Narrado por Antonella Bellini:
A água quente escorria pela louça, e o vapor subia lento, turvando meus pensamentos como névoa de fim de inverno. Mexia na espuma com os dedos, mas minha mente estava longe dali.
Um baile.
Não fazia sentido algum.
Enterramos Luca ontem. Ontem.
E agora Irina quer pendurar lustres, polvilhar ouro sobre as feridas e fingir que tudo está bem?
Minha mãe, sentada à mesa com uma xícara de chá entre as mãos, suspirava baixinho. Seus olhos estavam marcados pelo cansaço, pelas horas acordadas, pelo peso que só mães de família conhecem.
— Ela enlouqueceu. — sussurrei. — Um baile. Uma semana depois do enterro?
— Não é o momento — minha mãe disse, sem olhar para mim. — Mas a gente sabe... Irina nunca gostou do luto. Ela gosta de controle. E dar uma festa em meio ao caos é a forma dela de mostrar que ainda manda.
Soltei o pano de prato e me encostei à pia, cruzando os braços.
— Você acredita mesmo que Giovani vai voltar? Que vai aparecer de terno, sorridente, ao lado