capítulo 5
O sol do meio-dia iluminava a cozinha da fazenda. O cheiro de alho dourando no óleo se espalhava pelo ar, misturado ao aroma fresco das ervas que Lola picava com calma no balcão de madeira. Bred, empolgado como uma criança em excursão, já estava com um avental florido amarrado na cintura. — Venha, Louise, corte essa moranga aqui pra gente! — disse, colocando uma faca na frente da prima. — Vamos ajudar Lola a preparar o almoço, vai ser divertido! Louise olhou para ele como se tivesse ouvido a maior heresia do mundo. — Credo, Bred! Eu? Cortar moranga? — fez uma careta, afastando a faca com nojo. -Achei que tinha vindo ate aqui para me dar atenção — E eu vim,agora desfaça essa sua cara azeda! — respondeu ele, rindo. — Trabalhar com comida é terapêutico, menina. Louise bufou e se jogou em uma cadeira, cruzando os braços. De lá, observava o primo animado conversando com Lola, como se fossem velhos amigos. — Ai, Lola, você cozinha como se fosse uma rainha! — elogiava Bred, mexendo uma panela com exagero teatral. — Vou querer aprender todos os segredos dessas receitas, tá me ouvindo?porque vi uns babados por ai,pretendo sair casada daqui.O barulho forte de botas batendo contra o assoalho ecoou pela cozinha. A porta rangeu e entrou um homem alto, de braços grossos e pele marcada pelo sol. Trazia no rosto a expressão séria, quase carrancuda, e voz firme. — Lola… A mãe pediu pra avisar ocê que a lenha tá acabando no paiol… amanhã cedo eu trago mais. — Disse, sem rodeios, encostando o chapéu na testa. Louise,torceu o nariz. — Mais um bruto. — resmungou baixinho, ignorando a presença dele. Mas Brad, ah, Brad… seus olhos brilharam. — Meu. Deus. — murmurou, quase teatral. — Lola, quem é esse monumento? Lola conteve uma risada, lavando as mãos no avental. — Esse é meu sobrinho, Tião um menino de ouro. — Tião — repetiu Brad, saboreando o nome como se fosse música. — O prazer é todo meu. O peão o olhou de cima a baixo, franzindo o cenho. — Só vim dar o recado. — respondeu ríspido, já ajeitando o chapéu e fazendo menção de sair. Brad, no entanto, não se deu por vencido. — Ih, que bruto! — disse, rindo e se aproximando. — Mas olha, Tião, eu gosto de desafios. Tião recuou de imediato, como se tivesse visto uma cobra. — Deus me livre— exclamou, quase tropeçando no batente da porta. Brad gargalhou alto, segurando o riso com a mão na boca. — Eita, que ele fogiu de mim igual o diabo da cruz! Lola balançava a cabeça, tentando conter o riso também. — Vocês dois ainda vão dar o que falar por aqui… Louise revirou os olhos, impaciente. — Aff, se essa fazenda já estava insuportável, agora virou circo. Brad, ainda rindo, lançou um olhar maroto para Lola. — Circo nada, meu bem… a diversão está só começando. E Tião lá fora, já caminhava apressado pelo terreiro, resmungando sozinho: — Credo… macho vestido de rosa,é o fim dos tempos Lola gargalhou, a voz cheia de ternura. — Você me faz rir, garoto! Me lembro bem da sua mãe grávida… mas depois, quem nasceu primeiro foi a Louise. Logo em seguida, todos vocês foram embora da fazenda. Louise, mesmo fingindo desinteresse, percebeu o olhar que Lola lançou a ela. Um olhar doce, carregado de lembranças e afeto, mas que, em vez de aquecer, a incomodava profundamente. Era como se Lola soubesse mais dela do que gostaria. Louise virou o rosto, irritada, tamborilando os dedos na mesa. — Mas, mudando de assunto — disse Lola, enxugando as mãos no avental, com um sorriso orgulhoso. — Hoje à noite vou dar uma festinha na minha casinha simples. Meu filho venceu o rodeio em que estava competindo e hoje retorna pra casa. O coração de Lola parecia inflar de alegria ao falar do filho. Bred, logo arregalou os olhos e bateu palmas. — Ai, que tudo! Festa na roça! Vai ter música, vai ter dança, vai ter comida? Eu já quero uma roupa à altura! Louise levantou-se da cadeira bruscamente, a expressão cheia de nojo. — Vocês só podem estar brincando… eu não vou perder meu tempo com isso. — E saiu batendo a porta da cozinha. O silêncio reinou por alguns instantes até que Bred, com sua doçura irreverente, suspirou alto. — Não se preocupe, Lola. Ela é assim mesmo… mas no fundo, bem lá no fundo sentindo cheirinho de petróleo, tem um coração bom. Lola sorriu, balançando a cabeça. — Eu sei. E os dois riram juntos, como se já compartilhassem uma amizade antiga.