Abaixei a cabeça diante do olhar firme de Regina. Ela estava parada na porta, como se fosse a guardiã daquele espaço. Pensei em sair, mas sua voz me interrompeu:
— Pode ficar, se quiser.
Hesitei. Mas ao ver que seus olhos não estavam duros, apenas observadores, voltei para o lugar, próxima da professora de Lívia. Roberta sorria enquanto olhava pai e filha ao piano, como se testemunhasse um pequeno milagre.
— É bom ver o senhor Leonardo tocando novamente — comentou, com uma ponta de entusiasmo.
— Ele não tocava há muito tempo? — perguntei baixo, sem desviar os olhos deles.
— Desde a morte da esposa.
Meu peito apertou. Olhei para Leonardo com mais atenção: seus dedos pressionavam as teclas com delicadeza, mas era nos olhos que o peso estava. Um sorriso contido, marejado, como se cada nota arrancasse lembranças que ele escondia de todos. Pensei em como deve ser doloroso não conseguir tocar nem mesmo por amor à filha.
Quando a última nota ecoou, Regina bateu palmas:
— Magnífico.
— Foi mar