Na fria e austera Áustria, o Natal traz consigo o rigor do inverno e as sombras de lendas ancestrais. Nicoll Krueger, conhecido como o temido "Krampus da Máfia", nasceu em uma noite de Natal. Mas ao contrário do bom velhinho, Nicoll é a personificação do terror e do poder. Um homem que toma o que deseja, guiado por uma ambição tão gelada quanto os ventos que castigam as montanhas. Analia, filha do caseiro de Nicoll, cresceu à sombra de sua presença avassaladora. Com uma beleza que rivaliza com a serenidade dos campos nevados, ela chamou a atenção do mafioso. Agora, ele decidiu: ela será sua noiva. Mas tornar-se a Senhora Krueger é uma sentença que ninguém desejaria. Não há escapatória, não há escolha – apenas o peso do destino. Na noite de Natal, quando as trevas se aprofundam e a lenda do Krampus ganha vida, Analia terá que enfrentar não apenas o homem que deseja possuí-la, mas também as forças sombrias que ele carrega. Pois há mais em Nicoll do que a máfia e o poder: há algo demoníaco, um legado sombrio que ele abraça a cada solstício. Será o amor suficiente para resistir à escuridão? Ou Analia será consumida pelas sombras de um homem que nasceu para governar – e destruir?
Leer másO Primeiro Encontro com o Krampus
Analia
A memória daquele Natal, tantos anos atrás, ainda me causa arrepios. Eu tinha dez anos e vivia com meus pais na propriedade da família Krueger, nas montanhas da Áustria. Naquele ano, a neve caía mais densa, cobrindo tudo em um silêncio sufocante. Papai dizia que o frio era mais intenso porque era "um ano de renascimento". Eu não entendia o que aquilo significava, mas o que vi naquela noite ficou gravado para sempre em minha mente.
Foi a primeira vez que vi Nicoll, o "Krampus". Ele tinha quatorze anos e parecia... um ser que não deveria existir. Alto e magro, mas com uma presença que gelava mais que o vento lá fora. Ele andava pelo pátio como se o frio não pudesse tocá-lo, vestido apenas com uma bermuda escura. No rosto, uma pintura grotesca de caveira que contrastava com seus olhos sombrios, olhos que pareciam enxergar a alma das pessoas.
Minha curiosidade infantil me levou a observá-lo pela janela da cozinha, mas assim que ele virou a cabeça e nossos olhares se cruzaram, senti um frio diferente – algo mais profundo, algo que vinha de dentro. Corri para o meu quarto, meu coração batendo como se quisesse escapar do meu peito. Eu não sabia explicar o que havia naquele garoto, mas uma coisa era certa: ele não era normal.
Escondi-me debaixo da cama e tapei os ouvidos, tentando não escutar os sons que vinham de fora. A família Krueger fazia seu "ritual de Natal". Não era como aquelas histórias bonitas de cânticos, presentes e luzes. Era um desfile grotesco, com máscaras horríveis e roupas de pele de cabra, chifres erguidos para o céu. Eles imitavam o Krampus, o demônio do Natal. Mas Nicoll... Nicoll não precisava de máscara. Ele era o próprio Krampus.
Aquela noite foi o começo de uma semana sem dormir. Cada som, cada estalo, fazia meu coração disparar. Até mesmo a ideia de cruzar com Nicoll me fazia tremer. Assim, fiz o que qualquer criança faria: mantive-me longe dele. Fugir se tornou meu instinto. Eu evitava seus passos, sua voz, sua sombra. E por anos, deu certo. Eu era invisível para ele, como deveria ser.
Nicoll Krueger era o senhor daquelas terras. Mesmo jovem, todos sabiam que ele era diferente. Dominador. Perigoso. Ele não precisava se esforçar para ser temido. Para mim, ele era a personificação de tudo o que eu deveria evitar.
Mas o destino tem um jeito cruel de brincar com as coisas. E, anos depois, descobri que fugir do Krampus seria impossível.
Meu nome é Analia. Um nome comum, desses que não chamam atenção, que qualquer pessoa poderia ter. E é exatamente assim que prefiro viver: sem ser notada, invisível. Especialmente para ele.
Subo na cadeira e começo a trocar as cortinas da sala dos senhores Krueger. A luz que entra pela janela mal aquece a casa, mas ilumina o suficiente para que eu termine rápido. Faço tudo correndo, o mais depressa que consigo, porque sei que ele está chegando. Nicoll Krueger. O Krampus.
Nicoll passou os últimos anos na universidade, longe daqui. Não que ele precisasse de um diploma para provar alguma coisa. Todos sabiam que ele era um gênio, mas nenhum campus era suficiente para ele. Inteligente demais, brilhante demais, perigoso demais. Dizem que foi expulso de várias universidades, não por falta de capacidade, mas por desavenças. Ele nunca seguia as regras; ele as criava. E agora, ele está de volta.
Desço da cadeira num pulo, o coração acelerado. A ideia de cruzar com ele me deixa em pânico. Corro para fora da casa, tentando me livrar daquele ambiente pesado.
— Menina, não corra assim! — Meu pai, sempre atento, ralha enquanto corta lenha ao lado do nosso pequeno chalé.
— Ele deve estar chegando, papai. — Minha voz sai baixa, como se falar dele em voz alta pudesse invocá-lo.
Meu pai para o que está fazendo e me olha, a expressão dura e séria. Ele é um homem forte, calejado, mas até ele não consegue esconder o temor que Nicoll provoca.
— Deve, sim. E você vai ficar dentro de casa. Saia pelos fundos, se precisar, mas não apareça para o Krampus. Nem se eu estiver morrendo, ouviu bem?
Eu engulo em seco e balanço a cabeça. — Ouvi, ouvi.
Por um momento, nossos olhares se encontram, e vejo a preocupação dele. Não é só o medo que Nicoll provoca. É algo maior, algo que vai além do que podemos entender.
Corro para o chalé e fecho a porta atrás de mim. O vento uiva lá fora, mas dentro de casa é ainda mais frio. Não acendo a luz. Não quero ser vista, nem notada. Só quero ser esquecida.
Mas no fundo, eu sei. Ele sempre consegue o que quer. E um dia, ele vai me notar.
Mãe de AnáliaObservo pela janela, como quem assiste a uma vida que já não me pertence. Lá embaixo, Analia sorri, tão cheia de luz, com o filho nos braços, meu neto. Meu sangue. O filho dela com o Alfa. Um novo ciclo que eu deveria fazer parte — mas ainda não consigo.Minhas mãos tremem. Aperto a cortina, como se ela pudesse me manter em pé. Às vezes acho que só estou viva porque Jürgen quis me salvar. Porque ele me forçou a aceitar o que eu lutei a vida inteira para negar. Uma sucubus.Me odeio por isso. Me odeio por tudo.Meu nome é Leocádia, mas quase ninguém me chama assim. "Lea", ele dizia... quando ainda havia amor, quando a fome não havia devorado nossa relação. Eu me lembro do carinho, do toque... da forma como ele dizia meu nome como quem confia. Como quem pertence. E depois, o silêncio. O abandono. A dor de não poder alimentar-se do homem que amava. A dor de saber que, pra sobreviver, teria que se alimentar de outros. E foi isso que me mato.u por dentro.Abandonei Analia por
Jürgen, também chamado de NinoEu me lembro com exatidão do som da risada dela. Era leve, quase infantil, como se cada gargalhada limpasse o mundo ao meu redor. Ela entrava nos cômodos como a luz invade uma sala escura — silenciosa, mas impossível de ignorar. E eu, Jürgen, que alguns chamavam de Nino apenas por afeto, me sentia inteiro sempre que ela estava por perto.Ela era linda. Não só na aparência — embora isso também fosse verdade. Era linda na maneira como me olhava, como segurava minha mão como se o mundo fosse um lugar seguro. Cada manhã ao lado dela era uma bênção, cada beijo uma promessa muda de que aquilo podia durar para sempre.E por um tempo, eu acreditei que duraria.Eu não sabia o que ela era. Para mim, era apenas minha mulher. Meu amor. A mãe da nossa filha que ainda crescia em seu ventre. Mas havia dias em que ela se recolhia em silêncio, em que os olhos perdiam o brilho e a pele empalidecia como se uma força invisível a estivesse drenando. Eu perguntava, ela sorria
kRAMPUSEu a vi se mexer lentamente na cama, os olhos abrindo devagar, ainda sonolentos. A fome estava estampada em seu rosto antes mesmo de qualquer palavra ser dita. Eu conhecia bem aquele olhar.Aproximei-me em silêncio, sentando ao seu lado. Ela me encarou, os olhos suplicantes, e eu sabia o que ela precisava.— Está com fome, minha pequena alce? — perguntei, minha voz baixa e carregada de ternura.Ela assentiu, tímida, e se aproximou de mim, já reconhecendo o ritual silencioso que começávamos a repetir. Afastei minha camisa e ofereci meu pescoço, mas ela hesitou.— Hoje, quero que beba de mim de outra forma — sussurrei, levando sua mão até meu membro já rijo pela antecipação.Os olhos de Analia se arregalaram, mas não havia medo, apenas desejo e necessidade.— Aqui — guiei sua cabeça devagar, enquanto me recostava na cabeceira da cama. — Quero que se alimente de mim do jeito que prefere. Hoje é só nosso.Ela obedeceu sem dizer nada, e quando seus lábios me envolveram, um arrepio p
KrampusEu vi a mãe de Analia se aproximar, os olhos ainda úmidos de lágrimas enquanto segurava delicadamente as mãos da filha. Ela se ajoelhou ao lado da cama, beijando os dedos de Analia com tanta ternura que parecia querer apagar, naquele gesto, todos os anos de distância e dor.— Eu não fiz por mal... — sua voz quebrou, quase inaudível. — Mas...Analia, com a voz fraca, mas firme, a interrompeu:— Agora não, mãe. Outra hora. Agora não quero explicações... — Ela fechou os olhos e virou o rosto, respirando fundo. — Eu só preciso de um pouco de colo...Ela olhou para minha mãe, com um olhar carregado de culpa e esperança:— Mamãe, vai ficar chateada?— Não, não, criança. Eu entendo muito bem. — A minha respondeu com aquele tom reconfortante, com a suavidade que só uma verdadeira mãe sabia ter. — Vou organizar as roupas do meu neto e cuidar de outras coisas. Aproveite sua mãe agora, Analia. Ela foi embora, mas também sofreu. A vida não foi fácil para ela, e ela ainda está se recuperan
Krampus narrandoEu sabia quem eu era. Um demônio, uma fera de sombras e instintos primitivos. Mas ter meu filhote nos braços... isso quase me transformava em um cordeiro dócil. Ele era pequeno, quente e tão inocente que parecia impossível que carregasse dentro de si qualquer traço da escuridão que corria em minhas veias, mas eu sabia que estava lá, claro que sabia, era a minha cria.Eu o segurei com cuidado, o corpo pequeno contra meu peito. Aquele era o momento em que eu percebia o verdadeiro peso do que significava ser pai. Eu seria bom para ele. Como meu próprio pai havia sido comigo. Ele me ensinou que mesmo as criaturas mais sombrias têm espaço para o amor verdadeiro.E, como se o destino estivesse ouvindo meus pensamentos, foi ele quem encontrei na porta. O cheiro do seu neto havia o chamado até mim — forte, inegável. Quando nos encaramos, havia algo em seus olhos que não via há muito tempo: orgulho.— Se saiu melhor do que eu esperava. — Meu pai disse, com uma voz grave e baixa
Analia narrandoAcordei no meio da noite com uma sensação estranha na barriga. Não era dor, mas um desconforto que parecia pulsar de dentro para fora, como se algo estivesse... se preparando.— Krampus? — Minha voz saiu trêmula, baixa, mas o suficiente para acordá-lo.Ele abriu os olhos rapidamente, sempre alerta, e acendeu a luz do abajur ao nosso lado. O brilho suave iluminou seu rosto preocupado.— Krampus, tem algo errado. — Sussurrei, com o coração disparado.Ele se aproximou de mim, a mão quente pousando em minha barriga com delicadeza. Seus olhos, prateados e intensos, me analisaram com atenção, mas logo relaxaram.— Não tem nada errado, minha pequena alce. — A voz dele soou calma e reconfortante. — Nosso bebê está chegando.Senti um frio percorrer minha espinha. — Devemos ir ao hospital? — Minha voz estava embargada, o medo me consumindo por dentro.Krampus balançou a cabeça devagar, um sorriso sereno nos lábios. — Não, Analia. Lobos não vão a hospitais quando recebem seus fil
Último capítulo