A pedra e o silêncio

A grama úmida do penhasco grudou em minhas costas nuas e o ar frio da noite arrepiou minha pele exposta. Ele havia puxado meu vestido com uma força brutal, rasgando o tecido fino como se fosse papel. Meus seios, que nunca haviam sido vistos por homem algum, estavam agora à mercê dele... e suas mãos ásperas, nada gentis, os apertavam com uma posse que me envergonhava até a alma.

— Por favor, Leonel — minha voz saiu quebrada, um fio de som que se perdeu no vento que vinha do mar. — Não faça isso. Eu te imploro.

Ele riu, um som baixo e sem humor, enquanto seus dedos beliscavam meus mamilos com uma dor que me fez gritar de forma contida.

— Você sempre foi dramática, Cali — sussurrou, sua boca perto do meu ouvido. — Mas hoje você vai aprender a ser grata.

Sua mão livre abriu a própria bermuda e eu senti o peso de seu corpo contra o meu. Congelei de pavor. Leonel pôs os dedos na minha boceta, me penetrando de uma forma tão violenta e íntima que me destruía por dentro.

Eu, que sempre fui forte, calejada da vida, me vi chorando em silêncio, sabendo que não conseguiria lidar com a força dele, pois por ser mulher, era muito mais fraca e tinha o corpo mais frágil. A dor não era tão forte quanto a humilhação e o pavor de perder a virgindade daquela forma.

— Eu me guardei para você — confessei, em lágrimas, esperançosa pela piedade dele — A vida inteira, eu… pensei em você.

Leonel parou por um segundo, seus olhos monstruosos parecendo me avaliar. Por um instante, achei que talvez… ele fosse parar.

Mas então, seu sorriso voltou, muito mais cruel.

— Que honra — zombou. — Então vai ser perfeito.

Leonel mordeu meu ombro, uma marca de posse que doeu mais que a própria pele rasgada. Eu gemi de dor e desespero, me debatendo sob o peso de seu corpo. Ele riu, segurando meus pulsos com uma força desumana.

Minha mente fugiu para minha mãe.

— Fique longe do Leonel, Caliana. — Sua voz ecoou na minha memória. Eles não são como a gente. Os Harlow são bilionários e não tem amor à nada nem ninguém a não ser o dinheiro.

Agora eu entendia. E compreendia o verdadeiro motivo dela ter me mandado para tão longe. Era para me afastar de Leonel. Mamãe sabia o que ele era: um menino mimado que via as pessoas como brinquedos. Um ser horrível, que eu nunca fui capaz de notar, por estar apaixonada.

Naquele exato momento, eu era o brinquedo de Leonel... o brinquedo que ele usaria e jogaria fora, totalmente quebrado.

— Sua mãe devia ter te mantido longe — sussurrou, sua boca perto da minha, o hálito quente e embriagado. — Ela sabia que mais cedo ou mais tarde isso ia acontecer.

Foi então que eu a vi.

Lá em cima, no topo do caminho, uma silhueta parada: minha mãe. Eu não conseguia avistar seu rosto, mas o imaginava tomado de terror, assim como o meu.

Quando ela se aproximou, nossos olhos se encontraram. Nos dela, eu vi o mesmo pânico que sentia.

Leonel, sentindo minha rigidez, seguiu meu olhar.

— O que é… — ele começou a virar a cabeça.

Ele não terminou a frase.

Minha mãe não gritou. Não fez um som sequer. Ela simplesmente se moveu. Com uma força que eu nunca imaginei, ela levantou uma pedra grande e irregular. E correu em nossa direção. Seus passos foram silenciosos.

Leonel soltou-me, tentando se levantar, assustado:

— O que você pensa que está fazendo, sua louca? — ele gritou.

Mamãe não respondeu. Seu rosto estava tão duro quanto aquela pedra que ela tinha na mão.

Com um grunhido baixo, ela movimentou a pedra para cima e para baixo, atingindo Leonel.

O som foi horrível. E eu sabia que ecoaria para sempre na minha mente. Acertou na lateral da cabeça dele.

Os olhos arregalados de Leonel vidraram. Seu corpo desabou ao meu lado, pesado e quieto. Um fio de sangue escuro escorreu de sua cabeça.

O silêncio que se seguiu foi mais assustador que qualquer coisa. Só o vento e as ondas.

Eu fiquei paralisada, encarando o corpo imóvel de Leonel. A respiração dele… parecia não existir mais.

Minha mãe deixou a pedra cair. Seus braços tremiam. Ela olhou para as próprias mãos, e depois para mim.

— Cali — sussurrou. — Minha filha. Ele... te machucou?

Eu não conseguia responder. Não conseguia olhar para nada que não fosse Leonel... Morto.

Minha mãe se ajoelhou ao meu lado, suas mãos frias tocando meu rosto.

— Não olhe — ela pediu — Não olhe para ele.

Ela me puxou para um abraço e eu finalmente desabei. Meu corpo inteiro tremia.

— Matei ele — ela entrou em pânico — Oh, Deus, eu matei o filho de Caio Harlow!

Nós ficamos ali, no chão frio, as duas abraçadas ao corpo do homem que havíamos matado, enquanto o primeiro raio de sol começava a colorir o horizonte.

Um novo dia estava começando. E nossa vida, pelo menos a conhecíamos, havia acabado.

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