Mundo ficciónIniciar sesiónDovey desabou na cadeira em frente a Enid, suas pernas subitamente incapazes de sustentá-lo. Ela não se parecia em nada com a mulher com quem ele se casara, nem com a dona de casa destruída que descobrira sua traição cinco anos antes. Essa Enid era uma estranha — linda, poderosa e totalmente no controle.
"Não entendo", disse ele finalmente. "Como você construiu tudo isso?"
"Da mesma forma que construiu seu império." Ela voltou ao seu assento, com a postura impecável e a expressão indecifrável. "Trabalho duro, pensamento estratégico e disposição para fazer o que fosse preciso para vencer."
"Mas você não tinha nada quando saiu. Nem dinheiro, nem contatos..."
"Eu tinha algo pelo qual você nunca me deu crédito." Ela se inclinou ligeiramente para a frente. "Inteligência. E motivação. Você me deu toda a motivação que eu precisava."
"O acordo de divórcio..."
"Foi o suficiente para me ajudar a começar, mas não muito mais. Todo o resto, eu conquistei." Ela apertou um botão na mesa de conferências e uma tela desceu do teto. Gráficos e tabelas financeiras apareceram, mostrando a ascensão meteórica do Knuckles Consulting Group.
"Quatro anos", continuou ela. "Foi o tempo que levei para construir uma empresa forte o suficiente para competir com a sua. Mais um ano para superá-la completamente."
"Por que me contar isso? Por que se revelar?"
"Porque a destruição anônima não foi satisfatória o suficiente." Seus olhos verdes exibiam uma frieza que ele nunca vira antes. "Eu queria que você soubesse que fui eu. Eu queria que você entendesse que a mulher que você jogou fora voltou mais forte do que você jamais imaginou."
Dovey olhou fixamente para as projeções financeiras. A receita da sua empresa era o dobro da que a dele havia sido no auge. "O que você quer de mim?"
"Nada que você possa me dar. Eu já peguei o que queria."
"Meus clientes."
"Sua reputação. Sua segurança financeira. Sua paz de espírito." Ela sorriu, e seu sorriso era afiado como uma lâmina. "Tudo o que você tirou de mim."
"Eu nunca quis que—"
"Você nunca quis que eu revidasse." Ela se levantou e foi até as janelas. "Você esperava que eu desaparecesse discretamente, talvez enviasse cartas raivosas por meio do meu advogado, eventualmente seguisse em frente e esquecesse o que você fez com o legado da minha família."
"Enid, por favor—"
"Você sabe o que aconteceu com a empresa da Miriam depois que você deu a ela os bens da minha família?"
A mudança de assunto o pegou de surpresa. "O quê?"
"Ela a levou à falência em dezoito meses. Todos aqueles recursos que você roubou de mim, desperdiçados. A empresa do meu avô, dissolvida em partes e vendida para pagar suas dívidas."
A notícia o atingiu como um golpe físico. Ele sabia que Miriam estava com dificuldades, mas não havia percebido a extensão do fracasso dela. "Eu não sabia."
"Claro que não. Você estava muito ocupado tentando salvar sua própria reputação depois que nosso divórcio se tornou público." Ela se virou para encará-lo. "Mas eu sabia. Eu me dediquei a saber tudo sobre vocês dois."
"Onde ela está agora?"
"Irrelevante. Ela serviu ao seu propósito na minha vingança. Agora ela é apenas mais uma empresária fracassada em uma cidade cheia delas."
"E eu? Qual é o meu propósito na sua vingança?"
"Você é o evento principal." Ela apertou outro botão, e novos documentos apareceram na tela. "Estes são os contratos dos seus três principais clientes restantes. Todos eles têm cláusulas de rescisão que podem ser acionadas com aviso prévio de trinta dias."
O sangue dele congelou. "Você não pode estar falando sério."
"Vou almoçar com o CEO da Morrison Tech na semana que vem. Jantar com o Hendricks Group na semana seguinte. Até o final do mês, você não terá mais nenhum cliente importante."
"Isso destruirá tudo pelo que trabalhei."
"Sim." Sua voz era prática, como se estivesse falando sobre o clima. "Vai sim."
"Enid, por favor. Podemos resolver alguma coisa. Algum tipo de parceria, ou..."
"Não há nada para resolver. Isso não é uma negociação."
"E o que tínhamos? Nosso casamento significou alguma coisa."
"Nosso casamento significou tudo para mim." Pela primeira vez, emoção genuína transpareceu em sua voz. "É por isso que sua traição me machucou tanto."
A porta da sala de conferências se abriu e Patricia entrou carregando um tablet. "Sra. Knuckles-Adams, seu compromisso das 15h chegou."
"Já?" Enid olhou para o relógio. "Obrigada, Patricia. Estamos quase terminando."
Quando Patricia se virou para sair, uma vozinha chamou do corredor. "Mamãe? Posso entrar agora?"
O coração de Dovey parou. Uma voz infantil, clara e aguda. Os olhos de Enid se arregalaram no que poderia ser pânico, mas ela rapidamente se recompôs.
"Só um momento, querida", ela respondeu.
"Você tem um filho", sussurrou Dovey.
"Sim."
"Quantos anos?"
Enid hesitou por um momento a mais. "Isso não é problema seu.”
Mas a porta já estava se abrindo mais, e um garotinho entrou correndo no quarto. Parecia ter uns quatro anos, com cabelos escuros e olhos verdes inconfundivelmente familiares. Vestia um terno pequeno que combinava com o traje profissional da mãe e se movia com a energia confiante de uma criança acostumada a espaços adultos.
"Mamãe, terminei de ler", anunciou o menino, e então notou Dovey. "Ah. Olá."
Dovey não conseguia respirar. A criança era exatamente igual a ele naquela idade. O mesmo cabelo escuro, os mesmos olhos verdes, o mesmo queixo teimoso. Até a postura, com as mãos cruzadas atrás das costas, espelhava a postura de infância de Dovey.
"Maven", disse Enid cuidadosamente, "este é o Sr. Addams. Ele estava de saída."
Maven. O nome ficou registrado em algum lugar na mente chocada de Dovey, mas tudo o que ele conseguia focar era no rosto da criança. Seu rosto, miniaturizado e suavizado pela juventude e inocência.
"Quantos anos ele tem?" Dovey perguntou novamente, com a voz quase inaudível.
"Maven, vá esperar com Patricia", instruiu Enid. "Vamos ao parque em alguns minutos."
"Mas mamãe..."
"Agora, querida."
O menino saiu relutantemente, lançando olhares curiosos para Dovey. Quando a porta se fechou atrás dele, o silêncio na sala de conferências foi ensurdecedor.
"Quatro anos", disse Dovey. Não era uma pergunta.
Enid ergueu o queixo, desafiadora. "Sim."
"Ele é meu."
"Ele é meu."
"Foi por isso que você realmente voltou. Não por vingança. Por ele."
"Voltei pelos dois." Ela caminhou até sua cadeira e começou a reunir seus arquivos. "Maven é a coisa mais importante na minha vida. Tudo o que construí, tudo o que conquistei, foi por ele."
"Eu tenho um filho."
"Você não tem nada." Sua voz era fria como gelo. "Maven não sabe que você existe e nunca saberá."
"Você não pode mantê-lo longe de mim."
"Observe-me." Ela se dirigiu para a porta e então parou. "Ah, e Dovey? Se você tentar reivindicar direitos parentais ou interferir de alguma forma na vida do meu filho, destruirei o que sobrou da sua empresa tão completamente que você terá sorte se conseguir um emprego como gerente de uma cafeteria."
"Enid, por favor—"
Mas ela já tinha ido embora, deixando-o sozinho na sala de conferências com o peso de tudo o que havia perdido pressionando seu peito como uma pedra.
Ele tinha um filho. Um menino de quatro anos que se parecia exatamente com ele e nem sabia o próprio nome.
E a mulher que dera à luz aquele menino acabara de declarar guerra a tudo o que lhe restava.







