capítulo 4
Os dias arrastavam-se como uma tortura para Louise. Cada manhã parecia igual à anterior: o canto dos galos, o cheiro de café forte vindo da cozinha a poeira que insistia em sujar seus sapatos importados e seu pai que permanecia inegociável. Entediada, ela passava horas no quarto, rolando pelo celular — até perceber que as horas de internet estavam contadas e que nada, absolutamente nada, conseguia aliviar a sensação de prisão. Lola, como sempre, a tratava bem. Corria atrás de cada exigência, mesmo recebendo olhares de desdém e palavras duras. Nunca retrucava, nunca levava para o coração. Ao contrário: sorria, cantava baixinho e fazia com que a casa sempre tivesse o calor de um lar. Louise, porém, não suportava mais. Pegou o celular e começou a escrever para a mãe, usando o tom que sempre funcionara: "Mamãe, eu não aguento mais esse fim de mundo. Me tira daqui, eu imploro. Se você me ama, não me deixe sofrer assim. Preciso de roupas novas, preciso do shopping, preciso da minha vida de volta!" Em seguida, tomou coragem e ligou para o pai. — Pai, por favor, eu te imploro! — a voz dela estava embargada, carregada de drama. — Me tira desse lugar! estou enlouquecendo,por favor Do outro lado, a voz de Orlando Montserrat foi firme, rude, como um martelo. — Você tem trinta dias para me obedecer. Só trinta. Volte e case-se com Filipe, um homem rico que vai te dar a vida boa que você gosta,e de quebra limpo a minha reputação que você sujou. Louise engoliu seco, mas respondeu com a mesma intensidade: — Nunca. O silêncio pesou por um instante. Então o pai decretou: — Então aproveite sua estadia na roça, porque a partir de hoje todos os seus cartões estão bloqueados. Se vire, Louise. E desligou. Louise ficou paralisada por um momento, depois começou a arrancar os cabelos de raiva. — Isso não pode estar acontecendo comigo! — gritou, jogando o celular na cama. Na cozinha, o cheiro de lenha queimando e temperos frescos se espalhava pela casa. Lola cantarolava feliz enquanto mexia nas panelas do grande fogão de ferro. O som alegre contrastava com a fúria que ainda queimava no peito de Louise. Ela entrou abruptamente, interrompendo o canto. — Que felicidade é essa que você consegue enxergar nessa vida miserável que leva? — perguntou, com a voz carregada de ironia. Lola virou-se, sem perder a doçura. —Louise minha princesa,a felicidade nem sempre está no dinheiro. Está no amor, na paz, no que a gente constrói com simplicidade. Louise torceu o nariz, revirando os olhos. — Filosofia barata. Lola apenas sorriu, e seus olhos brilharam como se guardassem um segredo. — Mas hoje é especial. Meu filho está voltando do rodeio,talvez você possa o conhecer,ele é um bom menino. Louise gargalhou debochada. — E quem disse que eu quero conhecer seu filho pobre e roceiro? Me poupe, Lola,tudo oque eu quero desse lugar é ir embora dele. -Mesmo que pra isso precise obedecer as ordens absurdas do sr Orlando? louise bufou -Isso nunca,ja disse. saiu deixando lola sozinha. Na manhã seguinte, Louise acordou emburrada, sem forças nem vontade de encarar mais um dia naquele “fim de mundo”. O tédio parecia sugar sua energia. Ainda se revirava nos lençóis quando ouviu o barulho de uma caminhonete chegando à sede da fazenda. Levantou-se lentamente, imaginando mais um funcionário ou fornecedor. Mas, ao descer os degraus da varanda, parou boquiaberta. Diante dela, com um sorriso radiante e óculos de sol extravagantes, estava Bred.Ele carregava duas enormes malas pink com rodinhas reluzentes, cada uma decorada com adesivos de estrelas e corações. — Louuuuuu! — gritou, abrindo os braços. Seu tédio acabou,eu cheguei Louise, que há dias não sorria, correu até ele e o abraçou como se tivesse encontrado um pedaço de casa. Seus olhos se encheram de lágrimas. — Bred! Meu Deus, eu não acredito que você está aqui! — Pois acredite, querida! — disse ele, exagerando nos gestos. — Tia Sther me mandou porque sabia que você ia morrer de solidão. E cá estou eu, seu príncipe cor-de-rosa, pronto para salvar sua sanidade mental! Ele rodopiou diante da mansão, encantado. — E olha só isso! Que lugar, menina! Esses campos, esse céu aberto, esse ar puro! Estou chocado com a beleza daqui! Louise fungou, ainda emocionada. — Como você consegue achar isso bonito? É poeira, mato e cheiro de bicho! — Ai, Louise! — Bred bateu palminhas, teatral. — Isso aqui é um luxo natural! Você vive cercada de concreto, lojas e festas. Mas olha esse horizonte! É um espetáculo. Eu já estou vendo ensaios fotográficos, looks de fazenda chique, botas de couro combinadas com óculos importados... Louise riu entre lágrimas, a primeira risada sincera em dias. — Você não existe, Bred. — Existo sim, mon amour. E vim pra ficar,até porque pelo que estou sabendo você esta decidida a não ceder,ne?— piscou, jogando o cabelo para trás. — Então Vamos transformar esse retiro forçado em um spa rural fashion! Os funcionários, que assistiam à cena de longe, não sabiam se riam ou se estranhavam aquela figura espalhafatosa de malas pink, óculos espelhados e energia contagiante. Mas uma coisa era certa: a presença dele mudaria completamente a rotina da fazenda. Lola, ao vê-los, sorriu com ternura. — Seja bem-vindo,que bom te ver novamente Depois de tantos anos. — Obrigado, minha flor — disse ele, estendendo a mão com delicadeza exagerada. — Mas, por favor, nada de café preto amargo pra mim. Quero cappuccino com espuma e, se tiver, um bolinho doce pra acompanhar. -Vai ficar querendo. Louise gargalhou alto, abraçando-o novamente. Pela primeira vez desde que chegara, sentiu que talvez conseguisse suportar aquele lugar. O que ela não imaginava é que, no dia seguinte, outra surpresa chegaria à fazenda. Uma que nem Bred, com todo seu brilho, conseguiria amenizar.