Narrado por Antonella Bellini
Os dias passavam como quem arrasta correntes. Cada minuto era uma lâmina silenciosa cortando por dentro. Dormir era raro, comer, mais ainda. Meu corpo se contorcia de ansiedade, e a cada manhã, eu desejava não abrir os olhos — porque quando o fazia, lembrava que estava prestes a deixar de ser eu mesma. Ou pior: de deixar de ser livre.
Vestir o vestido de noiva foi como vestir um luto. E, ainda assim, havia algo de poético em ver minha mãe chorar ao me ver nele. Aquele choro dizia mais do que qualquer palavra. Ela não sabia. Não imaginava que eu não subiria ao altar com o braço do meu pai entrelaçado ao meu. E tampouco sabia que aquele talvez não fosse o último momento em que eu ainda seria uma Bellini.
Para mim, era tortura. Uma tortura cortante, calada. Um grito sufocado pela renda fina e os brilhantes que cobriam meu corpo como uma mentira cara.
Dias antes, tentei conversar com meu pai. Eu precisava entender… por que ele parecia tão tranquilo entregando