Milena deu um passo para trás, envergonhada. O calor subiu ao seu rosto, tingindo suas bochechas de um leve tom rosado. Ela passou uma das mãos pelos cabelos, tentando disfarçar o nervosismo, enrolando uma mecha entre os dedos como se aquilo pudesse lhe dar alguma segurança.
— Desculpa... — disse, com a voz baixa, quase engolida pelo som da água caindo. — Não foi a minha intenção... eu só queria um pouco de água.
Ela evitava olhar diretamente para ele, mantendo os olhos fixos no chão de mármore polido. Aquele lugar era grande demais, silencioso demais. Sentia-se pequena ali, como se estivesse invadindo um mundo que não lhe pertencia.
— Por isso vim até aqui... — continuou, hesitante. — Segui o barulho do chuveiro.
Alerrandro a observava em silêncio. Um sorriso inesperado se formou em seus lábios, não um sorriso de sarcasmo ou ironia, mas algo genuíno, quase doce. Era estranho. Lorena nunca o fizera sorrir assim. Nunca o desarmara com um simples gesto ou uma desculpa tímida. Mas aquela mulher, que ele acreditava ser sua esposa, parecia tocar algo dentro dele que ele não sabia que ainda existia.
— Água?... — murmurou, mais para si do que para ela. Sua voz saiu como um sussurro, carregada de surpresa e curiosidade.
Seus olhos verdes a percorreram lentamente, de cima a baixo, não com desejo, mas com uma atenção quase reverente. Ele queria entender o que havia mudado. Por que aquela mulher parecia tão diferente? Seus lábios se entreabriram, como se quisessem dizer algo, mas nenhuma palavra veio. Ficou apenas olhando, por longos segundos, como se tentasse gravar cada detalhe dela.
Alerrandro deslizou a mão sobre o sabonete, os cabelos já úmidos começando a grudar na testa. Com movimentos lentos, começou a desabotoar novamente a camisa branca, agora pesada pela água. Milena o observava em silêncio, a boca entreaberta, os olhos fixos nele como se estivesse hipnotizada.
— Me espera no quarto... — disse ele, com um tom mais suave. — Eu levo a água pra você assim que sair do banho. Já que você... esqueceu onde fica.
Milena tentou responder, mas as palavras se embaralharam.
— É que eu... Eu...
Alerrandro se aproximou, com um olhar mais intenso. Estendeu a mão e segurou levemente o braço dela, sem força, apenas o suficiente para fazê-la parar.
— Gosta de me provocar?... É isso? — perguntou, com um sorriso enviesado, mas sem malícia.
O toque dele a fez estremecer. Não pela força, mas pela confusão que aquilo causava. Milena se soltou com delicadeza, sem dizer mais nada, e voltou para o quarto com passos apressados. O coração batia forte, como se quisesse escapar do peito.
Ela se sentou na beirada da cama, os dedos apertando o lençol com força. A verdade pesava dentro dela, como uma pedra. Queria contar. Precisava contar. Mas toda vez que tentava, algo a impedia. O medo de não ser acreditada. O medo de perder aquele cuidado que, pela primeira vez, alguém lhe oferecia.
E então, o silêncio do quarto voltou a envolvê-la. Mas agora, não era apenas silêncio, era um segredo que crescia, esperando o momento certo para ser revelado.
Minutos depois, Alerrandro surgiu novamente no quarto. Seus cabelos ainda estavam úmidos, com pequenas gotas escorrendo pelas têmporas. Passou por Milena com um olhar breve, sem dizer nada, e entrou no banheiro do quarto. O som da porta se fechando foi suave, mas Milena sentiu como se tivesse prendido a respiração.
Quando ele saiu, vestia um pijama largo, listrado em tons sóbrios, que contrastava com a elegância habitual de seus trajes. Enxugava os cabelos com uma toalha branca, os movimentos lentos, quase distraídos. Caminhou até a mesa do lado esquerdo do quarto, onde repousava um vaso de vidro com água fresca. Com elegância e precisão, derramou o líquido num copo, sem pressa, como se cada gesto tivesse um propósito.
Depois, com o copo na mão, caminhou lentamente até Milena, que permanecia sentada na beirada da cama. Seus dedos apertavam o lençol, e seus olhos estavam fixos no chão, como se evitassem qualquer contato visual.
Alerrandro se sentou ao lado dela, mantendo uma distância respeitosa, mas próxima o suficiente para sentir o calor do corpo dela.
— Aqui está. — murmurou, estendendo o copo com suavidade. — Agora você já sabe onde fica.
Milena ergueu os olhos devagar, como se estivesse saindo de um transe. Pegou o copo com mãos trêmulas, e ao se inclinar, seus longos cabelos caíram sobre o rosto de Alerrandro, roçando levemente sua pele. Ele fechou os olhos por um instante, inalando o perfume delicado que vinha dela, doce, fresco, diferente de tudo que já sentira com Lorena.
Milena também estava tensa. Sentia o coração bater forte, como se cada segundo ali fosse uma eternidade. Bebeu um pouco da água, tentando disfarçar o nervosismo, e em seguida devolveu o copo para Alerrandro, que terminou de beber sem tirar os olhos dela. A água descia por sua garganta, e Milena, sem perceber, observava o movimento de seu pescoço, mordendo levemente os lábios, tomada por uma mistura de ansiedade e confusão.
— Bem... — disse ele, levantando-se com naturalidade. — Vou ler um pouco e dormir.
Foi até a mesinha ao lado da cama, pegou seus óculos com armação escura e os colocou com um gesto tranquilo. Em seguida, escolheu um livro de capa dura, abriu-o e começou a folhear as páginas com calma, como se buscasse algo específico, ou talvez apenas uma distração.
— Você mudou um pouco, Lorena... — comentou, sem levantar os olhos, enquanto ajeitava os óculos no rosto. — O que tem em mente?...
Milena sentiu um arrepio. A frase ecoou dentro dela como um alerta. Ele estava começando a perceber. Mesmo que ainda chamasse pelo nome errado, algo nele já não encaixava com a imagem que tinha da esposa.
Ela permaneceu em silêncio, observando-o, tentando decidir se aquele seria o momento certo para revelar a verdade. Mas como dizer? Como explicar que não era Lorena, sem destruir o pouco de carinho que começava a surgir entre eles?