O despertador tocou às seis e quarenta. Abigail o ignorou. O som insistente reverberava no quarto escuro como uma cobrança: levante-se, encare o mundo, mesmo que ele tenha decidido te odiar.
Ela não queria. Queria sumir, congelar o tempo, se esconder nos braços de Sérgio ou se perder na música da noite na casa de shows, onde tudo parecia possível. Mas a realidade não esperava por ninguém. E, como sempre, ela não tinha mais o privilégio de fugir.
Levantou devagar, como se cada parte do corpo pesasse o dobro. O rosto ainda inchado pela noite mal dormida. Passou um pouco de corretivo nas olheiras, prendeu o cabelo em um coque frouxo e escolheu a roupa mais neutra que encontrou. Não queria chamar atenção. Queria ser invisível. Pena que isso era impossível agora.
Assim que saiu de casa, sentiu o peso do mundo recair sobre ela. A rua parecia mais barulhenta e, mesmo de dentro do carro, podia sentir alguns olhares de julgamento.
No caminho até a faculdade, recebeu duas mensagens de Sérgio. N