavam presos para a entrada do jardim, para o homem vestindo um terno cinza, que rodava com os olhos todo aquele espaço. Sinto o sangue correndo quente em minhas veias, o sabor amargo em minha garganta. Não sentia dor, ou qualquer amor renegado, sentia o ódio letal sobre mim. O gosto de vingança que deixava os meus lábios secos.

— Eu resolvo isso, mãe. — Digo, antes de atravessar aquela multidão.

Quando paro em frente aqueles intensos olhos cor de avelã, sinto vontade de vomitar porque aquele sorriso me enojava agora.

— Meu amor, está tudo certo. — Curtis anuncia e tenta pegar em minha mão que mantenho bem distante do seu toque. — Partiremos no final da tarde.

Eu abro um largo sorriso, algo que Curtis interpreta como felicidade pela nossa fuga secreta. Mas estou sorrindo ao perceber que eu estava realmente tendo uma segunda chance, estava revivendo aquele dia, e eu teria todo o poder de decidir: se seguiria com um homem que me arruinaria em um futuro não muito distante, ou se escreveria o meu próximo destino. 

Não era uma escolha tão difícil.

— Você partirá sozinho. E agora. — Digo, cruel e friamente.

Curtis me olha confuso, com aquela expressão de anjo que um dia acreditei cegamente, mas que no final a sua face maquiavélica foi revelada.

— Não entendo. — Ele murmura, os olhos piscando freneticamente com a confusão. — Você...

— Não é difícil de entender. — O interrompi. — Eu só estou me recusando a ficar com você. É tão doloroso para o seu ego receber um não de uma mulher como eu?

Curtis abre a boca e fecha repetidas vezes, como se tentasse processar tudo que aconteceu nos últimos minutos. E eu só sabia que não precisava mais daquilo. E com um olhar discreto para o lado, os dois seguranças que estavam na entrada do jardim, se aproximaram no mesmo instante, atendendo o meu pedido.

— Levem esse homem daqui, não permitam que se aproxime outra vez. 

Dei as costas para Curtis e eu sentia um peso sendo retirado do meu peito, a sensação de alívio em saber que não teria o destino que me foi revelado na última noite. 

Antes mesmo que eu pudesse continuar o meu caminho ouvi o meu nome sendo chamado. Eu conhecia aquela voz, pertencia a mulher que em minha velha vida foi a responsável por enfiar garras afiadas e sujas em meu coração. A mulher de longos e escuros cabelos atravessou aquele jardim, me alcançando por fim.

— O que você fez? — ela esbravejou, completamente exaltada. — Por que o negou?

Era só cômico assistir aquela mulher desesperada em minha frente, não parecia a mesma pessoa que na última noite havia me olhado como se uma fosse uma antiga e velha tendência, tão superior a mim... E agora parecia implorar para que eu lhe entregasse a mínima chance de no futuro ela me destruir de verdade. 

— Do que você precisa? — perguntei, gentilmente. 

— O Curtis ama você! — ela insistiu, os olhos negros e cobertos de ódio. — Não pode simplesmente mudar de ideia agora.

Eu sorri e me aproximei daquela mulher lentamente, até chegar à altura dos seus ouvidos e finalmente sussurrei:

— Foi exatamente isso que eu fiz. Eu falei que voltaria e faria vocês se arrependerem de tudo... E a minha palavra vale diamantes. 

Sorri ao me afastar e aquela mulher só parecia confusa o suficiente enquanto me assistia reluzir através dela. 

— Vocês sabem o que fazer. — disse aos seguranças outra vez e finalmente segui o meu caminho. 

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