O dia seguinte amanheceu cinza e silencioso. A claridade hesitante da manhã se infiltrava pelas cortinas, espalhando-se em tons pálidos pelo quarto de Abigail.
Do lado de fora, o vento soprava entre as árvores com um assovio suave, como se o mundo estivesse em suspenso, preso em uma pausa dolorosa. Dentro do quarto, no entanto, nada parecia se mover. Abigail permanecia deitada, de olhos fechados, os cabelos revoltos espalhados pelo travesseiro, o rosto pálido contra o tecido claro. Respirava devagar, como se o simples ato de existir lhe custasse mais do que deveria.
Na cozinha, o aroma de alho refogado se misturava ao som ritmado da faca de Luíza contra a tábua de madeira. Ela preparava o almoço, tentando distrair-se da preocupação que martelava em seu peito desde a noite anterior. Por mais que tentasse, não conseguia ignorar o silêncio que vinha do quarto da enteada. Um silêncio espesso, diferente, como se Abigail tivesse construído uma muralha invisível em torno de si.
Luíza enxugo