Mundo de ficçãoIniciar sessãoLavínia acorda confusa, mais uma vez, não sabe onde está. Ela respira fundo e tenta se mexer, mas sente algo prendendo-a à cama. Ao olhar para baixo, percebe que está amarrada. As cintas grossas de couro envolvem suas pernas, tronco e braços, impedindo-a de se mover um milímetro sequer.
Desesperada, percorre o quarto com os olhos. Este lugar é diferente do anterior: as paredes ainda são brancas, mas o material é outro. Não há janelas, e a porta de ferro é grossa como uma parede. No quarto, não há nada além da cama onde ela está e outra, mais à frente; o teto é alto, e as lâmpadas emitem uma luz diferente. Também não há interruptor. Claramente, o quarto foi feito para prender pessoas, não para tratá-las. Lavínia pensa em gritar, mas, assim que abre a boca, Allister entra, empurrando a porta como se fosse feita de papel. Os dois se encaram por alguns instantes, e ele se aproxima. - Está mais calma? _ Ele pergunta com voz baixa e suave, como se tentasse não assustá-la. - O que está acontecendo? Por que estou aqui? Ele se surpreende com a pergunta e se aproxima mais. - Você não lembra? Ela nega com um movimento de cabeça, e ele franze a testa, preocupado. - Talvez isso te ajude a lembrar... Ele fala, e em segundos seus olhos ficam totalmente brancos. As lembranças invadem a mente de Lavínia como uma pancada. Por alguns minutos, ela fica atordoada, mas logo entra em pânico novamente, gritando para que ele a tire dali. Allister observa em silêncio, impassível, como se ali não existisse emoção alguma. Quando Lavínia finalmente se cala, ele sai do quarto e retorna em seguida com uma tesoura e uma cadeira. - Está mais calma agora? Não adianta gritar por socorro, este quarto é à prova de som... _ Diz enquanto corta as tiras grossas que a prendem. Quando termina, ela tenta se levantar, mas ele se aproxima, como se quisesse deitar sobre ela. O perfume dele, a proximidade do corpo quente e rígido como uma rocha tiram totalmente a concentração de Lavínia, que apenas se cala e encara aqueles olhos negros como a noite. - Se eu fosse você, ficaria quieta. Não tente se levantar, sua perna pode piorar... _ Ele sussurra perto do ouvido dela. A voz rouca percorre seu corpo como um arrepio. Ela fecha os olhos, tentando recuperar o fôlego, e agradece aos céus quando ele se afasta. Ela permanece de olhos fechados por alguns minutos, tentando organizar os pensamentos. O quarto está em completo silêncio, não se ouve nem mesmo a respiração de Allister. Quando se sente mais calma, finalmente abre os olhos e o vê sentado, uma perna cruzada sobre a outra e os braços apoiados sobre ela. A expressão dele permanece impassível, os olhos cravados nela sem desviar um segundo sequer - Não vai perguntar nada? _ ele finalmente quebra o silêncio. Muitas perguntas passam pela mente de Lavínia. - Minha mãe... ela já chegou? O que você vai dizer a ela quando não me encontrar no quarto? Ele olha o relógio e depois volta o olhar para ela. - Vai depender de você. Ainda são 2h45; ela chega às 6. Até lá, posso te levar novamente para o quarto, e então ela nem vai imaginar que você saiu. Lavínia sente um lampejo de esperança. - Então você não vai me matar? Ele arqueia levemente a sobrancelha, surpreso com a pergunta, e então j**a a cabeça para trás, soltando uma gargalhada estridente que fere seus ouvidos. - Oooh, garota... Me nego a acreditar que você seja assim tão burra... - Não precisa me ofender... - Inevitável diante dessa pergunta... Qual seria o nome certo? Descabida. Esse é o nome certo. Se eu te quisesse morta, você já estaria morta, aliás... nem teria sobrevivido àquela festa... Ele pronuncia a última frase em voz baixa, quase um sussurro, despertando lembranças em Lavínia. - O que eram aquelas coisas? Quem é você, afinal? Allister sorri satisfeito, eram essas as perguntas que ele queria ouvir. - Aquelas coisas são lobisomens. O Clã Sentinelas da Morte, para ser mais exato. Eles são inimigos mortais do nosso clã; estamos em guerra há décadas... Mas desta vez foram longe demais. Há um acordo, e eles o quebraram... _ Allister sussurra como se falasse para si mesmo. - E eu sou Allister Morgan, futuro Alfa do Clã Escarlate e filho do Alfa.. Vim de uma linhagem de alfas que começou a séculos atrás, talvez até milênios! _ Ele fala com orgulho, surpreso quando Lavínia não reage. Ela luta para acreditar que tudo é real. - O que eles queriam comigo? _ ela pergunta finalmente. - Te matar. Achei que fosse óbvio! - Mas por que eu? - Porque você era a presa mais fácil no momento. Na verdade, você evitou uma carnificina. Descobri que planejavam invadir a festa e matar o máximo de gente possível, mas você desviou a atenção e deu tempo para reagirmos. Lavínia ri com deboche. - Acho que mereço uma medalha, não é mesmo? Allister a observa com curiosidade. - Havia crianças lá. Filhos de humanos que dormiam na mansão ao lado, sem ideia do risco que corriam... Ele fala calmamente, e um arrepio percorre Lavínia. - Nem todos eram lobisomens, a maioria eram humanos, acionistas, sócios e funcionários... - Espera... como você fez para que confirmassem que eu caí da escada? - Pura sorte. A festa já acabava; todos os humanos já haviam ido dormir. Ficaram apenas os lycans, e como todos estavam envolvidos na briga, disseram apenas o que tinham que dizer. - Como você me achou? - Aaah, isso... precisei de você, fui procurá-la e não encontrei. O segurança disse que você saiu sozinha estrada afora. Fiquei preocupado, fui atrás, senti o cheiro dos Sentinelas, voltei e informei aos outros, rastreamos seu cheiro e o restante você já sabe. Lavínia respira fundo, sentindo o corpo doer. - E agora, o que vai ser? Allister fica em silêncio, e Lavínia percebe uma sombra escurecer seus olhos. - Agora você vai para minha fazenda até se recuperar... - Por que você insiste nisso? Ele a encara por alguns segundos e responde: - Porque você corre mais perigo agora do que correu naquela noite! Ele percebe que Lavínia entende a gravidade da situação e continua: - Você viu demais. Viu nossa existência, nossa aparência e sabe quem somos. Agora não são apenas os Sentinelas que querem você morta, meu próprio clã também quer. Lavínia fica em silêncio. A seriedade da situação a atinge com força. - Por isso quero levá-la para minha fazenda. Sou futuro alfa, minha palavra está abaixo apenas da do meu pai. Lá, ninguém se atreveria a te machucar. É o único lugar seguro para você neste momento! - Mas e minha família? - Não se preocupe, eles estão a salvo, não são do interesse dos clãs. Mas você é, e, se quiser continuar viva, terá que fazer sua mãe concordar. Entendeu? Lavínia encara Allister por alguns segundos e surge uma dúvida em sua mente. - Por que você está me protegendo? - Digamos que me sinto responsável pelo que aconteceu! — ele dá de ombros, como se fosse irrelevante. - Digamos que você é! Se tivesse me ouvido, eu teria ido para casa em segurança... - Se tivesse te ouvido, talvez pais e mães estivessem chorando a morte de seus filhos... ou talvez não sobrasse muitos de nós para chorar... Você foi um mal necessário... Ele dá de ombros, e Lavínia se sente menosprezada. - Obrigado por deixar claro que não sou importante. Pode me mandar pra casa, aceito as consequências e você pode viver tua vida de glamour, esquecendo minha existência... o que não seria difícil! Allister a encara por alguns segundos, olhos indecifráveis deixando Lavínia desconfortável. - Se não fosse importante, eu não estaria assumindo a responsabilidade por você, não estaria brigando contra minha família para mantê-la viva... E você consegue mesmo assumir as consequências? Mesmo que envolva sua família? A pergunta a atinge como um soco. Ela entende o perigo que sua família corre. - Ok... concordo em ir para sua fazenda e farei minha mãe concordar. Ele sorri. - Então irei levá-la de volta ao quarto! Ele abre a porta de ferro, pegando Lavínia no colo sem dar tempo para ela reagir. Ela, pega de surpresa, apenas aceita. Ela envolve os braços sobre o pescoço dele, sentindo seu corpo reagir à proximidade; ele percebe e a encara por um momento. - Está desconfortável? Desculpe, mas as enfermeiras estavam proibidas de entrar aqui, então terei que levá-la assim mesmo. - Tudo bem... só... estou um pouco cansada, a noite foi longa. _ ela gagueja. Ele sorri. - Eu sei, mas logo poderá voltar a dormir. Deite a cabeça no meu ombro relaxa, o caminho até o quarto é curto, logo estará na sua cama. - Não... imagina, não precisa, estou bem assim... _ ela fala aflita. Aproximar-se mais talvez não fosse uma boa ideia. - Pensei em ir de elevador, mas haverá gente lá; vamos pela escada de trás, não quero que ninguém veja você assim. “Assim?” Lavínia pensa. - Assim como? _ pergunta, confusa. Ele a observa atentamente. - Assim. Com cabelos bagunçados, roupa larga... _Ele fala, contendo um riso. “Merda. Devo estar horrível. Há quanto tempo estou sem banho? Sem escovar os dentes?” _ pensa, sentindo vergonha e náusea. - Calma, você não está tão mal assim. Na verdade, diria que nem toda essa situação tirou sua beleza. Ele a encara novamente e sorri. - Duvido muito... _ ela sussurra. - Não sou mentiroso. Você é tão naturalmente bonita que, mesmo bagunçada, fica mais bela que a maioria. Ele diz com um sorriso de canto de boca. Ela se pergunta se ele é apenas gentil ou sincero, mas decide deixar pra lá, há coisas mais importantes para se preocupar. Ao chegarem ao quarto, uma enfermeira os espera com a porta aberta. Ele a coloca na cama, e a enfermeira pergunta se ela está com dor. - Sim, o pé dói um pouco... _ diz, extremamente cansada. - Ok, vou pegar um remédio e já volto. - Moça, por favor, não me dê remédios que me façam dormir, estou cansada de acordar e não saber onde estou. A enfermeira olha para Allister, que concorda com um movimento de cabeça. - Me tira uma dúvida, Allister... É você quem vai me proteger? Ou terei seguranças? Ela pergunta assim que a enfermeira sai. Ele pensa antes de responder. - Não posso confiar em ninguém neste momento. Nem mesmo nos meus amigos mais próximos. A segunda principal regra do clã é: a segurança do clã sempre em primeiro lugar. Isso quer dizer que, se dependesse deles, você já estaria morta e quem a matou seria considerado herói, mas como a primeira regra é: a palavra do alfa está acima de qualquer coisa, eles não podem fazer nada... A enfermeira chega e aplica o remédio. Allister espera ela sair e continua: - Decidi que você viveria. Agora você é minha responsabilidade. Enquanto estiver indefesa, cuidarei de tudo... - E depois que eu me recuperar? Allister se cala. - E depois? _ Lavínia insiste, já sentindo o medo dominar sua mente. - Espero que tudo esteja resolvido até lá. O médico disse que você poderá voltar a andar normalmente entre seis e oito meses, tempo suficiente para resolver tudo. Ele não responde, mas Lavínia não insiste. Cansada, decide terminar a conversa e tentar dormir. Ele deita ao lado dela e logo adormece; porém, Lavínia, apesar do cansaço, não consegue. Vira-se na cama diversas vezes, acordando Allister. - Está tudo bem? Ainda não dormiu? _ ele pergunta com voz levemente rouca. - Não consigo dormir... _ ela sussurra. Ele se levanta e puxa a cama para mais perto dela, como se fosse feita de isopor. - Ei, quero que relaxe, tá bom? Sei que foi muita informação para um dia só, mas você precisa descansar. Não se preocupe com nada; estou aqui e não vou deixar ninguém te machucar, eu prometo! Ele volta para a cama e estende a mão para segurar a dela. Lavínia não entende o motivo, mas imediatamente se sente mais segura; seu corpo relaxa, e adormece em minutos.






