A bruxa vendida ao bilionário
A bruxa vendida ao bilionário
Por: Olivia Saar
Capítulo 1: Propriedade

Maeve engoliu um gemido de dor quando a agulha perfurou a pele do seu dedo indicador, fazendo brotar sangue. Odiava sangue, mas não era por isso que sentia um embrulho no estômago ao ver as gotas pingarem sobre o papel do contrato. Aquela assinatura selava o fim da sua liberdade.

Mais cedo, ela saíra do pequeno apartamento que dividia com Liv perto do campus da faculdade e pensara em fugir. Podia tomar um ônibus na rodoviária e sumir em outra cidade, outro estado. Mas de que adiantaria? Todos sabiam qual era o preço a pagar por tentar escapar do destino reservado às bruxas do seu coven.

“Obedeça ou enlouqueça.”

Era assim que funcionava. Não havia escapatória, não havia misericórdia. Ao completar vinte e um anos, cada bruxa do coven era vendida. Como gado. Como arma. Como maldição disfarçada de dom.

Então, Maeve foi até o aeroporto de Boston e embarcou no voo para Austin que havia sido reservado para ela há duas semanas.

Conforme o papel absorvia o sangue, a pele de Maeve começou a esquentar ao redor dos pulsos, até que ardeu como se estivesse em brasa. Não havia fogo ali, mas as marcas de queimadura surgiram nos pulsos da bruxa, no formato de braceletes. Eram o símbolo da submissão, uma resposta à magia do contrato que ela assinara.

Do outro lado da mesa, seu comprador a encarava.

Maeve já tinha ouvido falar de Edgar Caldwell, o magnata do petróleo, dono de metade das terras do Texas e da Dakota e de quase todos os senadores do sul. Alto, grisalho, com olhos de aço. Ele vestia um terno escuro e um sorriso cruel. Ao lado dele, o jovem de terno cinza parecia feito de outra matéria.

Edgard deslizou o papel para o filho Asher Caldwell. Vinte e quatro anos, formado em Ciências Políticas pela Georgetown, herdeiro do império e recém-saído da faculdade. Fisicamente, ele se parecia com o pai, os ombros largos e a postura elegante, mas o cabelo ainda era escuro e, ao invés do aço, seus olhos transpareciam uma tempestade contida.

— Ela é sua. Só precisa assinar.

Maeve mantinha o queixo erguido.

Asher ignorou o papel e a garota e se virou para o pai.

— Minha? — perguntou, a voz transparecendo algo que tanto poderia ser indignação quanto incredulidade.

— Seu presente de formatura. A bruxa mais cara do leilão este ano. E toda sua.

— Ela é uma Morwen — uma das bruxas guardiãs complementou, como se a mera menção ao seu sobrenome explicasse o preço que Edgard pagara por ela.

Maeve Morwen, filha de Liliana Morwen, a bruxa que ajudara a eleger um dos presidentes do país. Mas Asher Caldwell não parecia ligar para isso. Ele a encarou em silêncio.

Maeve teve vontade de se levantar e sair correndo daquela sala, mas antes que seus músculos começassem a se mover, as queimaduras em seus pulsos voltaram a arder. O feitiço que a vinculava ao contrato sentiu sua intenção e a puniu de imediato. Uma dor súbita atravessou sua cabeça, como se milhares de vozes gritassem ao mesmo tempo dentro dela.

Ela cerrou as pálpebras e respirou fundo, usando toda a sua energia para se manter no mesmo lugar. Quando abriu os olhos, Asher ainda a encarava. Ele não parecia entusiasmado. Nem sequer curioso.

— Eu não pedi isso — disse ele, finalmente.

— Não importa o que você pediu. Importa o que você precisa. E você precisa entender que, neste mundo, informação é poder. Com ela, você vai saber quem mentiu, quem traiu, quem deve morrer.

Maeve prendeu a respiração. Ela sabia que devia se sujeitar ao seu comprador, mas ainda não tinha lhe ocorrido que isso poderia resultar na morte de alguém. Asher, por outro lado, não parecia surpreso com a linha de raciocínio do pai. A bruxa não conseguia ler os pensamentos do rapaz sem o tocar. O feitiço que dominava as bruxas do seu coven bloqueava tudo. Mas ela sentia algo. Um eco distante no peito. Uma vibração. Algo no rapaz. Algo quebrado.

— Você concorda com isso? — Asher perguntou.

Maeve hesitou. Uma parte dela queria negar, mas os braceletes invisíveis queimaram de novo, e a dor se acendeu na base da sua nuca. Ela sabia o que aconteceria caso se recusasse a se submeter.

— Eu não assinei? — questionou, com o pouco de dignidade que ainda lhe restava.

Asher franziu a testa.

— Isso não está certo.

— Claro que está — rebateu Edgar. — Ela assinou o contrato e está vinculada. Só precisa do seu sangue no papel para ativar o vínculo. O seu ou de qualquer outro. Se está tão preocupado assim com a bruxa, espere até descobrir de quem era o segundo maior lance no leilão. Você sabe como funciona.

Ele estendeu a agulha para o filho. Asher não a pegou.

— Eu não sou como você, pai.

— Você diz isso porque tem tudo de mão beijada e pode se dar ao luxo de bancar o bom moço. Quero ver essa sua moralidade se manter quando eu não estiver aqui pra salvar seu rabo.

O silêncio que se seguiu foi tão denso que parecia uma parede.

Maeve os observava como quem observa de dentro de uma jaula. Ela era o prêmio de um jogo de poder entre dois homens que não a conheciam. Não a viam. E, mesmo assim, Asher não pegou a agulha. Não ativou o vínculo.

Edgar bufou, atirou a agulha sobre a mesa e se levantou.

— Leve-a daqui — ordenou à bruxa guardiã. — O senador Thorne pode ficar com ela, se o imbecil do meu filho não a quer.

Os olhos de Asher se arregalaram ao ouvir o nome de Thorne.

— Não! — ele protestou. — Eu assino essa porcaria.

Antes que alguém pudesse dizer qualquer coisa, o rapaz pegou a agulha e marcou o papel com seu sangue.

Por um instante, Maeve achou que podia ouvir o coração de Asher batendo do outro lado da sala, como se o seu próprio coração estivesse se sintonizando ao ritmo do dele. As marcas nos pulsos da bruxa ganharam cor e brilharam em um tom de dourado, que aos poucos se atenuou até que houvesse apenas uma linha fina contornando seus braços, como uma tatuagem delicada.

— Está feito — a bruxa guardiã declarou.

Todos se levantaram, menos Maeve. Seu peito pesava tanto de tristeza que ela achou que não conseguiria se erguer da cadeira. A bruxa guardiã guardou o contrato em uma pasta e saiu da sala com Edgard. Asher andou até Maeve e parou à sua frente, as mãos nos bolsos da calça. Ela não ousava encará-lo.

— Eu não vou te machucar.

Ela arqueou uma sobrancelha e levantou finalmente o olhar.

— Você já me machucou.

A vergonha cruzou o rosto do rapaz. Asher tentou sustentar o olhar da bruxa, mas não conseguiu. Desistindo, ele se virou, caminhou até a porta e disse apenas:

— Venha.

Maeve hesitou e, mais uma vez, a dor gritou em sua mente, como um prego atravessando as têmporas.

Ela não tinha escolha. Pelo menos não quanto a segui-lo. Faria isso, mas não se daria por vencida. Asher agora era dono dos seus atos, mas nunca seria dono das suas vontades.

Maeve se levantou e caminhou atrás dele, com passos firmes e os punhos cerrados. Não por medo. Não por submissão. Mas porque algo nela sussurrava que aquilo não era o fim — era o começo.

E toda bruxa sabia: começos exigiam sangue.

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