Marlon
Saio do quarto com a cara fechada. Esse silêncio dela me fode. Toda vez a mesma neurose com esse bagulho. Toma no cú. Nois tá bem do jeito que tá. Pra que inventar filho? Eu não tenho mente pra desenrolar esse bagulho agora não, mano. Fiquei cinco anos preso. Tô com a mente cheia de parada para resolver e ela vem bater neurose com esse bagulho justo agora?
Toda vez é a merma cobrança desnecessária. Quer que eu viro um livro, não é possível. Toda vez vem com esse papo de emocionado, dizendo que eu tenho que me abrir mais com ela eu não sei pra que isso, mano. Se nois tá bem, pra que inventar caô, mano? Papo reto!
Eu entendo que ela quer que eu demonstre mais o que sinto, mas eu não sou esse tipo de cara mano. Pô! Desde o início ela sabe que eu não sou um cara de fala. Eu ajo. Dou sempre uma atenção pra ela. Dou tudo que ela quer, mas esse bagulho de ficar falando, dizendo que amo toda vez não é pra mim.
Eu não vou fingir que sinto um bagulho que eu não sei. Tudo que eu sei é que eu gosto mermo de ficar com ela. Nois se dá bem. Pra isso não precisa ficar falando toda vez. Meu pai não fazia isso com a minha mãe. Eu nunca vi eles tendo nada disso que ela vive cobrando...
Minha mãe sempre gostou do meu pai e pronto. Ela era fiel dele, ele sustentava tudo dela e acabou. Não tinha frescura nem essa carência toda que ela tem por mim.
Eu não vou ser hipócrita e dizer que eu não gosto quando ela se declara pra mim. Eu curto pra caralho, mas eu não aprendi a demonstrar isso. Eu sendo o bandido que sou, tento ela dentro da minha casa, fazendo tudo que eu faço por ela já é uma declaração, pô. Quando ela fica doente eu fico preocupado. Eu faço até comida pra ela. Olha que eu nem gosto.
Eu tô ligado que nem tudo tem como ser como eu quero, se não perde a graça. Se ela fosse eu, eu não ia querer porquê eu mermo não me aguento, tem vez. Eu sei que eu não sou um cara fácil, mas eu dou meu melhor mano. E é isso! Não adianta ela pegar neurose que nois vai ficar batendo na merma tecla sempre. Eu sou assim e não pretendo mudar por ninguém. Papo é esse...
Daleste — Qual foi dessa cara aí, viado? Brigou com a mulher? _ Diz debochado, quando eu entro na cozinha.
Ele está na mesa junto com o Gato preto, Dadá, Sami, Ribamar, Netinho, Mineiro e Sem perna.
— Cadê o Nelinho? _ Franzo o cenho, ignorando sua pergunta.
Ribamar — Foi fazer uma missão no jacarezinho.
— Quem que tá na responsa da boca 4? Tá mó sujeira na rua. Ninguém tá vendo isso não, pô? Já ja tem morador falando merda por ai...
Daleste — Sábado eu dei o papo nele. Mandei ele mandar os meno limpa lá, mas o filho da puta tá de mancada. Ele fica deixando os noia fazer bagunça e lá toda noite. Chega de madrugada é a maior patifaria. Já dei o papo que eu ia tirar da gestão se ele continuar relaxado...
— Se, o caralho! Se ele não consegue botar ordem num bagulho simples desse, então não serve pra ser gerente. Já pode botar pra andar. Vê um menó mais ligeiro pra substitui ele. Papo só! _ Dou o papo, pegando meu prato e sinto uma fome do caralho.
Daleste — Já é! Eu tava pensando em colocar o Cidoca. Menó é sagaz pra caralho. Sempre faz os corre certinho...
Gato preto — Papo dez! Menorzinho é correria mermo...
— Papo tá dado então. Coloca ele e desce o outro pra ficar de exemplo. Se não consegue ter responsa não, assumi. Tá achando que essa porra é brincadeira? _ Abro a panela de arroz e coloco no meu prato.
Sinto o cheiro bom que vem dele, mais das carnes assadas na bandeja do lado. Faço meu prato, coloco na mesa ouvindo eles comentando de outro assunto. Dou a primeira garfada e o sabor da comida faz minha boca salivar. Papo reto! Bom pra caralho!
A lora é foda. Tem um talento pra comida que me deixa mal acostumado. No tempo que eu estava preso, sentia falta do tempero dela. Só podia comer nos finais de semana que ela ia me ver. Às vezes nois brigava e de birra ela não levava nada pra mim. Eu ficava puta. Essa mina quando quer ser ruim, ela é terrível. Papo reto!
Eu já estou no segundo prato, trocando ideia com os cria e tomando uma gelada. O gosto da liberdade não tem preço. estar entre os meus é a melhor terapia. Papo reto!
Termino de comer satisfeito e até agora a maluca não desceu. Fico bolado quando ela começa a querer fazer essas birra atoa. Nois tava na paz e ela como sempre quer fica de guerra comigo. Toma no cú!
Sami — O que será que aconteceu com a Lu? Não desceu até agora... _ Diz com um cigarro na mão, olhando na direção do corredor.
Dadá — Ela deve tá deitada. Essa mina só dorme... _ Diz com sorriso debochado e na mesma hora, ouço passos vindo do corredor.
Luara — Fala na cara, vadia! Tá falando mal de mim dentro da minha casa? Se liga, hem! _ Ela parece com seu cabelo escovado, usando short jeans e uma blusinha vermelha que aparece metade da sua barriga.
O cheiro do seu creme invade meu nariz enquanto eu a avalio de cima a baixo. Filha da puat sabe ser gostosa mermo. Encaro seus olhos, buscando ver vestígios de choro e não vejo nada. Seu rosto está limpo, sem maquiagem nem nada.
Dadá — Falei porque eu sabia que você estava vindo, mona. Antes de você sair do seu quarto, eu já senti esse cheiro doce horrível do seu creme. Odeio cheiro de cereja... _ Diz com cara de nojo. Luara ignora.
Luara — Bom pr56a você! Quem tem que gostar do cheiro sou eu... Se não gosta é só tampa o nariz... _ Ela passa por trás de mim, sem olhar na minha cara. Observo o tamanho do seu short curto, desfiado na perna e fecho a cara.
Dadá — Grossa! Precisa falar desse jeito? Tá com raiva do Bin e quer descontar em mim? Eu não tenho nada a ver com isso não, mona. Eu em... _ Luara enrola o cabelo nas costas, depois pega o prato com o olho na panela de arroz, quase vazia e não responde...
Fico na minha, observando enquanto ela se serve com um pouquinho de arroz. Depois, pega um pedaço de carne, leva à boca e se afasta do fogão. Espero, na dúvida se ela vai vir na minha direção, mas ela me ignora e segue para a porta da cozinha, indo em direção à área de churrasco.
Gato preto — Xiii! Deu ruim! A bruxa tá solta logo cedo. Só espero que não vem pro meu lado... _ Diz brincalhão e eu fico puto.
— Cheia de neurose mermo. Toma no cú! _ Digo bolado, deixando a latinha de cerveja na mesa.
Sami — Eu vou lá falar com ela. _ Diz se levantando e eu coço a cabeça.
Dadá — O que cê fez pra ela Bin? Hoje de manhã ela tava feliz e agora tá assim?
— Eu não fiz porra nenhuma. Tua amiga que é maluca... _ Olho na direção que ela saiu de cara fechada. Odeio quando ela me ignora e faz essas gracinhas.
Dadá — Eu não falo mais nada. Vocês dois tem hora que parece criança. Briga por tudo... _ Diz entendia e se levanta. Sai na merma direção das duas e só os cria ficam na mesa.
Respiro fundo e nem digo nada. Não devo satisfação da minha vida pra ninguém. Com a minha mulher eu resolvo depois...
Luara
Sento na mesinha redonda de madeira, olhando para a piscina com o brilho do sol refletindo. Meu cabelo cobre meus ombros, quando eu sento puxando a cadeira. Pego o garfo na minha mão, dou uma colherada e aproveito para continuar olhando uma bolsa linda que eu vi no app. Estava louca pra comprar ela esses dias e agora está em promoção.
Sami — Que foi gata? Brigou com o boy? _ Ela senta na cadeira ao meu lado e eu aperto meu olho direito, enrugando o nariz, não querendo dar confiança ao assunto.
— Eu tô afim de fala sobre. Tô aqui olhando a bolsa que eu vi ontem da LV. Olha pra você ver que linda... _ Mosto a bolsa branca de ombro, sem muito detalhe, mas é muito charmosa.
Sami — Carlho! Eu adorei... Olha essa dourada? Minha cara... _ Ela da zoom, observando os detalhes dela, enquanto eu vou comendo e Dadá se aproxima...
Dadá — Tão vendo o que? _ Ela senta do meu outro lado, cruzando as peras...
— Bolsa da LV. Tá na promoção naquela loja que eu te mostrei essa semana. Original...
Dadá — Deixa eu ver também. Tô precisando de uma... _ Ela diz pegando meu celular da Sami...
— Eu adorei essa branquinha e essa caramelo. Vou comprar as duas...
Sami — Pede essa dourada pra mim e essa pretinha. Tenho um colar que vai combinar com ela.
— Falando em colar... A senhora não mandou o meu até agora, querida...
Sami — Mó correria menina. Tô cheia de encomenda e tem hora que eu esqueço...
— Amanhã eu passo na sua casa e pego... _ Digo e dou mais uma garfada na minha comida.
Meu celular toca. Vejo a foto da minha irmã, ligando pelo w******p. Arqueio uma sobrancelha, pensando se compensa atender...
Dadá — Não vai atender ela?
— Se for urgente ela liga de novo. Agora eu tô comendo..._ Assim que eu digo, a ligação para e ela liga na sequência.
Deixo tocar mais duas vezes e resolvo atender.
Ligação
Eu: Oi
Lívia: Lu, tá tudo bem?
Eu: O que você quer?
Livia: Nossa, quanto amor... Eu te liguei pra saber como você está.
Eu: Livia, eu tô almoçando. Se adianta logo. O que você quer? Me ligou cinco vezes...
Lívia: É que eu preciso da sua ajuda...
Eu: O que você aprontou?
Livia: Hey! Como você sabe que foi eu que aprontei? Não pode ser a outra pessoa armando pra mim?
Eu: Seja objetiva Livia! Hoje eu tô sem paciência...
Livia: Nossa, estressada! Tá bom. Eu vou resumir pra você... Eu e a Denize montamos um salão juntas... Você sabe! Já faz um mês que tá indo bem, mas aonde nois abriu, a mulher do traficante aqui de heliópolis também abriu. Ela não tá deixando a gente trabalhar. Hoje o marido dela veio armado, mandou nois fecha o salão e ameaçou nos matar se a gente abrisse em qualquer lugar daqui.
Eu: Ameaçou te mata do nada? O que foi que você fez?
Livia: Eu não fiz nada. Ela que não gosta de mim. Talvez ficou com inveja da gente, não sei. Só sei que eu tô com medo e queria ir morar aí com você. Poder abrir um salão e morar por aí. Você deixa?
Eu: Se você não me contar a verdade, eu não te deixo passa nem da barricada. Tá achando que eu sou otária? Ninguém ameaça ninguém assim do nada. Você aprontou alguma coisa. Fala logo!
Livia: Aí que saco! Você podia ser menos esperta...
Eu: Você tem um minuto pra me convencer...
Livia: Ta bom, tá bom! Que saco! Eu vacilei e peguei o marido dela. Eu não sabia que ele era casado e agora que ela descobriu, tá querendo me mata. Eu tô morrendo de medo. Ela veio na porta do meu salão ontem, me mandou fechar e disse que vai me mata se eu não sumi até amanhã. Você sabe que eu sou cagona e não sei briga. Por favor, me ajuda mana. Eu tô morrendo de medo...
Aperto meu maxilar e olho para as duas me olhando. Respiro fundo, coço a cabeça e olho para a porta, por onde os meninos passam junto com o Marlon.
Lívia: Por favor irmãzinha. Quebra essa, vai. Ela jurou colocar fogo em mim dentro do salão. Eu não tive coragem nem de contar pra nossa mãe...
Eu: Como que você faz uma merda essa? Não saber que o cara é casado? Que mancada sua...
Livi: Eu acreditei nele, ué! Ele me disse que não tinha nada com ninguém. Eu não tive culpa. Ele que foi safado, veio atrás de mim mesmo sendo casado e com três filhos ainda...
Eu: Você é igual a sua mãe. Só me dão dor de cabeça... Quando não pede dinheiro, inventam problemas...
Lívia: Por favor irmã, deixa? Vai eu e a Denise. A gente vai montar nosso salão aí e fica com você.
Eu: Eu não vou paga nada pra te trazer 'pra cá. Se quer vim, vem que eu te deixo morar na casa da vó. Ainda tem coisas dela lá e vocês duas ficam morando lá por enquanto. Se você quer vim, pode vir, mas não pensa que eu vou facilitar as coisas pra você. Eu não vou bancar ninguém.
Livia: Eu sei, mas pra gente ir fica caro. Como que eu vou paga o flete pra leva nossas coisas na mudança? Faz pouco tempo que eu abri meu salão e eu já to devendo até a cabeça...
Eu: Não é possível Livia! Como você abre uma coisa que você não pode sustentar?
Livia: Ué, se você conseguiu, eu também posso! Você sabe que eu me inspiro em você. Minha irmãzinha linda... (Rolo meus olhos para a falsidade)
Eu: Não preciso da sua falsidade. Eu vou ver o que eu faço e depois te ligo.
Livia: Ahh... Eu sabia que podia contar com você, irmã. E não é falsidade. Você sabe que eu te amo...
Eu: Eu vou desligar. Tô almoçando agora...
Livia: tá bom! Beijos! Eu te amo linda...
Desligo a ligação começando a sentir dor de cabeça. Eu preferiria continuar com elas longe daqui, mas já que é assim eu vou dar uma chance... Se elas se perderem ou derem mancada, o problema vai ser dela, porque eu não tô nem aí. Papo reto! Sei muito bem que nenhuma das duas é santa. São duas piranhas e Livia pelo jeito puxou pra minha mãe. Pegando homem casado.
Dadá — Vai mesmo deixar elas virem pra cá? Tu vai arrumar problema...
— Vou nada. Se elas fizerem qualquer coisa errada, vão ter que assumir. Eu não sou mãe de ninguém. Quer vir, vem. Vou dar só a chance o resto elas que vão ter que correr atrás. Eu não vou servir ninguém...
Dadá — Com esse teu coração mole aí? Duvido! Tu só tem marra mermo. Basta um choro e tu vai logo pega elas no colo. _ Diz debochada e eu mostro o dedo do meio pra ela.
— Aí, cala a boca, mona! Hoje você pegou o dia pra me encher o saco. Vai pra merda, besta!
Dadá — Eu né? Tu que tá cheia de marra hoje. Nervosinha porque brigou com o marido e tá descontando em mim.
— Você que tá pedindo. Tá pior que ele pra me provocar... _ Digo rolando meus olhos e ela acha graça.
Dada — É maneiro te ver com essa cara de bolada! Eu amo te ver estressada... _ Ela me puxa pra um abraço me fazendo sorri.
— Idiota! _ Rolo meus olhos, sem graça e sigo o olhar um homem me observando.
Marlon está parado na minha direção, segurando sua latinha de cerveja co seus olhos concentrados em mim. É sempre assim. Ele me deixa chateada, eu o ignoro e ele não tira seus olhos de mim. Fica me perseguindo até me fazer ceder de alguma forma.
Se não tivesse ninguém aqui, ele já estaria atras de mim, me irritando até que fala com ele. Sempre assim. Ele me chateia e depois vem com a maior cara de pau, falando comigo, tanto me agradar com alguma coisa...
Marlon — Tava falando com quem? _ Ainda emburrada, olho para ele sem ânimo nenhum...
— Minha irmã e minha prima tão vindo pra cá. Ela me pediu pra deixar ela vir morar aqui e eu vou deixa ela morando na casa da minha avó por enquanto...
Marlon — Pra que isso? _ Dou de ombro e resolvo não dizer nada agora. Se ele souber, vai querer se intrometer. E eu não quero isso. Delas eu resolvo.
Sami — Vai no pagode amiga? _ Concordo com a mente um pouco distraída.
— vou sim. Só vou calçar uma sandália ou tênis e já era. Bom que eu tro o estresse... _ Olho para o bim e ele me encara. Desvio o olhar pegando um pedaço de carne e volto a ignorá-lo...