Narrado por Mia Walker
A arma ainda estava no chão quando deixei o porão. Meus dedos ainda tremiam, mesmo que minha voz não tivesse falhado diante dele. Mikhail. Aquele homem que um dia representou o pior da minha existência e, hoje, era também o motivo de eu continuar acordando. Eu poderia tê-lo matado. De verdade. Poderia ter encerrado tudo ali, num estalo. Mas abaixei a arma. Porque, no fundo, acho que eu teria morrido junto.
Subi as escadas devagar. A mansão estava mergulhada num silêncio estranho, quase respeitoso. Fechei a porta do meu quarto e encostei as costas nela, como se estivesse tentando impedir o mundo de entrar. Passei a noite em claro. Pensando. Revivendo. Repetindo cada gesto, cada olhar, cada frase dita naquele porão gelado. Por que ele não se mexeu quando apontei a arma? Por que ele aceitou? Por que me olhou como se eu fosse a única coisa que ainda valia a pena?
Deitei sem trocar de roupa. O frio da noite não me incomodava mais. Eu já estava congelada por dentro.
N