O vestido azul que eu havia escolhido parecia simples demais agora, sob o olhar de dezenas de pessoas que dançavam, riam e brindavam à beira-mar. A música alta invadia meus ouvidos e as luzes das tochas refletiam no sorriso de Leonel, que não me largava um segundo sequer.
— Você não bebeu quase nada — ele disse, aproximando-se com dois copos na mão. O cheiro do drink doce e forte invadiu minhas narinas. — Tome, experimenta este. É suco de maracujá com algo a mais. Você vai gostar.
Hesitei, pois eu não era de beber. Na faculdade, via colegas perdendo o controle em festas e sempre me prometi não ser assim. Mas os olhos de Leonel me desarmavam, desde sempre.
— Não sei se devo, Leonel…
— Ah, vai — ele insistiu, empurrando o copo em minha mão. — É uma festa, Cali! Você está de volta! Merece relaxar um pouco.
Seu sorriso era contagioso e aquela atmosfera de liberdade e vento nos cabelos me fez ceder. Dei um gole. Era doce... tão doce que quase não senti o gosto do álcool.
— Viu? Não é nada demais — ele riu, puxando minha mão livre para dançar.
Bebi mais um pouco, e depois mais um pouco. Leonel não parava de encher meu copo, e eu, embriagada pela noite, por sua presença, pela sensação de estar vivendo algo que só tinha em filmes, deixava.
Aos poucos, o mundo ao meu redor começou a ficar um pouco mais leve, mais difuso. As luzes se tornaram manchas brilhantes, as risadas ecoavam como se estivessem longe. Eu me sentia flutuando, e Leonel era minha âncora, sua mão sempre em meu braço, minha cintura, sempre me puxando de encontro ao seu corpo.
— Você está tão linda esta noite — ele sussurrou no meu ouvido, seu hálito quente contra minha pele. — Sabe quanto tempo eu esperei por isso?
Seus olhos estavam sérios agora, intensos. Diferentes.
— Por que você nunca me respondeu as mensagens? — perguntou, de repente. — Eu mandei várias, no primeiro ano que você partiu.
Eu havia visto aquelas mensagens. “Como você está?” “Sinto sua falta.” “Aqui não é o mesmo sem você.” Mas nunca respondi. Tinha medo de me iludir, de sofrer mais ainda, já que sempre fui ciente de que Leonel Harlow era só o meu sonho, não a minha realidade.
— Eu… estava focada nos estudos — menti, olhando para o mar escuro.
Ele pareceu não acreditar, mas não pressionou. Em vez disso, puxou-me para perto, tão perto que nossos narizes quase se tocaram.
— Eu sinto sua falta, Cali. De verdade.
E então, Leonel me beijou.
Seus lábios eram macios, insistentes e combinavam com a bebida doce que ele não parava de me dar. Eu não tinha certeza de quanto tempo esperei por aquele momento. Na verdade, sabia sim: desde os meus 13 anos. E foi por isto que me deixei levar. Leonel, o garoto dos meus sonhos de adolescente, estava me beijando sob as estrelas, na beira do mar. Era tudo que eu sempre quis, não era?
Mas algo dentro de mim gritava, como um alerta: você vai sofrer! Ele não é para você. Pertencem a mundos completamente diferentes.
Eu me afastei, tonta, confusa.
— Preciso… preciso de ar — gaguejei, segurando a cabeça que começava a latejar.
Leonel segurou meu braço.
— Vamos dar uma volta. Te levarei para um lugar mais calmo.
Ele não esperou minha resposta. Me puxou para longe da música, das luzes, das pessoas. Caminhamos pela areia fria, subindo em direção aos penhascos que cercavam a praia. Eu tropeçava vez ou outra e Leonel me segurava, com uma força que eu não lembrava que ele tinha.
— Para onde estamos indo? — perguntei, minha voz soando fraca, distante.
— Lá em cima a vista é incrível. Dá para ver a lua refletindo no mar. E o nascer do sol daqui a algumas horas… é espetacular. — Ele parou e olhou para mim. — Só nós dois.
Meu coração disparou. Não era medo, não exatamente. Era… apreensão. Uma sensação estranha de que as coisas estavam indo rápido demais.
— Leonel, acho que devíamos voltar.
— Por quê? — ele parou, segurando meus dois braços agora. — Você não está se divertindo?
— Estou, mas… — minhas palavras saíam embaralhadas, minha mente totalmente confusa. — A minha mãe… ela pode estar preocupada.
— Débora sabe que você está comigo. Está tudo bem. — Seu sorriso era confiante, mas seus olhos… eles tinham uma luz que eu não conhecia. Uma luz possessiva, que me assustou.
Subimos mais um pouco, até chegar a um platô no penhasco, isolado, com uma vista de tirar o fôlego para o mar negro e infinito. O barulho da festa era só um eco distante agora.
Leonel me puxou para perto dele de novo.
— Aqui, ninguém nos atrapalha.
Seus lábios encontraram os meus novamente, mas desta vez eram mais urgentes, menos românticos. Suas mãos subiram pelas minhas costas, puxando-me com mais força.
— Espera, Leonel… — tentei me soltar, mas ele era mais forte.
— Relaxa, Caliana. Só estou te mostrando o quanto perdemos neste tempo.
Seu beijo se tornou mais profundo, mais invasivo. Suas mãos começaram a explorar partes do meu corpo que não deveriam, e eu congelei.
— Pare — eu disse, mais firme desta vez, empurrando seu peito.
Leonel não parou. Seus dedos apertaram meu braço, com uma força que doeu.
— Não seja assim. Você quer isso tanto quanto eu.
— Não quero! Me solta! — gritei, mas minha voz parecia fraca, abafada pelo barulho das ondas lá embaixo.
Foi então que vi seus olhos mudarem. A doçura se foi, sendo substituída por uma frieza que me gelou por dentro.
— Você veio para a minha festa, bebeu comigo, me beijou… agora vai foder com outra pessoa? — sua voz era áspera, cheia de desprezo. — Não, Cali. Esta noite você é minha.
Ele me jogou na grama áspera do penhasco... e o meu mundo desabou.