Capítulo 6. A nova babá

      Eu não precisava que a nova babá me dissesse que eu era um lixo de pai — eu já sabia disso há muito tempo. Minha mãe e minha irmã sempre tentavam tocar no assunto de forma delicada, dizendo que eu deveria ser mais presente em casa, mais presente na vida das crianças. E, claro, havia minha sogra, que em toda oportunidade jogava na minha cara o quanto eu não merecia a guarda dos meus filhos, entre outras milhares de acusações.

        Mas a nova babá não tentou ser delicada. Ela simplesmente jogou na minha cara, de forma crua, que eu era um lixo de pai. Mesmo não usando essas palavras, me questionou como eu tinha coragem de dormir sabendo disso. Naquele momento, eu queria responder que não dormia. Que eu sabia que era um pai péssimo, e que dormir era a última coisa que eu fazia.

      Eu não passava mais de dois dias em casa, me trancava no escritório para me afogar no trabalho até a exaustão — e assim esquecer que eu matei a mãe dos meus filhos.

Porque essa é a verdade que eu não quero encarar.

Eu matei a Melissa.

      Em dias de chuva, ainda posso ouvir a voz dela dizendo que não queria ir à festa, que a Alice estava com febre. Mas eu insisti. Era a despedida do José, sócio da empresa e amigo da família há muitos anos, seria falta de consideração não comparecer.

     Ainda posso ver o momento em que Melissa se despediu dos gêmeos, que tinham apenas um ano, e do Davi, que tinha cinco e já estava dormindo. Ele não teve a oportunidade de ver a mãe uma última vez.

     Nunca chegamos à festa. No meio do caminho, a chuva piorou. Não consegui ver a tempo o carro que invadiu a contramão. A batida foi tão violenta que arrastou o carro para fora da pista. Quando acordei no hospital, descobri que Melissa não tinha sobrevivido. E eu? Eu, que estava ao volante, saí inteiro. Apenas com um dano no joelho, que foi quebrado ao ficar preso nas ferragens.

    Eu nunca deveria ter saído de casa naquela noite.

    Ao longo dos anos, cada vez que olho para eles, sou obrigado a ver a ausência da Melissa. Não sou capaz de sorrir para minha filha vestida de fada, rodopiando no pequeno vestido e abrindo as asas, porque me lembro de que quem deveria estar aqui era a mãe deles — não eu.

     E agora, olhando aquela menina me apontando o dedo sem medo, fiz o que faço de melhor: fugi.

Pensei até em demissão, mas não tive coragem. Até o momento, ela vinha tentando fazer um bom trabalho e não se intimidado com meus filhos. Não, eu não podia demitir a nova babá só porque ela era corajosa o suficiente para me falar umas verdades.

     Tomado por um novo sentimento de culpa, fiquei para o almoço — para alegria do Davi, que pediu desculpas de novo, muito arrependido e prometendo não fazer mais nada do tipo. Sofia se sentou entre os gêmeos e os ajudava a cortar a carne, sem me olhar. Parecia sem graça, e provavelmente estava com medo de ser demitida.

      Depois do almoço, voltei para o escritório, onde passei a tarde toda. Não houve mais janelas quebradas, e as crianças estavam silenciosas, o mais provável era que ainda estivessem assustadas com o que tinha acontecido.

     Minha mãe me ligou no fim da tarde para me convidar para um jantar com ela e Beatriz. Pensei em recusar. Há algum tempo, percebia que minha mãe tentava transformar minha amizade com Beatriz em algo mais, sem mencionar as vezes em que dizia que as crianças precisavam de uma mãe, e eu, de um novo amor.

Tento ser educado todas as vezes, recusando tanto a conversa quanto os convites. Mas, dessa vez, como estava próximo do aniversário do meu pai, e nesses momentos ela ficava mais emotiva, resolvi aceitar o jantar. Por isso, terminei meu trabalho e fui me arrumar.

Pela janela, pude ver as crianças brincando com a nova babá. Percebi que ela tinha criado um jogo de caça ao tesouro no quintal, transformando Davi em um capitão pirata. Eles riam e pareciam se divertir.

Era uma mulher bonita, com um sorriso bonito, espontâneo. Os longos cabelos cacheados estavam presos. Lembrei ainda do dia da entrevista, com os cabelos soltos, meio brava porque eu duvidei que ela fosse capaz de cuidar dos meus filhos. Por um breve momento, pensei que poderia largar tudo e me juntar a eles. Mas o sorriso congelado de Melissa, na foto pendurada na parede da sala, me lembrou que eu não era digno.

Quando terminei de me arrumar e desci as escadas, a babá estava lá, me esperando com um sorriso no rosto. Eu não queria pensar no quanto achava aquele sorriso bonito. E, quando me aproximei, tive novamente a impressão de conhecê-la de algum lugar, mas não lembrava de onde.

— Eu queria me desculpar pelo que aconteceu de manhã, tanto pela janela quebrada quanto pelo que eu disse. Eu não tenho o direito de me intrometer na sua vida ou dar qualquer tipo de opinião. Eu sei qual é o meu lugar e vou prestar mais atenção — ela disse com um tom de voz suave, sem qualquer traço de sarcasmo ou mágoa. Ela estava sendo sincera.

Por um momento, não soube o que responder. E antes que eu tivesse tempo de falar alguma coisa, a porta da sala se abriu e Beatriz entrou. Eu não sabia o que diabos ela estava fazendo ali, já que íamos nos encontrar no restaurante com a minha mãe.

— Olá, querido — ela disse, se aproximando e me cumprimentando com um beijo demorado demais no rosto.

Controlei o impulso de me afastar. Mas o mais estranho foi o impulso de me virar para a babá, que olhava para nós dois sem graça, e dizer que eu não tinha nada com Beatriz, que ela era apenas uma amiga.

Um pensamento que me surpreendeu, já que eu não prestava contas para ninguém.

— Eu estava na casa do meu tio resolvendo algumas coisas e pensei que podíamos ir juntos para o restaurante — disse Beatriz, parecendo pouco se importar com o fato de estar interrompendo uma conversa.

— Claro que podemos. Beatriz, essa é a Sofia, a nova babá dos meninos.

— Prazer. Nossa, os meninos são realmente uns pestinhas. Você deve ser a terceira babá este ano — disse Beatriz, rindo do próprio comentário.

Sofia ficou ainda mais sem graça. Disse que precisava ficar com as crianças e saiu, deixando no ar um aroma suave de flores — tão diferente do perfume forte que Beatriz estava usando.

Pela segunda vez no dia, senti o desejo de me juntar a ela e aos meus filhos.

Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP
Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP