capítulo 6
A fogueira já ardia forte quando Brad convenceu Louise a sair. O som da viola vinha de longe, misturado a risadas e cheiro de carne assando no ar. A casinha de Lola ficava a poucos metros, iluminada por lampiões e pelo brilho do fogo que dançava no meio do terreiro. — Vamos logo, Louise! — insistia Brad, quase pulando de empolgação. — Eu sinto que vai ser uma noite tudo! — Brad, isso aqui é o fim do mundo. — ela resmungou, puxando a barra da calça justa. — Me diz que não tô indo pra uma festa de verdade vestida assim. — Tá perfeita, amor. Só parece que vai desfilar no shopping em vez de ir pra roça, mas quem se importa? Louise revirou os olhos e respirou fundo. O chão de terra vermelha manchava o salto dela a cada passo. Quando atravessou o portão, todas as conversas diminuíram. O som da viola pareceu até sumir por um instante. Os olhares se viraram. As moças cochicharam entre si. Os homens pararam de rir. E Lola, que servia copos de quentão, quase deixou cair a concha ao ver Louise toda linda descendo a pequena ladeira da fazenda. Louise sentiu o peso de cada olhar, ergueu o queixo e manteve o ar arrogante de sempre — como se aquilo não a afetasse. — Credo, Brad, tão me olhando como se eu fosse um ET. — Amiga, você é um ET aqui. — ele riu baixinho. — Mas um ET fashion. Ela bufou, tentando parecer indiferente, enquanto as pessoas abriam caminho pra eles passarem. As mulheres cochichavam: — Quem é essa? — É a filha do patrão, parece. — Que metida,aonde ela acha que vai com esse salto? Foi então que Louise o viu. Encostado na cerca, chapéu baixo, camisa aberta no peito e aquele olhar que misturava força e desdém: Henrique. O tipo de homem que parecia ter saído da terra, bruto, natural — e completamente alheio àquela mulher de bolsa cara e perfume francês. Louise parou sem perceber. Brad seguiu seu olhar e sussurrou: — Ai… se o paraíso tivesse um porteiro, seria ele. — Cala a boca, Brad. — respondeu rápido, sem tirar os olhos de Henrique. O peão ergueu o rosto devagar, curioso com o silêncio repentino. O olhar dele cruzou o dela, e por um segundo, o tempo pareceu prender o ar. Depois, ele simplesmente desviou — como se ela não fosse nada. Aquilo a ferveu por dentro. —Esse não é o peão que encontrei na estada? se perguntou. Henrique voltou a rir com os amigos. O sorriso dele era tranquilo, confiante. As moças ao redor soltavam risadinhas, encantadas com o vencedor do rodeio que acabara de voltar pra cidade. Louise sentiu uma pontada de irritação. — Ridículo. Um bando de deslumbradas por causa de um roceiro. — Roceiro não, gata. Um deus do barro, e olha que eu sou exigente. Ela respirou fundo, tentando disfarçar o incômodo. Lola veio sorridente, o avental florido ainda sujo de farinha. — Boa noite, menina Louise. Que bom que veio prestigiar meu filho. -Por livre e espontânea pressão disse olhando Henrique discretamente. — Mesmo assim estou feliz com a sua presença — respondeu Lola, sem se abalar. — Às vezes é no meio da simplicidade que a gente encontra o que precisamos pra ser feliz Louise torceu o nariz. — Espero que o que eu precise esteja bem longe daqui. Brad disfarçou o riso. Mais adiante, tiao — o peão tagarela amigo de Henrique — se aproximou, garrafa na mão. — Boa noite, patroinha. — cumprimentou, sem cerimônia. — E o senhorzinho aí, tá gostando da festança? Brad gargalhou. — Amando, querido! E aquele ali — apontou pra Henrique — é o famoso campeão do rodeio, né? Tião assentiu. — Esse mesmo. Orgulho da região.meu primo Henrique — Orgulho e exibido — cortou Louise. — Já vi esse tipo antes. se acha o centro do mundo só porque consegue parar no lombo de um boi Tiao riu, balançando a cabeça. são só 8 segundos,se a patroinha quiser,amanhã ajeito um pra você montar. Louise cruzou os braços -Muito engraçadinho você. Mas quando o olhar de Henrique cruzou o dela outra vez, firme, desafiador, algo queimou por dentro. Brad sussurrou: — Acho que o caipira te deixou sem ar, princesa. Ela sorriu de canto, venenosa: — Você como ninguém sabe que esse não é o tipo de homem que me impressiona Henrique, do outro lado, apenas virou o rosto e continuou tocando violão com os amigos. Foi a primeira derrota dela naquela terra bruta. Mas também o começo de algo que ninguém — nem ela — seria capaz de controlar.