O dia estava cinza, como se o mundo tivesse decidido combinar com o que eu sentia por dentro. Matheus tinha saído para uma consulta com a terapeuta, e pela primeira vez em muito tempo, eu estava sozinha.
No sofá, com as mãos descansando sobre a barriga que começava a tomar forma, eu encarava o teto sem realmente ver nada. A maternidade…
A palavra pesava.
Não era o bebê. Nunca foi o bebê.
Era o medo de ser como minha mãe, que se anulou por anos. Ou como eu mesma fui, com Gabriel — cega, pequena, encolhida para caber em um relacionamento que me diminuía.
E se eu não soubesse proteger esse filho? E se eu amasse demais, ou de menos? E se o medo voltasse a qualquer momento, como voltava agora?
Uma batida na porta me tirou do torpor. Era Beatriz.
— Trouxe uma coisinha pra você — disse, entrando com um sorriso caloroso e uma sacola de papel kraft. — E pra esse serzinho aí que já tá fazendo você brilhar.
Sorri, mesmo sem saber se era verdade.
— Você tá bem? — ela perguntou, sentando ao meu la