Narrado por Melissa
A tarde passou em câmera lenta, envolta no conforto raro de uma tranquilidade que eu sabia que não duraria muito. Bruno e eu ficamos juntos, assistindo a filmes velhos na televisão, os pés entrelaçados no tapete da sala. De vez em quando, ele fazia comentários sobre a academia dele, sobre como os treinos estavam cheios, como os meninos do morro estavam comparecendo, como ele estava pensando em abrir uma filial em outro bairro.
— Cê acha que a galera de fora ia colar mesmo? — ele perguntou, os olhos fixos em mim.
— Se você levar o mesmo padrão que tem aqui, com certeza. Não é todo dia que um dono de academia é também um chefe de tráfico, né?
Ele riu, aquele riso rouco, curto.
— Cuidado com o que fala, Melzinha...
— Cuidado nada. Tá cheio de vapor puxando peso contigo, Bruno. Aquele lugar é uma mistura de academia com campo de recrutamento.
— E você ama, né?
— Amo treinar. O resto, eu finjo que não vejo.
Bruno esticou a mão e puxou minha perna sobre o colo dele, afag