Sozinha e grávida, Tábata Mamoru jamais imaginaria que sua antiga paixão adolescente seria aquele que lhe estenderia a mão. Muito menos que os sentimentos por ele retornariam atrapalhando seu plano de partir assim que seu bebê nascesse. Uma ajuda inesperada indicou o caminho para a vida que sempre desejou — Como vai Tábata? Há quanto tempo... Dez anos de completo silêncio teve vontade de falar, mas, em seu estado, sua última preocupação seria a rejeição de sua primeira paixão adolescente. — Oi... — Apertou a alça da mochila, olhando um ponto atrás dele como se estivesse à procura de uma escapatória. De certa forma estava. — Hum... O que faz por aqui? — Lee me telefonou — ele respondeu. — Você ficará hospedada na minha casa enquanto ele estiver fora do país. Fazendo seu plano de partir ruir frente ao despertar de sentimentos antigos — Nunca imaginei que o senhor “perfeição” se arrependeria de algo — brincou, mas Guilherme a observou sério em vez de rir como o esperado. — Me arrependo de várias coisas — deslizou o torso da mão pela face dela até seu queixo, aproximando-se com os olhos fixos em seus lábios —, entre elas, todas as vezes que contive a vontade de te beijar. Com o coração aos pulos, Tábata segurou o rosto de Guilherme e inclinou-se para cima, acabando com a distância entre suas bocas.
Ler maisO sol poente tingia o quintal da casa de Lee Mamoru com tons dourados, criando uma atmosfera acolhedora e tranquila. Sentada em um banquinho junto à parede, sua prima Tábata Mamoru sentia-se nervosa enquanto observava Guilherme Perez treinar kung fu com Lee. Seu coração batia descompassado, ansioso pelo momento de coragem, aquele que a faria chegar no rapaz e fazer o pedido que martelava em sua mente desde que acordou naquela manhã. Sendo sincera consigo, aquele pedido dominava seus sonhos desde que conheceu Guilherme.
O vento suave brincava com os fios soltos dos coques duplos prendendo seu cabelo, quando, enfim, o treino acabou e Taby ergueu-se para colocar em ação seu desejo.
Graças aos céus seu tio chamou seu primo, que correu para dentro da residência sem perceber as intenções dela. A presença dele inibiria sua intenção.
Concentrado em tirar o suor do corpo, lavando o tórax fortificado e o rosto no tanque, Guilherme não reparou em sua aproximação, ou não se importou. Taby temia pela segunda opção, mas nem isso a parou. Observou a cicatriz na testa dele, uma marca que o tornava ainda mais atraente aos seus olhos e inspirou fundo, puxando no âmago de seu ser a firmeza que faltava em suas pernas.
— Gui... — chamou Taby, a voz tremendo ligeiramente. — Posso falar com você um instante?
Guilherme parou seus movimentos e se virou para encará-la, as íris de um âmbar apaixonante fixando-se nela.
— Claro, Pucca[1]! — Ele citar o apelido carinhoso, dado por causa dos coques que ela sempre usava, fez a insegurança diminuir e um sorriso formar-se nos lábios trêmulos. — O que quer?
Espremeu os dedos um contra o outro para se tranquilizar, até desistir e movê-los para trás das costas.
— Hoje é meu aniversário de quinze anos... — começou, a voz mais baixa do que pretendia.
— Parabéns, Taby! — Guilherme pronunciou e a abraçou de repente. Foi por um segundo, rápido demais, mas a deixou em nuvens coradas de vergonha e euforia. — Se soubesse teria te comprado algo — ele justificou ao se afastar.
— Mas pode... me dar um presente... — pigarreou insegura. — Desejo um beijo de presente...
Segurou a respiração quando ele se inclinou, vencendo a distância de suas alturas, o perfume amadeirado envolvendo-a, o rosto tão próximo, a boca a centímetros para beijar... sua bochecha.
— Parabéns! — ele repetiu com o sorriso que a fazia derreter como manteiga no pão quente. Porém, dessa vez o efeito foi diminuído pela decepção.
— Não! Quero um beijo na boca — declarou ligeiramente decepcionada.
Guilherme arqueou uma sobrancelha, uma leve confusão atravessando os olhos de mel. O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Taby segurou a respiração, esperando pela resposta, o coração descompassado. Mas quando ele finalmente falou, suas palavras caíram como um balde de água fria sobre ela.
— Desculpe, Tábata, mas não posso fazer isso — pronunciou firme. — Não seria certo.
Taby sentiu o chão desaparecer sob seus pés e a dor da rejeição cortar fundo, misturando-se com todas as outras feridas que carregava em seu coração. Engoliu as lágrimas querendo transbordar e murmurou tentando trazer um sorriso aos lábios trêmulos:
— Entendo... — Se virou, querendo escapar daquele momento constrangedor o mais rápido possível e chorar longe dos olhos dele.
Teve a fuga impedida pela mão grande agarrando seu braço.
— Taby, você é uma garota incrível — o ouviu falar, mantendo-se de costas para poupar ambos das constrangedoras lágrimas —, mas é muito nova...
— Não precisa se desculpar. Já entendi! — ela o cortou puxando o braço para se afastar do toque dele.
Sem esperar novas justificativas, correu em direção ao muro baixo, usando o banco, em que estava minutos antes sonhando com beijos apaixonados, para pegar impulso e pular furiosamente e desesperadamente para a casa do lado, a sua. Não querendo ser vítima da curiosidade dos irmãos, ou do desprezo de sua mãe, permaneceu nos fundos da residência, encolhida entre a parede e o tanque.
De cabeça baixa, com as pernas junto ao corpo, seguradas com força por seus braços, Taby deixou as lágrimas transbordarem.
Com o coração despedaçado em mil pedaços, não conseguia entender por que ele a rejeitou daquela forma. Era só um beijo. Um momento para ela guardar na memória. Sofria tanto com a rejeição da própria família, e agora mais essa dor vinda da pessoa que amava.
Respirou fundo, buscando controlar-se e acabar com as lágrimas antes que fosse encontrada naquela posição lastimável. Tinha que se conformar. Da mesma forma que não conseguia fazer seus familiares a amar, não podia forçar Guilherme a sentir algo por ela. Ainda assim, doía demais ser constantemente rejeitada.
Sempre estava tão sozinha e desamparada, com a constante sensação que a vida a odiava e a cercava de desprezo. O único que desejava, naquele momento e em todos os que a levaram até ali, era alguém para amar e que a amasse de volta.
Com o coração pesado, ergueu o olhar para o céu, agora usando o véu noturno pontilhados de estrelas, e se prometeu nunca mais permitir que alguém a afetasse dessa forma, que a fizesse se sentir tão pequena e insignificante. Encontraria o amor.
Dez anos depois, além de quebrar a cara e o coração caindo em novas ilusões em busca do amor, se viu parada diante de sua paixão de adolescência, aguentando o olhar âmbar vistoriando seu corpo até chegar a sua barriga. Dessa vez não havia para onde fugir e Guilherme Perez era seu único bote salva-vidas. Seu e do bebê em seu ventre.
[1]Pucca, personagem de uma série de animação estadunidense-canadense-sul-coreana.
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N/A: Tabby descobrindo que o mundo não gira, ele capota, rs. O que será que aconteceu para que esses dois se vissem cara a cara com um bebê entre eles? Descubra nos próximos capítulos <3
O tempo passou em uma nuvem de felicidade, trazendo consigo uma felicidade que Tábata nunca imaginou possível. Estava, finalmente, completa e verdadeiramente feliz ao lado de Guilherme e Lean. A pequena, agora com dez meses, era um raio de luz em suas vidas, engatinhando pela casa e tentando suas primeiras palavras. Vez ou outra, balbuciava "papa", o que derretia Guilherme em sorrisos largos e olhos brilhantes. Tábata tentava se convencer de que era apenas a comida que a menina queria, mas Lean não ajudava quando estendia as mãozinhas para ele ao pronunciar a palavra. Embora com uma leve inveja, era impossível não se emocionar ao ver a conexão entre pai e filha crescendo a cada dia.Para sua tranquilidade emocional, Simone deixou o país e nunca mais ouviu falar de Mateus. Decidiu que, quando Lean fosse mais velha, seria a própria filha a entrar em contato, ou não, com o pai biológico. Não falaria mal dele, mas também não o queria por perto.O tempo também trouxe um frágil, porém neces
Retornando da casa em que ficou durante a armação contra Simone, Tábata ajeitou a bebê no colo, incapaz de apagar o sorriso que iluminava seu rosto. Estar de volta ao lar, ao lugar onde seu coração pertencia, era como respirar fundo após muito tempo submersa prendendo o ar. Cada detalhe da casa, cada cheiro familiar, parecia gritar que ela estava em seu lar, de onde nunca mais sairia. E, mais importante, que Guilherme e Lean estavam ali, completando-a.Guilherme, por sua vez, colocou as mochilas que Tábata havia levado ao partir no sofá, sentindo como se estivesse depositando ali um peso que carregou por dias. O que de fato ocorreu. Foram os piores dias de sua vida adulta. Voltou-se para elas, os olhos cor de mel, focados em Tábata segurando Lean, precisando confirmar que não era um sonho. Elas estavam realmente ali, de onde nunca deveriam ter saído.— Senti muita falta de vocês — disse ele, a voz embargada por uma emoção que não conseguia disfarçar. — O tempo longe só reafirmou o que
Longe de recuar, se surpreender ou lamentar, Simone riu, um som baixo e desdenhoso, enquanto cruzava as pernas com elegância.— Se me desligar do escritório, perderá imediatamente a conta da Essenz — previu, com tom e pose de superioridade, ao mencionar a empresa de sua família. — Todos sabem o quanto essa conta é importante para o escritório.Calmo, Carlos não mostrou qualquer preocupação com a nova ameaça da jovem advogada.— Já conversei com Nathaniel — respondeu ele, mencionando o primo de Simone e atual CEO da empresa da família Muller. — Apresentei todas as provas da sua falta de ética, da coação que exerceu sobre Tábata, parceira de seu colega deste escritório — contou, acrescentando com um meio sorriso. — Ele decidiu passar a conta para as mãos de Guilherme.Simone ficou imóvel por um momento, seus olhos azuis-celeste estreitando-se em uma expressão de fúria contida.— Ele fez o quê?! Não podem simplesmente me expulsar.— Não está sendo expulsa, apenas arca com as consequência
Seu olhar, até então confiante, congelou ao ver Guilherme e Tábata sentados lado a lado, de mãos dadas. A cena era tão inesperada que parou abruptamente, olhos azuis arregalados, em choque. — O que ela está fazendo aqui? — perguntou, indignação e incredulidade bailando em sua voz, o dedo em riste apontado para Tábata.Carlos sentou atrás de sua mesa de mogno imponente, encarou Simone e apontou para uma cadeira distante do casal.— Sente-se, Simone! — pediu calmo, mas firme. — Teremos uma longa conversa.Ela cruzou os braços, o rosto endurecido.— Não vou me sentar enquanto essa intrusa estiver no recinto — respondeu, lançando um olhar de desprezo para Tábata.O advogado mentor da jovem loira, inspirou fundo, alisando a barba grisalha com os dedos.— Se não quiser sentar, não sente. Mas estamos aqui para colocar um ponto final nas ameaças e coações que você fez a todos nesta sala — declarou, mantendo o olhar fixo nela.Simone soltou uma risada curta e seca.— Ameaças? Coações? Não fa
Os dias que se seguiram foram angustiantes para Tábata. Cada minuto parecia se arrastar, como se o tempo tivesse decidido torturá-la pela decisão tomada. A saudade de Guilherme era uma dor constante, mas o que mais a consumia era o choro de Lean. A bebê, que normalmente era tranquila, agora chorava sem parar. Supôs que a filha também sentia falta dele. Aquele cheiro familiar, a voz calma que a acalmava, os braços fortes que a embalavam. Tudo isso fazia falta a ambas.Os amigos de Paulina, que a acolheram em sua casa, não demonstravam incômodo com a situação. Eram gentis e pacientes, mas Tábata sabia que não podia abusar da hospitalidade. Toda vez que acordava no meio da noite com o choro alto de Lean, sentia um nó na garganta. Lamentava não poder ficar com suas amigas, que não tinham espaço nem para si mesmas. E pedir ajuda ao primo e o tio? Nem pensar. Tinham a própria vida para resolver. O último que precisavam era ser envolvidos no caos em que a vida dela se transformou. Além disso
O interior do carro de Simone era impecável, um cheiro adocicado impregnado em cada centímetro do estofamento de couro. Tábata sentou-se no banco de trás, colocando duas mochilas ao seu lado. Lean, no macacão verde com estampa de ursinhos amarelos, estava segura na cadeirinha que Guilherme lhe deu, balbuciando feliz, completamente alheia ao que ocorria. Simone, ao volante, ajustou o retrovisor com movimentos precisos, seus olhos azuis-celeste refletindo uma curiosidade mordaz.— Demorou tanto lá dentro pra recolher só isso? — perguntou Simone olhando para as mochilas no banco de trás. — Não trouxe mais nada?Tábata ergueu os olhos, encontrando os de Simone no retrovisor.— Você mesma disse várias vezes que não tenho nada além de uma filha — retrucou ela seca.Simone soltou uma risada, carregada de desprezo, enquanto colocava o carro em movimento.— Justo — soltou com um sorriso sórdido. — Para onde te levo?Lançando um olhar para a casa que se acostumou a chamar de lar, Tábata apertou
Último capítulo