Narrado por Enzo
Eu fui forjado na dor, mas não do tipo que se sente na pele. Eu não vi meu pai matar a minha mãe — mas soube. Cresci com isso entalado na garganta, uma verdade que todo mundo preferia varrer pra debaixo do tapete, inclusive eu. A Mariana fez o possível pra preencher o vazio. Ela nunca foi minha mãe, mas tentou. Com carinho, com firmeza, com presença. Ela se manteve ali. E mesmo ouvindo cochichos pelas vielas do Morro dizendo que minha mãe morreu por culpa dela, eu nunca a culpei. Nunca me permite ter a cabeça virada ao avesso por algo que não mudaria, já havia acontecido e nunca seria desfeito.
Clarisse nasceu pouco depois que eu conheci a Mariana, e foi como se o sol tivesse resolvido morar com a gente. Desde pequena, aquela menina tinha uma luz que nem a miséria apagava. Eu era um moleque frio, fechado, mas a Clarisse me fazia rir. Me fazia sentir. Ainda faz. Meu mundo gira em torno dela, e talvez seja por isso que eu tenha tanto ciúmes... dela e da melhor amiga de